Menem, o ex-presidente que pôs uma marca neoliberal na Argentina
Político, que morreu hoje aos 90 anos, governou o país por 10 anos como um líder peronista de ideologia liberal e estilo estridente
Internacional|Da AFP
O carismático Carlos Menem, falecido neste domingo (14) em Buenos Aires aos 90 anos, governou a Argentina por 10 anos na década de 1990 como um líder peronista de ideologia liberal e estilo estridente, em contraste com o perfil de seus últimos anos como senador.
Aos 90 anos, morre o ex-presidente da Argentina, Carlos Menem
Em 13 de junho de 2020, no meio da quarentena do coronavírus, ele foi hospitalizado em Buenos Aires por pneumonia complicada com histórico cardíaco. A partir de então, suas internações foram se tornando cada vez mais frequentes, por diversas enfermidades.
Nascido em 2 de julho de 1930 em uma família de imigrantes sírios, Menem se orgulhava de nunca ter perdido uma eleição.
“Para a Argentina significou algo muito forte”, disse o cientista político Carlos Fará. “Não só porque teve uma liderança excepcional que o levou a ser reeleito por 50% dos votos, mas porque foi o último líder de um peronismo totalmente unificado”, disse.
O peronismo, movimento político fundado por Juan Domingo Perón nos anos 1940, reuniu todas as correntes ideológicas da esquerda radical à extrema direita ao longo de sua história.
Presidente entre 1989 e 1999, 'El Turco' amava luxo, mulheres, esportes, dirigir carros Ferrari, relógios e vinho espumante.
Sua ideologia privatizante e liberal fez dele o queridinho do Fundo Monetário Internacional, dos investidores de Wall Street, dos republicanos dos EUA e do fórum de negócios de Davos.
Menem concorreu novamente à presidência em 2003 e venceu o primeiro turno eleitoral com 24% dos votos, ante 22% do peronista Néstor Kirchner.
No entanto, ele se recusou a participar da votação por temer uma avalanche de votos para seu rival, finalmente consagrado.
Formado em direito, Menem foi governador de sua província natal, La Rioja, em duas ocasiões, a primeira em 1973, embora tenha sido destituído do cargo por ocasião do golpe de 1976 e foi detido por dois anos.
Cicatrizes políticas
Menem promoveu a reforma da Constituição em 1994, que introduziu a reeleição presidencial imediata, além de abolir a obrigatoriedade de professar a religião católica para quem exerce a chefia de Estado.
Privatizou grande parte das empresas públicas e estabeleceu uma taxa de câmbio em paridade com o dólar, esquema que gerou abundância repentina, mas que explodiu em 2001, gerando a pior crise econômica da história do país.
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Ele também perdoou os maiores responsáveis pela última ditadura (1976-1983) que haviam sido processados e membros de organizações guerrilheiras.
Ele estava em prisão domiciliar preventiva em 2001 por um julgamento por contrabando de armas para a Croácia e o Equador, mas foi libertado semanas depois por decisão da Suprema Corte de Justiça e, posteriormente, absolvido por excesso de tempo em um caso que se arrastou por 25 anos.
A venda ilegal de armas ao Equador ocorreu apesar de a Argentina ter sido a fiadora da paz no confronto de 1995 entre Lima e Quito.
“Acabou sendo muito polêmico por causa da corrupção, pelo custo social de suas reformas e pelas consequências políticas”, disse Fara.
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A jurisdição o esquivou da prisão nos julgamentos que enfrentou, incluindo um por encobrir o ataque contra a mútua judia AMIA em 1994, que causou 85 mortes.
Em 2019, recebeu nova sentença de três anos por peculato, sem cumprir a pena de imunidade como senador.
Foi o único presidente latino-americano a aderir à aliança ocidental para participar da Guerra do Golfo (1990-91), com o despacho de dois navios.
“Temos relações carnais com os Estados Unidos”, justificou então.
Show business e divórcio
Nos anos 1990, no auge, Menem foi o criador de uma forma de socialização batizada de 'pizza com champanhe', com a qual o "novo rico" se identificou.
A residência presidencial foi aberta ao entretenimento e Menem recebeu a brasileira Xuxa, a modelo alemã Claudia Schiffer, os britânicos Rolling Stones, o mexicano Luis Miguel e os americanos Michael Jackson e Madonna, entre outros.
Mas a mesma residência foi fechada para sua própria mulher, Zulema Yoma, a quem despediu em 1990. Anos depois, casou-se com a ex-chilena Miss Universo Cecilia Bolocco, com quem teve um filho.
Com Yoma estavam Zulemita e Carlos, este último morto num acidente de helicóptero que nunca foi esclarecido.