Nova onda de Covid-19 preocupa brasileiras que vivem na Alemanha
País enfrenta aumento de casos da doença e governo analisa vacinação obrigatória em meio à circulação de variante Ômicron
Internacional|Letícia Sepúlveda, do R7
A Alemanha enfrenta a quarta onda da pandemia de Covid-19. O país vacinou 57,2 milhões de pessoas, o equivalente a 68,8% da população. Apesar de ser um número alto, está abaixo da média em outras nações europeias.
Na última quinta-feira (2), as autoridades anunciaram o aumento das restrições para os não vacinados, enquanto avalia propor a vacinação obrigatória. As novas medidas restringem o acesso das pessoas que ainda não foram imunizadas a todos os comércios, exceto lojas de produtos básicos.
Também na última quinta-feira, o país registrou o primeiro caso da variante Ômicron do coronavírus na capital, Berlim. Outros casos da nova cepa foram descobertos nos estados de Baden-Wuerttemberg e da Bavária.
O governo alemão estava otimista com o controle da pandemia durante o verão, que vai de junho a setembro no hemisfério norte, até que o número de infectados começou a aumentar rapidamente em novembro. No último dia 25, o país registrou 75.961 novos casos, número que é o atual recorde de infectados pelo novo coronavírus em um único dia no país, segundo o Instituto Robert Koch.
A brasileira Vitória Nery mora em Berlim desde maio de 2019 e conta que estava esperançosa durante os meses em que a doença estava sob controle. “Era possível viajar, ver mais pessoas e ir ao cinema. O verão é um período muito esperançoso aqui, especialmente porque na maior parte do ano faz muito frio. São três meses muito intensos, porque as pessoas aproveitam para sair, ainda mais neste ano, que já tínhamos as vacinas.”
“Mas com os novos casos, faz poucas semanas que as restrições voltaram. Agora, precisamos mostrar com frequência o certificado de vacinação e, em muitos lugares, como a academia que meu namorado frequenta, é preciso mostrar o comprovante de vacinação e um teste negativo para o vírus”, completa.
Vitória conta que na Alemanha existem centros de testagem gratuitos espalhados pela cidade, que voltaram a reabrir com o aumento dos casos de Covid-19.
Gabriela Sobral, também brasileira, morou na Alemanha entre 2009 e 2015, e voltou para o país em julho de 2018, para a cidade de Stuttgart.
Ela conseguiu até realizar seu casamento em 25 de junho deste ano, porque poucos dias antes as medidas de restrição por causa da pandemia foram flexibilizadas. “Eu não tinha certeza se o evento poderia acontecer, mesmo com poucas pessoas e apenas com vacinados, mas depois que as restrições caíram, meus convidados conseguiram vir.”
“No fim de agosto as restrições estavam bem mais leves, principalmente em áreas internas. Agora, essa situação mudou. Muitos lugares só aceitam a entrada de pessoas vacinadas ou recuperadas da doença, além da testagem, inclusive nos transportes públicos", explica.
Gabriela está grávida de cinco meses e em meio à onda de contágios se sente insegura. "Eu me sinto um pouco vulnerável por causa da minha gravidez. Eu sei que os casos aumentaram e consigo trabalhar de casa apenas uma vez na semana."
Vacinação
A Alemanha contabilizou mais de 100 mil mortos por causa da Covid-19 desde o começo da pandemia e aposta na vacinação para voltar a reduzir as infecções.
Em Berlim, onde Vitória mora, 69,5% da população está completa vacinada. Já em Stuttgart, cidade onde Gabriela vive, a taxa é de 62%.
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"O governo mandou uma carta dizendo que a gente seria avisado quando fosse nossa vez de tomar a vacina, mas essa carta nunca chegou. Era um esquema de 'disse me disse' e de anúncios espalhados pela cidade", diz Gabriela.
"Consegui me vacinar em uma xepa da vacina no dia 1º de abril. Aqui a priorização por idade só funcionou até a faixa dos 60 anos, depois foi um 'Deus nos acuda'", completa.
Vitória também conta que houve desorganização em Berlim: "A vacinação no Brasil foi muito mais organizada do que aqui. Tive muita dificuldade para agendar a minha vacinação".
As brasileiras já conseguiram agendar a data da terceira dose. No fim de outubro, o Ministério da Saúde alemão começou a oferecer a dose de reforço a toda a população em meio ao aumento dos contágios.
A chanceler Angela Merkel, que deverá deixar o cargo em breve para seu sucessor Olaf Scholz, reconheceu que a situação da Covid-19 no país é dramática. O governo ainda estuda a proposta de tornar a vacinação obrigatória, como fez a Áustria.
"Acharia ótimo se o governo tomasse essa medida, mas não sei como a população receberia essa obrigatoriedade, porque muitas pessoas, até os mais moderados, acham que essa proposta é uma invasão muito grande", explica Gabriela.