'Não há lugar seguro', dizem palestinos em fuga na Faixa de Gaza
ONU estima que a ofensiva terrestre israelense já deslocou 1,9 milhão de habitantes da Faixa de Gaza, o equivalente a mais de 75% da população residente no território
Internacional|Do R7
Com os seus poucos pertences empilhados em uma cadeira de rodas ou carroça, milhares de palestinos fugiram do centro da Faixa de Gaza para o sul do território nesta sexta-feira (22). Eles buscam escapar dos incessantes bombardeios israelenses na região.
Muitas pessoas foram evacuadas nos últimos dias para o campo de refugiados de Bureij, no centro de Gaza, à procura de um local seguro após terem sido deslocadas várias vezes desde que eclodiu a guerra entre Israel e o movimento terrorista Hamas, em 7 de outubro.
Para este novo êxodo, alguns usaram carroças puxadas por burros para levar seus pertences, houve famílias que fugiram com os seus bebês em carros e outras que ajudaram familiares idosos a caminhar no meio da multidão, carregados de cobertores para o inverno.
“Isto não é vida: sem água, comida, nada”, lamentou Wala al-Medini, uma mulher ferida em um atentado em sua casa na cidade de Gaza, que fugiu numa cadeira de rodas. “Minha filha morreu no meu colo e fui resgatada dos escombros três horas depois”, disse ela. "Nossa casa e tudo ao seu redor foram destruídos."
A mulher afirmou que não dorme bem há 40 noites. "Minha mensagem para o mundo é olhar para nós, ver-nos, ver como estamos morrendo. Por que vocês não prestam atenção?", perguntou ela. Os militares israelenses emitiram na sexta-feira uma ordem de evacuação para os residentes do campo de Bureij e instruíram-nos a seguir para Deir al-Balah, mais ao sul.
"Isto está errado"
Os bombardeios e a ofensiva terrestre israelense deslocaram 1,9 milhão de habitantes de Gaza, segundo dados da ONU, mais de três quartos (75%) da população deste pequeno território de 362 km².
A maioria dos hospitais de Gaza está fora de serviço e apenas nove funcionam parcialmente, informou a OMS (Organização Mundial da Saúde). No hospital de Aqsa, no centro de Gaza, os profissionais de saúde procuram espaço para os pacientes que chegam em macas provenientes de outro campo de refugiados, o de Al-Maghazi.
No centro de saúde lotado, os médicos trataram uma criança ferida no chão. Um bebê com sangue na testa gritava em um berço colocado no chão. Foram relatados confrontos entre soldados israelenses e terroristas do Hamas em algumas áreas da cidade de Gaza.
• Clique aqui e receba as notícias do R7 no seu WhatsApp
• Compartilhe esta notícia pelo WhatsApp
• Compartilhe esta notícia pelo Telegram
• Assine a newsletter R7 em Ponto
A guerra começou em 7 de outubro, quando terroristas do Hamas entraram em território israelense e lançaram um ataque sangrento que deixou 1.140 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em números oficiais das autoridades israelenses.
Naquele dia, militantes palestinos sequestraram cerca de 250 pessoas. Em resposta, Israel prometeu aniquilar o movimento islâmico palestino e lançou uma série de bombardeamentos, e depois iniciou uma ofensiva terrestre em Gaza.
O grupo terrorista Hamas, que governa esse território, afirma que esses ataques causaram 20.057 mortes, a maioria delas de mulheres e menores. No meio da destruição, as pessoas deslocadas tiveram de se refugiar em abrigos ou tendas e enfrentaram dificuldades para encontrar alimentos, combustível, água e medicamentos.
No campo de Bureij, Salem Yusef disse que após fugir da cidade de Gaza refugiou-se no hospital Al-Shifa, e depois passou um mês e meio no campo de refugiados de Nuseirat, no centro do território palestino.
Israel apelou aos residentes de Gaza para que se refugiassem em setores desse estreito território que afirma serem seguros, mas os bombardeamentos continuam a atingir essas áreas. Yusef, no entanto, hesita em continuar seu êxodo para Rafah. “Eles nos dizem que é seguro, mas não há lugar seguro”, disse.
A sua esperança é que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, “pare com os crimes e assassinatos de inocentes e deixe de afirmar que atingiu posições [das Brigadas Ezzedin al-Qasam, o braço armado do Hamas], quando não consegue nem sequer alcançá-las”. “Também espero que ele pare de matar crianças inocentes e de destruir casas”, disse ele. “Isso está errado, tudo o que Netanyahu faz é errado”, completou.