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Pandemia pode potencializar revoltas sociais na América Latina

De acordo com o filósofo político Sergio Villalobos Ruminott, a região precisa pensar e mudar as políticas públicas voltadas aos setores mais vulneráveis

Internacional|Da EFE

Brasil é o epicentro da pandemia na América Latina
Brasil é o epicentro da pandemia na América Latina

A América Latina terá que reorientar suas políticas públicas para os setores mais vulneráveis, os mais afetados pela pandemia do novo coronavírus, para impedir que o descontentamento se potencialize em meio à crise da saúde, disse o filósofo político Sergio Villalobos Ruminott à EFE.

"Essa crise vai aumentar o descontentamento anteriormente existente na região", disse Villalobos, que também é professor da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Ele enfatizou que o coronavírus chegou à região em um panorama de revoltas sociais que explodiu em 2016.

"Com os protestos feministas, os lenços verdes e os mais recentes no Haiti (devido à falta de comida e combustível) e no Chile", afirmou.

Região desbastada

A covid-19 chegou em uma região onde 30,1% de seus 629 milhões de habitantes são pobres, dos quais 10,7% vivem na miséria, segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).


E onde, de acordo com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), a taxa de informalidade do trabalho era de 53% em 2018, afetando cerca de 140 milhões de trabalhadores.

Além de ser uma área onde o acesso a água e sabão — a principal arma contra o coronavírus — não é universalmente garantida. Não apenas nas áreas rurais, mas também nos assentamentos urbanos.


Sergio Villalobos diz que pandemia potencializa vulnerabilidade
Sergio Villalobos diz que pandemia potencializa vulnerabilidade

O problema, explicou o especialista, é que isso será potencializado devido à pandemia.

De fato, foi a Cepal alertou que a pandemia causará "a pior recessão" da história da América Latina, que poderá ver a economia do continente encolher até 8% em 2020.


De acodo com o especialista, uma das preocupações dos governos é o colapso da saúde em uma região que, em geral, não possui assistência. Villalobos opina que, agora, os governos devem trabalhar para evitar um surto em sociedades com altos níveis de pobreza, miséria rural e superlotação urbana.

Pandemia não foi inesperada

O especialista apontou que a combinação de pobreza, marginalização e doença não é uma coincidência, mas sim um sintoma que expressa a intensificação das práticas produtivas e extrativistas na economia contemporânea.

Ele explicou que é sabido que a covid-19 é uma doença zoonótica que se deve a processos de superexploração de recursos naturais, proliferação de agronegócios, pecuária em massa, plantações aquáticas, processos abrangentes de desmatamento e apropriação de territórios, entre outras coisas.

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"Isso é consequência da desregulamentação neoliberal dos mercados e do relaxamento dos critérios de qualidade, transporte e comércio de todos esses produtos", afirmou.

E apontou que isso, sem dúvida, "potencializa" as condições de desigualdade que já existiam na região.

Vírus não é 'democrático'

Villalobos afirmou ainda que, embora a idéia de que o vírus seja democrático tenha sido muito destacada, "essa idéia é falsa. As consequências do ataque são diferenciadas de acordo com as características da população afetada."

México ocupa 11º lugar no mundo em número de casos
México ocupa 11º lugar no mundo em número de casos

Ele ressaltou que as situações mais tensas, até o momento, são em países como Brasil, Colômbia, Equador e Chile, enquanto no México a situação ainda é "tensa, mas estável" em relação à gestão da pandemia.

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Esses governos, disse ele, perderam legitimidade para o gerenciamento do coronavírus, incluindo o Brasil. E destacou que o país "é o segundo do mundo com a pior administração da pandemia e o maior número de infecções e mortes na região".

Portanto, segundo sua observação, esses países são "uma panela de pressão ou bombas-relógio muito finas que podem explodir a qualquer momento".

Ele indicou que é necessário ter políticas públicas orientadas "absolutamente para o bem-estar da sociedade e principalmente para os setores mais desprotegidos".

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O professor acredita que deve-se pensar em políticas econômicas que cobrem impostos aos setores mais ricos e que esses recursos sejam distribuídos de maneira equitativa, "o que nos permitirá sair da crise".

Essas política devem ser planejadas a médio e longo prazo, mas os Estados precisam ser "muito mais ativos e não subordinados aos critérios comerciais das empresas transnacionais".

Além disso, o filósofo político disse que os Estados devem responder às organizações que "pressionam", embora isso não garanta 100% que não haverá revoltas, pois há muitos anos de desigualdade. "Mas isso pode ser o começo", concluiu.

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