A pandemia de coronavírus vai aumentar o número de pobres e desempregados na América Latina, mas também aumentará a fortuna de ricaços da região, segundo um relatório divulgado nesta segunda-feira (27) pela organização humanitária Oxfam.
De acordo com a rede global de organizações não-governamentais, pelo menos 73 dos bilionários que existem na América Latina e no Caribe aumentaram sua fortuna em um total de US$ 48,2 bilhões, cerca de R$ 222 bilhões, entre março e junho, período em que a covid-19 atacou intensamente a região.
Essa quantia, segundo a Oxfam, "equivale a um terço do total de recursos previsto nos pacotes de estímulo econômico adotados por todos os países da região" para ajudar os trabalhadores mais pobres, desempregados e informais durante a pandemia.
O relatório conclui inequivocamente que "os bilionários nesta parte do mundo permanecem imunes à crise econômica causada pela pandemia de coronavírus em uma das regiões mais desiguais do planeta".
O fenômeno tem sido particularmente vertiginoso no Brasil, o segundo país mais afetado pela pandemia no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e que, segundo os últimos balanços oficiais, já soma mais de 87 mil mortes e 2,4 milhões de infecções.
No total, segundo a Oxfam, existem 42 bilionários brasileiros que aumentaram sua fortuna já em um total de US$ 34 bilhões, cerca de R$ 176 bilhões, desde março, enquanto seus ativos líquidos combinados aumentaram de R$ 639 bilhões para R$ 815 bilhões no início de julho.
Uma pandemia que não é igual para todos
Para medir a evolução das grandes fortunas, a Oxfam se baseou em dados que são publicados pela revista Forbes, especializada em finanças, publicada desde 1917 nos Estados Unidos e que desde 1987 publica a conhecida lista de bilionários.
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"O coronavírus não é o mesmo para todos. Enquanto a maioria da população corre o risco de ser contaminada para não perder o emprego ou comprar alimentos, os bilionários não precisam se preocupar", disse a diretora da Oxfam Brasil, Katia Maia, em nota.
Os dados do relatório, acrescentou, mostram que os mais ricos "estão em outro mundo, o de privilégios e fortunas que crescem em meio ao que talvez seja a maior crise econômica, social e de saúde do planeta durante o século passado. "
O outro lado dessa moeda, que também mostra que oito novos milionários surgiram na América Latina e no Caribe desde março passado. Enquanto isso, várias organizações estimam que 52 milhões de pessoas retornarão à pobreza na região, além de outros 40 milhões para eles se juntarão às fileiras dos desempregados.
O caso do Brasil
Como exemplo da multiplicação de fortunas, o Brasil também é o país em que mais a miséria e o desemprego vão aumentar, em parte por que o país tem cerca de 210 milhões de habitantes, mas também pela desigualdade social aguda.
O relatório cita que, antes da pandemia, o Brasil tinha cerca de 12 milhões de desempregados e 40 milhões de trabalhadores informais "sem nenhuma proteção social".
Segundo vários estudos, a taxa de desemprego pode aumentar até quatro vezes até o final do ano, entre outros motivos, porque 600 mil empresas já fecharam permanentemente no Brasil devido à pandemia.
"São dados assustadores. Vemos um pequeno grupo de milionários vencer como nunca em uma das regiões mais desiguais do mundo" e também como "no Brasil e em outros países da América Latina e Caribe, milhões de pessoas lutam para manter a cabeça acima da água". Maia indicou.
Quem paga a conta?
A pergunta que dá título ao relatório da Oxfam é respondida no próprio documento, o que é contundente no sentido de que os mais ricos são os que mais devem contribuir para tentar minimizar o desastre.
De acordo com cálculos feitos pela Oxfam com base em dados oficiais, a queda na receita tributária nos países da América Latina e do Caribe em 2020 será equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representa uma queda de 113 milhões dólares, cerca de R$ 587 milhões, e representa 59% de todo o investimento público regional em saúde.
Diante desse cenário de colapso tributário, que pode levar ao "desmantelamento" dos serviços públicos, a Oxfam apresenta em seu relatório uma série de propostas para "enfrentar a calamidade".
Primeiro, a adoção de impostos sobre grandes fortunas, juntamente com pacotes públicos para resgatar empresas que podem ser salvas e impostos sobre os resultados extraordinários de grandes corporações.
Também sugere que um "novo pacto fiscal" seja estabelecido para "fortalecer a cultura tributária" e reduzir a evasão, mas tudo isso com uma forte redução tributária para aqueles que estão na pobreza.