Na contramão da maioria dos jovens, tiktokers fãs da realeza vão acompanhar a coroação de perto
Espanhola de 27 anos pretende fazer uma cobertura ao vivo do evento, diretamente de Londres, onde mora desde 2019
Internacional|Sofia Pilagallo, do R7
A monarquia britânica está em um momento de transição — e a opinião pública sobre o regime também. É o que mostra uma pesquisa do instituto YouGov encomendada pela rede de notícias BBC e divulgada em abril. Apesar de a maioria dos britânicos ainda apoiar a monarquia, a aprovação do regime vem caindo nos últimos anos, principalmente entre os jovens.
Em 2012, 78% dos britânicos apoiavam a monarquia, percentual que caiu para 58% em 2023. Hoje, enquanto 78% da população com 65 anos ou mais defende o regime, apenas 32% daqueles entre 18 e 24 anos acreditam que a instituição deva seguir em vigor no país. Mas, como em toda regra, há exceções.
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Segundo o jornal britânico The Guardian, existe um grupo de pessoas conhecido como royal watchers — literalmente, observadores da realeza. Jovens, em sua maioria, eles produzem conteúdo sobre a família real e pretendem fazer uma cobertura ao vivo da coroação do rei Charles 3º, no sábado (6), em Londres. Entre esses jovens, está a espanhola Isabel Martinez-Osorio, de 27 anos, que conversou com o R7.
Isabel conta que nasceu em Madri, capital da Espanha, mas se mudou para Londres em 2019, depois de terminar sua licenciatura em gestão e marketing e decidir começar uma nova vida. Ela escolheu a capital britânica como sua nova casa pelo fato de a metrópole reunir "pessoas de diversos tipos, países e culturas", nas palavras dela.
Um fator não determinante para a mudança, mas ressaltado por Isabel, é que, na Inglaterra, as pessoas de fato cultuam a família real. Membros da realeza britânica são como celebridades, que vivem sendo seguidas pelos paparazzi e estampam a capa dos tabloides. Esse fenômeno é próprio do Reino Unido e não acontece em outros países monárquicos, como a Espanha.
Em 8 de setembro de 2022, quando a rainha Elizabeth 2ª morreu, o país parou, e a jovem foi às ruas registrar suas impressões. Sem que ela soubesse, nascia naquele dia uma produtora de conteúdo.
"Quando a rainha morreu, eu saí às ruas e percebi que as pessoas estavam muito, muito tristes. Pensei: 'Como isso é possível?' Porque, na Espanha, não é como aqui em Londres. Aqui, as pessoas adoram a realeza e a monarquia. Então comecei a gravar tudo e postei um vídeo no TikTok", lembra Isabel.
"De repente, em um dia, o vídeo passou a ter 1 milhão, 2 milhões, 3 milhões… 21 milhões de visualizações. E jornais do mundo inteiro começaram a fazer posts sobre o meu vídeo", acrescenta.
Assista abaixo ao vídeo de Isabel que viralizou no TikTok:
Isabel afirma que ficou "superempolgada" com a repercussão do vídeo e começou a aprender tudo sobre a família real. Hoje, ela diz, em tom de brincadeira, que se considera quase uma "profissional" sobre o assunto e compartilha seu conteúdo com mais de 51 mil seguidores.
Para a jovem, é importante que os britânicos conheçam a história do Reino Unido, uma vez que a monarquia é uma instituição milenar, ainda mais antiga do que a própria Inglaterra. Relatos sugerem que a primeira formação real tenha se dado por volta do século 9º.
A relação dos britânicos com o rei Charles 3º
Isabel revela que vem recebendo comentários maldosos no TikTok com a proximidade da coroação do rei Charles 3º. Muitos internautas criticam o alto investimento na cerimônia e alegam que é "jogar dinheiro fora" — o evento deve custar aos cofres públicos até 100 milhões de libras esterlinas, o equivalente a R$ 625,3 milhões. Outros dizem que prefeririam "ver a tinta secar" (expressão usada no Reino Unido para algo tedioso) a acompanhar a coroação.
Uma pesquisa da YouGov divulgada neste ano aponta Charles como o sétimo membro da realeza mais popular — atrás da mãe, da nora Kate, do filho William, do pai, Philip, e até da irmã, Anne, e da sobrinha Zara, menos conhecidas dos súditos. Entre os britânicos da geração millennial, ele ocupa a 12ª posição.
Para Isabel, a baixa popularidade de Charles pode ser explicada, em parte, pela suposição de que os britânicos ainda não superaram a morte da rainha Elizabeth 2ª, por quem tinham profundo carinho. Outro fator são as diversas polêmicas em que o soberano se envolveu ao longo da vida, o que poderia justificar a antipatia dos britânicos por ele.
A mais conhecida delas, e possivelmente a que mais abalou a popularidade de Charles, foi o relacionamento extraconjugal que ele manteve com Camilla, agora rainha consorte, enquanto ainda era casado com a princesa Diana. Imagens de arquivo exibidas no documentário The Princess, lançado pela HBO em julho de 2022, ano do 25º aniversário da morte de Diana, sugerem que Charles tinha ciúme pelo fato de a princesa ser mais popular do que ele.
Cobertura da coroação
A cerimônia da coroação terá início por volta das 11h (horário local; 7h em Brasília), mas Isabel já estará pronta bem antes disso. Ela conta que quer acordar entre 4h e 5h para preparar tudo: "bicicleta, café da manhã, muita água e baterias". A jovem está se planejando para ir bem cedo ao Palácio de Buckingham, de onde a carruagem com Charles e Camilla vai partir às 6h20 rumo à Abadia de Westminster.
Na quarta-feira (3), o governo do Reino Unido informou que a coroação terá uma das "mais importantes operações de segurança" que o país já viu, com 11.500 agentes em serviço. O anúncio veio depois que um homem foi detido por portar uma mochila suspeita em frente ao Palácio de Buckingham, na terça-feira (2). A operação Orbe de Ouro, como foi nomeada, vai contar com atiradores especiais nos telhados, agentes à paisana, detectores de metal, cães farejadores e uma zona de exclusão aérea no centro da cidade.
Mesmo com todo esse aparato, Isabel garante que não vai desistir de obter conteúdos exclusivos e tentará ao máximo garantir uma visão privilegiada da coroação para mostrar a seus seguidores. O plano é fazer uma cobertura completa, com conteúdos pré, pós e durante o evento.