Mulheres esterilizadas à força no Peru denunciam atraso da Justiça
Mulheres indígenas submetidas a laqueaduras forçadas reclamam de troca de juiz em processo contra ex-presidente Fujimori
Internacional|Do R7
Mulheres vítimas de esterilizações forçadas entre 1996 e 2000 no Peru, sob um programa do então presidente Alberto Fujimori, denunciaram nesta quarta-feira (17) novos obstáculos para o avanço deste emblemático processo, devido à alteração repentina do juiz responsável.
“Desde o começo somos maltratados”, disse Victoria Vigo, de 59 anos, esterilizada em Piura em 1996, uma das 1.317 demandantes nesta ação judicial iniciada em 2002, que já arquivada e reaberta várias vezes.
Quando as vítimas esperavam que o juiz Rafael Martínez Vargas emitisse seu veredicto preliminar sobre levar ou não os sete réus a julgamento criminal, entre eles Fujimori, o Judiciário surpreendentemente o retirou do caso e nomeou em seu lugar o juiz Littman Ramírez Delgado.
“Só queremos que esta tortura acabe”, disse a advogada María Ysabel Cedano, da ONG Demus, que deu uma entrevista coletiva para denunciar os novos atrasos junto com Victoria Vigo e a secretária executiva da Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos, Jennie Dador.
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Estima-se que cerca de 270 mil peruanas pobres, muitas delas indígenas que não falavam espanhol, foram submetidas a cirurgias de ligadura de trompas, como parte do Programa Nacional de Saúde Reprodutiva e Planejamento Familiar, implementado por Fujimori em seus últimos quatro anos no poder.
O objetivo era reduzir a taxa de natalidade para impulsionar o desenvolvimento econômico. Nessas cirurgias, morreram 18 mulheres, segundo dados oficiais.
O promotor Pablo Espinoza havia apresentado as acusações ao tribunal em março. E desde setembro, ao longo de oito audiências, o juiz Martínez vinha traçando os fundamentos da tão esperada resolução.
Agora, demandantes, advogados e ativistas temem que a mudança de juiz represente um atraso de vários meses. "Um juiz não pode resolver algo que não conhece", apontou Cedano.
Fujimori e seus colaboradores são denunciados como “autores indiretos de danos à vida e à saúde, lesões graves e violações graves dos direitos humanos”.
“Eles brincaram com as vidas e a saúde reprodutiva das pessoas, sem se importarem com os danos”, afirmou o promotor Espinoza em março.