Problemas de Trump na Justiça vão deixar eleições de 2024 nos EUA ainda mais polarizadas
Acusações contra o ex-presidente devem enfraquecê-lo diante dos americanos, mas tornarão o eleitorado fiel mais radicalizado
Internacional|Sofia Pilagallo, do R7
O mundo vive hoje uma polarização política e isso deve refletir na próxima eleição dos Estados Unidos, em novembro de 2024. Esta é a avaliação do professor de Relações Internacionais James Onnig, da Facamp (Faculdades de Campinas). Ele acredita que, a longo prazo, as acusações contra o ex-presidente Donald Trump irão enfraquecê-lo diante dos americanos, de forma geral, mas tornarão o eleitorado fiel do republicano mais radicalizado. "Esse público tende a acreditar que Trump é vítima de uma injustiça, narrativa que é reforçada pelo próprio ex-presidente".
Trump acumula uma série de problemas com a Justiça americana e foi indiciado novamente nesta quinta-feira (3), desta vez por sua suposta tentativa de reverter o resultado da eleição de 2020. Ele declarou inocência das quatro acusações apresentadas contra ele: conspiração para fraudar os EUA; conspiração para obstruir um processo oficial (a eleição); obstrução e tentativa de obstruir um processo oficial; e conspiração contra direitos. As acusações apresentadas no tribunal são as mais graves que pairam sobre o republicano até o momento.
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Após sair do tribunal E. Barrett Prettyman, em Washington D.C, Trump falou a repórteres que era vítima de "perseguição" e que aquele era um "dia muito triste" para os Estados Unidos.
Apesar de muitos apoiadores do ex-presidente acreditarem nessa narrativa, dados mostram que uma parcela dos eleitores de Trump pouco se importam com o histórico criminal do republicano.
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Uma pesquisa do Sienna College em parceria com o jornal americano The New York Times, divulgada na segunda-feira (31), revelou que mais republicanos afirmam que Trump cometeu crimes, mas, ainda assim, o apoiam.
Entre os eleitores do ex-presidente, 17% dizem pensar que ele cometeu crimes federais graves, ou que ameaçou a democracia com suas ações após a eleição de 2020. Em setembro, apenas 6% dos autodenominados republicanos declararam que Trump havia cometido crimes.
Ao The New York Times, um idoso identificado como Joseph Detrito, de 81 anos, residente na cidade de Elmira, em Nova York, afirmou que Trump "fez coisas terríveis", mas “também fez muito bem", acrescentando que deve votar no ex-presidente novamente, caso ele se consolide como o candidato do Partido Republicano.
"Eu costumava me inclinar para o Partido Democrata porque eles eram para a classe média trabalhadora", disse ele. "Agora, não gosto de Trump, mas gosto muito menos dos democratas".
Empate técnico
A pesquisa do Siena College aponta que Trump e Biden, o atual presidente dos Estados Unidos, estão empatados tecnicamente com 43% das intenções de voto. Entre os entrevistados, 10% se recusaram a apoiar qualquer um dos candidatos; 4% apoiariam a candidatura de outra pessoa; 4% estão indecisos e 6% não votariam se tivessem essas duas opções.
Ainda que a escolha dos candidatos não esteja certa, um embate entre Trump e Biden é provável. Trump é o favorito entre os candidatos republicanos e tem uma vantagem impressionante de 37 pontos percentuais diante do governador da Flórida Ron DeSantis. No geral, Trump detém 54% da preferência do eleitorado conservador, enquanto DeSantis aparece com 17%.
Para o professor James Onnig, uma eventual disputa entre Trump e Biden seria acirrada e "definida no detalhe", com bastante influência do voto dos indefinidos. A tendência é que essa parte do eleitorado faça uma comparação entre os dois mandatos para tomar uma decisão final. Enquanto o governo Trump ficou marcado por uma má gestão da pandemia e o ataque às instituições, a gestão Biden é amplamente criticada por questões econômicas, como a alta inflação que assola o país.
Em um cenário onde Trump não fosse escolhido como candidato pelo Partido Reepublicano, "as coisas mudariam de figura", acredita Onnig, com Biden passando a ser "um pouco mais popular" do que seu eventual adversário eleitoral. Já no caso de os democratas escolherem outro nome em detrimento de Biden — como Robert F. Kennedy Jr., filho do ex-procurador geral dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy —, isso poderia aumentar a chance de uma vitória progressista nas urnas.