Passaporte sanitário pode garantir turismo pós-pandemia
Documento registra quantas doses foram aplicadas, o fabricante do imunizante e pode até conter o histórico de saúde do viajante
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
Com a chegada das vacinas e o relaxamento das restrições em alguns países do mundo, milhões de pessoas no mundo anseiam pela chance de poder viajar novamente.
Durante 2020, a pandemia de covid-19 a grande maioria dos países fechou fronteiras e limitou ao máximo a entrada de turistas. Neste ano, com a descoberta de variantes do coronavírus, o período de restrições foi ampliado e novas medidas foram tomadas para controlar o número de casos da doença.
Para tentar voltar à normalidade aos poucos, alguns países adotaram formas de controle para comprovar quem alguém está saúdavel para viajar e que pessoas contaminadas não cruzem a fronteira.
Na União Europeia, a criação de um passaporte sanitário permite que cidadãos europeus que já foram imunizados viagem pelo bloco livremente. O governo da China monitora o deslocamento de pessoas com uma espécie de passaporte regional. Em Israel, quem estiver vacinado pode voltar a frequentar cinemas, teatros e outros locais com pequenas aglomerações.
Os passaportes sanitários para covid-19 vão “conter informações sobre dados de saúde do viajante”, explica o professor de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Fernando Aith. Com essas informações em mãos, o viajante consegue garantir para as autoridades do país de destino que ele está imune e seguro para viajar.
O foco do documento vai ser informar se a pessoa foi vacinada e com qual imunizante, mas pode reunir também todo o histórico de saúde. “Pode falar se você já teve ou não covid-19, se fez testes e quando foram feitos, quais os resultados, o tipo [PCR ou de anticorpos] e em qual instituição, se você já tomou a vacina”, lista o especialista.
Antes da pandemia
A ideia não é nova e foi adotada para outra doença muito antes da pandemia, a febre amarela. Viajantes de algumas partes do mundo precisam se vacinar antes de chegar ao local de destino, ou quando fazem escala em algum país que exige a vacina, e precisam apresentar um comprovante internacional de vacinação para as autoridades sanitárias locais.
No caso da febre amarela, países da América Central e a Austrália exigem que turistas que vêm de regiões que possuem o mosquito vetor da doença sejam vacinados, explica a professora de Saúde Pública da Universidade de Campinas, Raquel Stucchi.
Outros países ainda não anunciaram a adoção da medida, mas especialistas acreditam que é uma tendência. “A própria Organização Mundial da Saúde comentou que via com bons olhos a ideia do passaporte sanitário”, afirma o professor da USP.
Quem poderá viajar?
Ainda não se sabe se apenas quem tomou as duas vacinas poderá usar o passaporte sanitário ou se uma dose basta. Por enquanto, a apresentação de testes negativos para a doença segue valendo como documento para a entrada do turista na maioria dos países.
Os países também têm autonomia para definir quais vacinas serão aceitas no passaporte sanitário para a entrada de um viajante. “Eles podem exigir vacinas que já tem publicações ou que foram autorizadas por agências regulatórias reconhecidas”, explica Stucchi.
Nesse caso, as vacinas de Oxford, Pfizer, Janssen e Moderna já foram aprovadas pela Agência Europeia de Medicamentos e pela OMS. A CoronaVac, usada no Brasil, ainda não foi aprovada na Europa e nem tem publicações sobre as fases de testes divulgadas.
Cidadãos de Segunda Classe
Um principais questões sobre a vacinação contra covid-19 pelo mundo é a desigualdade no acesso às doses. Países mais ricos já garantiram estoques suficientes para vacinar praticamente todos os cidadãos, mas nações pobres dependem de consórcios e doações para garantir a imunização.
Enquanto em alguns locais a vacinação caminha rapidamente, outros ainda nem começaram ou estão na fase inicial de suas campanhas de vacinação. Com isso, possíveis viajantes de países desfavorecidos terão que esperar muito mais para voltar a fazer o check-in no aeroporto.
“Isso vai causar uma redução no número de pessoas habilitadas a viajar nos próximos anos e ampliará as desigualdades sociais”, prevê Aith.
Para brasileiros esse cenário é pessimista, já que, além da falta de acesso às vacinas, o país é o epicentro da covid-19 e possui uma variante que pode ser mais agressiva. Atualmente, somente 8 países aceitam a entrada de viajantes brasileiros, como Tonga e Afeganistão.
Sem vacina, sem viagem
Segundo os especialistas, quem escolheu voluntariamente não tomar a vacina, não terá permissão para viajar. “Não toma, não viaja. Essa pessoa tem o direito de não tomar a vacina e o país tem o direito de não aceitar que ele entre”, resume Stucchi.
Nos últimos anos, o movimento antivacinas ganhou popularidade no mundo e milhares de pessoas optam por não vacinar os filhos contra diversas doenças. Com a covid-19, a insegurança e desconfiança com as vacinas fez com que outras pessoas também escolhessem não querer se vacinar.
“Essas pessoas terão que se conformar a viver a vida de forma limitada”, reflete Aith. “Ou se conforma que, para ela ter certas liberdades, ela precisa de vacina. Essa liberdade terá um custo maior.”
Para garantir a imunização em massa contra a covid-19, é necessário um pacto social em que o maior número de pessoas possível se vacine. Com o passaporte sanitário e as restrições de viagens, é possível que mais pessoas decidam se vacinar para poder retomar a vida de antes e realizar o sonho de viajar para algum país depois de um ano em que o turismo ficou congelado.