Presidente interino do Peru renuncia após mortes em protesto
Após apenas 5 dias no cargo, Manuel Merino renunciou ao cargo neste domingo (15), em tentativa de esfriar a situação política no país
Internacional|Do R7, com EFE
Após protestos que foram reprimidos com violência pela polícia e que terminaram com a morte de dois manifestantes na noite de sábado (14), o presidente interino do Peru, Manuel Merino, anunciou sua renúncia em um discurso no início da tarde deste domingo (15), após passar apenas 5 dias no cargo.
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Pouco antes, o Congresso peruano já havia feito um apelo a Merino para que ele renunciasse, como forma de acalmar a turbulenta situação política do país. Durante a madrugada, 13 ministros tinham anunciado sua saída do governo.
"Quero tornar público para todo país que apresento minha renúncia", declarou Merino em um mensagem ao país transmitida pela televisão, o que deflagrou uma celebração nas ruas de Lima, um dia depois da violenta repressão a manifestações, com saldo de dois mortos e mais de 100 feridos.
O Congresso fará uma reunião extraodinária neste domingo para aceitar a renúncia e definir como será a escolha do futuro presidente.
Curta trajetória
Manuel Merino Lama, até então presidente do Congresso, tinha tomado posse na última terça-feira, um dia depois que os parlamentares votaram pelo afastamento do então presidente Martín Vizcarra, por suspeita de corrupção.
Com isso, o Peru terá em breve seu quarto presidente desde 2016, quando Pedro Pablo Kuckzynski foi eleito. Ele renunciou em março de 2018, acusado de ter recebido propinas de empreiteiras e foi substituído por Martín Vizcarra. O país tem eleições marcadas para o primeiro semestre de 2021.
Ao anunciar sua saída, Merino leu um comunicado no qual não havia qualquer sinal de autocrítica sobre os acontecimentos dos últimos dias, particularmente os incidentes de violência que no sábado à noite deixaram dois mortos e dezenas de feridos e desaparecidos nos protestos contra sua ascensão no poder.
O interino se limitou a expressar condolências às famílias dos mortos e aos cidadãos que exerceram "seu direito de manifestação", indicando, ao mesmo tempo, que os fatos serão devidamente investigados.
Merino, que era o presidente do Congresso, também se defendeu por ter assumido o poder após a destituição de Vizcarra, o que justificou ter feito de acordo com "o mandato constitucional" e "com responsabilidade, humildade e honra".
"Houve vozes que tentaram confundir o país com o fato de que eles estavam tentando remover o presidente para adiar as eleições, e que um grupo com a minha participação busca se perpetuar no país. Sou um democrata, respeito as leis e este é um governo de transição. Nosso objetivo inicial é garantir eleições transparentes e limpas. Nada, nem ninguém pode impedir isso", comentou.
Merino também destacou que "nenhuma saída para esta crise" deve ser feita fora do meio constitucional e observou que, até que isso aconteça, "não pode haver um vácuo de poder", indicando que todos os ministros de seu governo, apesar de horas atrás terem anunciado a renúncia, "continuarão no cargo até que a incerteza possa ser resolvida".
Pressão do Congresso
A declaração de Merino veio depois que o Congresso peruano anunciou o início de um prodimento de censura contra ele, o qual seria realizado caso não apresentasse a renúncia imediatamente.
O chefe do Congresso, Luis Valdez, informou à imprensa que este pedido dos parlamentares é fruto da repressão violenta da manifestação de sábado, que deixou dois mortos e cerca de cem feridos.
Valdez também anunciou que neste domingo será realizada uma sessão extraordinária para avaliar os novos membros da mesa diretora do Congresso, que, com base na Constituição, incluirá a pessoa que ocupará a presidência da República no lugar de Merino.