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'Não matei gente como você, só nos guetos', diz serial killer a jornalista

Condenado por ter matado três mulheres na Califórnia, Samuel Little confessou outras dezenas de assassinatos em diversos estados

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Ao longo de décadas, Samuel Little assassinou dezenas de mulheres
Ao longo de décadas, Samuel Little assassinou dezenas de mulheres

A norte-americana Jillian Lauren se tornou a única jornalista a entrevistar Samuel Little. Durante meses, ela foi à cadeia onde ele cumpria pena, em Los Angeles.

Aos 78 anos, sentado em uma cadeira de rodas e sofrendo com efeitos do diabetes, Samuel Little pareceria inofensivo, se não estivesse cumprindo três sentenças de prisão perpétua em uma penitenciária em Ector, no Texas.

Little foi condenado em 2014 por ter matado três mulheres em Los Angeles, na década de 1980. Graças aos esforços de um investigador e da jornalista, ele confessou mais de 90 assassinatos e pode ser o serial killer mais letal da história dos EUA.

Juntos, Lauren e um agente do Texas chamado James Holland foram extraindo de Little nomes, datas e locais das dezenas de assassinatos que ele cometeu. Em troca da transferência para uma cadeia melhor, no Texas, ele colaborou.


Até dezembro de 2018, Little já havia confessado 93 assassinatos, dos quais a polícia conseguiu confirmar 39. Com a saúde frágil, ainda não se sabe por quantos crimes ele será de fato responsabilizado em vida.

Como esse homem, com dezenas de passagens pela polícia em pelo menos 16 estados norte-americanos, passou décadas impunes por tantos crimes hediondos? Essa é uma pergunta que só começou a ser respondida no ano passado.


"Nunca matei ninguém como você"

Em relato publicado na revista online The Cut, a jornalista descreveu como obteve a aproximação e a confissão. 


"Por razões em parte profissional e em parte pessoal — eu já havia conseguido confissões de homens violentos e envolvidos com o tráfico e tive sorte em conseguir confissões relativas —, eu decidi tentar conversar com Little. Ainda desconhecido para mim, um agente do Texas chamado James Holland, apaixonado por casos já arquivados, também estava tentando tirar a confissão de Little. Nós dois acabariamos convergindo para o mesmo interesse pouco tempo depois", escreveu.

Lauren disse que, enquanto aguardava pela permissão para a visita, trocou cartas com Little, que continuava jurando inocência. "A primeira vez que fui vê-lo, só levei um pequena sacola plástica de moedas de 25 centavos de dólar, que usei para comprar salgadinhos e doces. Eu as coloquei na mesa entre a gente quando eu sentei."

Segundo ela, Little estava sentado em uma cadeira de rodas, sofria de diabetes e tinha problemas no coração — uma cicatriz de uma cirurgia recente transparecia pela camiseta azul com as iniciais CDC que vestia. Ainda usava um par de botas ortopédicas para um dedo que estava prestes a amputar. 

"Você!", disse o homem. "Você é o anjo que veio me visitar do céu. Deus sabia que eu estava sozinho e te mandou. Você quer uma história? Ah, eu tenho histórias." E contou sua vida, sem mencionar os crimes.

E contou que ninguém podia entender o quanto de "amor" havia em seu coração por todas as mulher que ele matou, suas "babies". Dia após dia, após a primeira visita, ele desenhava suas "babies" de memória quando tinha um caneta em mãos.

"Como você se sentia quando as matava?", Lauren perguntou.

"Ah, eu me sentia no céu", disse. "Sentia como se estivesse na cama com o Marilyn Mon-roe [grafia de Lauren]."

Quando ele contava sobre os assassinatos, diz Lauren, ele levantava como uma criança na manhã de Natal, ficava animado e descrevia uma cena eleaborada. Abraçava a si mesmo e dava beijos imaginários.

"Eu tenho os meus dias duros, você sabe", disse Lauren ao assassino. "E me sinto grata por não encontrar alguém como você em dias como esses."

"Mas eu nunca matei ninguém tão inteligente como você", ele dizia. "Eu nunca matei senadores ou governantes ou jornalistas espertos de Nova York. Nada disso. Se matasse você, estaria nos noticiários no dia seguinte. E fiquei nos guetos."

Vítimas à margem da sociedade

Basicamente, Samuel Little passou sua vida adulta cometendo delitos de vários tamanhos e matando mulheres à margem da sociedade: prostitutas que trabalhavam em ruas isoladas, viciadas em drogas, outras em situação de pleno abandono.

Foi somente com a melhoria de técnicas de identificação de DNA, nos últimos anos, que ele finalmente foi preso, graças à atuação de um departamento da polícia de Los Angeles dedicado a elucidar casos não-solucionados.

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Em abril de 2012, os agentes descobriram que amostras de DNA encontradas nas cenas das mortes de Audrey Nelson e Guadalupe Apodaca, assassinadas em julho e agosto de 1989, respectivamente, eram compatíveis com o material genético de Samuel Little.

Ele havia fornecido uma amostra durante um processo de agressão em San Diego, em 1980. Com o resultado positivo, a polícia passou a caçar registros criminais de Little. O que eles descobriram foi aterrador.

Décadas de impunidade

O primeiro crime que ele cometeu foi um roubo de bicicleta em Ohio, no ano de 1956, aos 16. Depois, havia registros em Maryland, Flórida, Maine, Connecticut, Oregon, Colorado, Pensilvânia, New Jersey, Arizona, Georgia, Illinois, Missouri, California, entre outros.

Por crimes que incluíam roubo, furto, invasão de propriedade, agressão, assalto a mão armada, agressão a policial, porte de drogas, dirigir embriagado, resistir à prisão, estupro e tentativa de assassinato, ele cumpriu penas que não totalizavam 10 anos.

Penas brandas

Por ter agredido, mordido, estrangulado e estuprado Pamela Smith — que conseguiu escapar com vida — no estado do Missouri, em 1976, Little foi condenado a três meses de prisão.

Em setembro de 1982, ele foi julgado pelo assassinato de Patricia Mount de 26 anos, na Flórida, mas absolvido por falta de provas. 

No mês seguinte, Little estava novamente no banco dos réus, acusado do assassinato de Melinda LaPree, no Mississipi. Outras duas mulheres, Hilda Nelson e Leila McClain, ambas agredidas e violentadas por ele, foram testemunhas. Novamente, ele foi absolvido.

Ele foi preso em outubro de 1984 pela polícia de San Diego, enquanto estrangulava Tonya Jackson dentro de seu carro. No mês anterior, outra mulher, Laurie Barros, tinha escapado da morte porque fingiu ter morrido nas mãos dele.

Julgado por ambos os casos em conjunto, ele pegou apenas 4 anos de prisão por agressão qualificada. Cumpriu um ano e meio e saiu em liberdade condicional.

Preso no Kentucky

Sem endereço fixo, emprego ou qualquer registro formal, Little ainda permaneceu em liberdade mais algum tempo, até que a polícia da Califórnia descobriu um gasto em um cartão de débito no Kentucky. Ele foi preso e levado para a Califórnia.

Com a confirmação de que seu DNA estava entre as provas colhidas na cena da morte de outra mulher, Carol Alford, em 1987, ele finalmente foi julgado da maneira devida e condenado a três sentenças de prisão perpétua.

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