Presidente do Peru condena tentativa de afastá-lo do poder
Ministros do governo classificam de tentativa de golpe manobra apresentada no Parlamento contra Pedro Castillo
Internacional|Do R7
O presidente do Peru, Pedro Castillo, condenou neste sábado (27) a moção apresentada no Parlamento do país por um grupo de partidos de direita com a intenção de afastá-lo do poder. A manobra foi classificada de tentativa de golpe de Estado por ministros de governo.
Castillo acusou as elites peruanas de buscar desestabilizar o país, quando ele tem apenas três meses de mandato. "Não toleram que um professor rural e agricultor tenha chegado à Presidência", disse o chefe de governo, em discurso durante evento de grupos campesinos do Peru.
"Esses mesmos grupos querem negar a participação de um governo, cujos resultados eleitorais nos trouxeram para cá. Nestes anos, eles se dedicaram a minar a institucionalidade e pretendem desestabilizar o país", completou o presidente.
A moção para destituir Castillo foi apresentada formalmente no Congresso, após a reunião das 26 assinaturas necessárias de parlamentares. Eles são de partidos como o Força Popular, de Keiko Fujimori, o neoliberal Avança País, além do Renovação Popular, de extrema direita.
Ministros falam em golpe
Ainda mais enfáticos foram alguns dos ministros de governo, que não hesitaram em classificar de golpe de Estado o movimento da oposição. "Isso é um golpe de Estado, claramente uma violação da vontade popular", afirmou o ministro do Interior, Avelino Guillén, em entrevista à emissora local RPP Noticias.
O integrante do governo garantiu que se trata de uma investida da direita, que ainda não aceitou a derrota de Keiko Fujimori nas urnas. A concorrente, inclusive, segue denunciando fraudes no pleito, sem apresentar provas.
A ministra da Mulher e Populações Vulneráveis, Anahí Durand, lamentou hoje que existe um setor que não aceita a derrota nas eleições e segue boicotando e atacando a democracia.
"Eu acho que, quando um partido ou alguns partidos perdem as eleições, o que diz a Constituição é que façam seu trabalho e, em cinco anos, voltem a disputar. O que estamos vivendo aqui é uma má interpretação da Carta Magna", lamentou.
Presidentes recentes
Para destituir Castillo, a oposição aponta para a "incapacidade moral permanente" do presidente, que é uma figura contemplada pela Constituição para casos extraordinários, em que o chefe de Estado apresenta alguma doença ou incapacidade mental, mas que foi interpretada como insuficiência ética.
Essa foi a mesma figura que partidos de direita e o fujimorismo utilizaram para destituir o ex-presidente Martín Vizcarra, no ano passado, e para tentar tirar do poder, por sua vez, Pedro Pablo Kuczynski, que renunciou em 2018.
Embora seja difícil que a moção alcance os 52 votos necessários no Congresso para iniciar o processo de impeachment e os 82 para ser aprovado, o líder do partido Renovação Popular, de extrema direita, Rafael López-Aliaga, convocou uma manifestação popular para hoje.
Este foi o segundo fim de semana seguido de mobilização em Lima, no mesmo local utilizado por grupos de direita para protestar contra uma suposta fraude nas eleições presidenciais. O ato reuniu milhares de pessoas, a maioria com camisas da seleção peruana de futebol, com diversas denúncias de que Castillo é "comunista".