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Naruhito se torna imperador e dá início a Era Reiwa no Japão

Akihito abdicou trono a favor de filho mais velho em 2017, se tornando o primeiro a deixar cargo ainda em vida em 200 anos e encerrou era Heisei

Internacional|Giovanna Orlando, do R7

Naruhito (à esquerda) recebe o título de imperador após abdicação do pai, Akihito
Naruhito (à esquerda) recebe o título de imperador após abdicação do pai, Akihito

O Japão amanheceu em uma nova era nesta quarta-feira (1º). Pela primeira vez em 200 anos, um imperador renunciou ao Trono de Crisântemo. O agora imperador emérito Akihito deixou a posição aos 83 anos de idade, sendo 30 comandando a Era Heisei. O filho mais velho, Naruhito, se tornou imperador e deu início a Era Reiwa.

Segundo a tradição japonesa, o começo de uma nova era é como um recomeço para os cidadãos. Por isso, o nome escolhido deve respeitar algumas regras, como ser formado por dois ideogramas que trazem um significado positivo e de esperança para o povo.

A antiga era, Heisei, significava “a paz prevalece em todas as partes”. Reiwa não tem um significado literal para o português, mas os ideogramas podem ser interpretados como “agradável”, “ordem”, “harmonia” ou “paz”. Esta é a 251ª Era na história do Japão.

O nome da nova era foge da tradição e não tem referência na literatura chinesa, de onde o império tem origem. O nome Reiwa usou como inspiração uma coletânea clássica da poesia japonesa, a Manyoshu, do século 8.


“Essa é a primeira vez que se usa um termo procedente de textos japoneses e não chineses”, contou o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, na coletiva de imprensa realizada para divulgar o nome Reiwa, no dia 1 de abril.

“O nome dessa nova era foi muito discutido entre estudiosos, que interpretaram isso como uma independência e uma libertação da cultura chinesa”, explica Hidemitsu Miyamura, estudioso da história e cultura do Japão e membro da Associação Nipo-brasileira de Letras e Artes.


O nome não é escolhido pelo novo imperador e nem pelo antecessor, mas sim pelo governo japonês. Uma equipe de intelectuais é responsável por discutir e votar a decisão do nome da nova era.

Renúncia e lei imperial


Akihito abdicou do trono na terça-feira (30) a favor do filho Naruhito
Akihito abdicou do trono na terça-feira (30) a favor do filho Naruhito

A figura do imperador ainda é muito importante no Japão. Até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o imperador tomava decisões políticas e comandava o país. Agora, o imperador não pode mais influenciar a vida política e o Japão é governado pelo primeiro-ministro, Shinzo Abe.

“A figura do imperador é muito diferente do que foi no passado. Agora, o papel do imperador é ser uma figura simbólica, mas antes ele era visto como uma figura divina na mitologia antiga. Ele não tem mais voz dentro do governo, mas ainda é a figura principal do xintoísmo [principal religião no Japão]”, explica Miyamura.

O Imperador Akihito pediu para deixar o trono em 2016, alegando que a idade avançada o incapacitava de manter seu papel como símbolo da nação e da unidade do povo. Porém, a lei da Casa Imperial japonesa não permite que um imperador abandone o trono em vida.

“Isso acontecia antigamente, quando um imperador abdicava em favor de um filhou ou deixava o governo na mão de um grupo de notáveis. Às vezes, o imperador não era apto para governar, apesar de ter direito ao posto”, diz o especialista.

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Em maio de 2017, o governo do Japão autorizou a primeira abdicação em dois séculos. No entanto, a lei só é válida para Akihito. Naruhito e os próximos imperadores não poderão usar da autorização dada ao pai para renunciar em vida e a tradição volta ao normal. “No conjunto de leis criadas depois da guerra não estava prevista a abdicação”, explica.

Também na lei foi decidido que Akihito e sua esposa, Michiko, serão chamados em japonês pelas expressões “imperador emérito” e “imperatriz emérita”. Porém, não foi mencionada no projeto de abdicação a intenção do monarca de deixar o trono em vida.

O desejo de Akihito de renunciar foi tratado como vontade de não realizar mais a parte pesada do trabalho, como assinar pilhas de documentos, comparecer a eventos e realizar muitas viagens por ano. Ele também deu a entender que o sistema de regência não funcionava para ele, já que manteria o título de imperador mesmo sem exercer todas as funções exigidas pelo posto.

Abdicações de imperadores são raras na história do Japão. A última aconteceu em 1817, com o imperador Kokaku, segundo o jornal britânico The Guardian. Na mitologia local, as eras imperiais começaram a 2600 anos atrás, e o agora o Imperador Naruhito é o 126º a chegar ao trono.

O fim da era Heisei e o começo da Reiwa

Mesmo marcada por desastres naturais, como o terremoto de Kobe, em 1995, o tsunami e a explosão de Fukushima, em 2011, a era Heisei também é vista como uma época de aproximação do imperador com a população.

“Depois da guerra ninguém sabia o que era um imperador simbólico. Akihito deu forma do que é ser um imperador símbolo, além de ter participado com rigor dos rituais xintoístas, e ele procurou socorrer e passar conforto ao povo depois das catástrofes”, avalia Miyamura. Para ele, a Era Heisei vai ser lembrada de forma positiva. “Essa foi uma era em que o povo conseguiu sentir conforto ao olhar para a figura do imperador e da imperatriz em várias ocasiões”.

Abe em cerimônia para divulgar nome da era Reiwa
Abe em cerimônia para divulgar nome da era Reiwa

A Era Heisei enfrentou diversos problemas deixados pela era anterior, a Showa, e agora analistas avaliam o que a Reiwa vai herdar da antecessora, como a presença nas redes sociais e uma mudança no perfil do imperador.

Enquanto Akihito era mais reservado, o imperador Naruhito é intelectual e já marcou presença em conferências internacionais. Sua esposa, a imperatriz Masako, estudou na prestigiada Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e tem uma base para ajudar o marido no trabalho diplomático.

“Espera-se que ela tenha uma grande influência nessa fase. Além de usarem a tecnologia e as redes sociais para ajudar o novo imperador e a imperatriz a se aproximarem do povo e imprimirem uma modernidade nessas relações”, avalia.

O uso das eras no dia-a-dia

Além de dar uma nova esperança aos japoneses, os nomes imperiais também são usados no dia a dia. O nome da era aparece em documentos oficiais, moedas, calendários e jornais. Mesmo com a mudança no meio do ano, o primeiro ano da Era Reiwa vai datar de 1 de maio até o dia 31 de dezembro de 2019.

Hoje, cerca de dois terços dos japoneses usam o “gengo”, o nome japonês para a era, no dia a dia, misturando o uso com o calendário ocidental ou não.

Segundo uma pesquisa feito pelo jornal japonês Mainichi, em fevereiro de 2019, um terço da população prefere usar somente o calendário imperial, comparado com 64% em 1989, quando a Era Heisei começou.

Outros 34% dos leitores do jornal afirmaram que usam tanto o calendário gengo quanto o calendário ocidental, enquanto 25% disse usar majoritariamente o calendário cristão, um aumento de 10% comparado a 1989. Apesar do uso contínuo, a popularidade do calendário de eras no Japão está caindo.

O começo das eras imperiais

O Japão adotou o calendário imperial da China, em 1868, durante a Era Meiji, que começou a tradição de “um imperador, uma era”. Antes, era comum imperadores mudarem o nome das fases no meio do reinado depois de algum desastre ou acontecimento trágico, para renovar o espírito dos japoneses.

Depois da fase Meiji, que acabou em 1912, a modernidade já teve outras quatro eras: Taisho (1912-1926), Showa (1926-1989), Heisei (1989-2019) e agora a Reiwa. Normalmente, os japoneses se referem aos imperadores pelo nome da era, e não pelo próprio nome.

Cada fase é lembrada pelos japoneses por algum momento marcante. A era Meiji (traduzida como Regra Iluminada), que marca a transição do século 19 para o 20, é lembrada pela modernização inspirada nos modelos ocidentais. A era Showa (ou Harmonia Iluminada), é lembrada pelo crescimento e desenvolvimento econômico do Japão, o militarismo e a Segunda Guerra Mundial.

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