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Putin completa 20 anos no poder em pleno declive de sua popularidade

Atual presidente russo conseguiu se afiançar no poder com uma mistura de imperialismo antiquado, mão dura, fé religiosa e receitas autoritárias

Internacional|Da EFE

Há 20 anos, Putin manda e desmanda no Kremlin
Há 20 anos, Putin manda e desmanda no Kremlin

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, completa 20 anos desde assumiu o poder pelas mãos da antiga KGB na sexta-feira (16), aniversário que coincide com um aumento do descontentamento popular, uma imparável involução democrática e a deterioração de sua imagem como líder infalível.

Putin "poderá unir aqueles que terão que renovar a Grande Rússia no século XXI", disse pela televisão Boris Yeltsin, primeiro presidente democrático da história da Rússia, ao propô-lo em agosto de 1999 como seu sucessor.

Em questão de dias, um autêntico desconhecido para a grande maioria dos russos e a comunidade internacional se transformou, primeiro, em herdeiro do trono do Kremlin; uma semana depois, em primeiro-ministro e, quatro meses mais tarde, em presidente da Federação Russa.

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Muitos pensavam que não duraria muito, mas se equivocaram. Putin conseguiu se afiançar no poder com uma mistura de imperialismo antiquado, mão dura, fé religiosa e receitas autoritárias.


A Duma lhe ratificou como chefe do Governo em 16 de agosto de 1999 e pouco depois, o Exército russo deu o tiro de canhão de saída à segunda guerra chechena, conflito que disparou sua popularidade e lhe rendeu a vitória nas eleições presidenciais de março de 2000.

O sociólogo Lev Gudkov, diretor do Centro Levada, acredita que a chegada de Putin ao poder foi consequência de um processo "lógico" que começou com o bombardeio à Casa Branca, antiga sede do Parlamento russo, decisão de Yeltsin que ele apoiou então e que agora reconhece foi um "grave erro".


"Os democratas começaram a utilizar métodos não democráticos. Os reformadores tentaram se perpetuar no poder se apoiando em velhas estruturas de tipo totalitário — Exército, polícia secreta, forças de segurança — e ficaram reféns delas. Se brinca com o demônio, não espere ganhar", comentou Gudkov à EFE.

A reforma democrática passou para um segundo plano e a prioridade era reter o poder. Putin, para quem a lealdade é dogma, deu garantias a Yeltsin de que nunca seria alvo de perseguição judicial e, de fato, o primeiro decreto que assinou foi a imunidade de seu antecessor e de sua família.


Duas décadas depois, alguns ainda acreditam que a meteórica ascensão de Putin ao poder foi resultado de uma conspiração das forças vivas vinculadas com a KGB e que se opunham às reformas democráticas em andamento na Rússia.

"A instrução número um, conseguir o poder total, foi cumprida", disse Putin em reunião do Estado Maior dos serviços secretos no célebre edifício da KGB após ser investido presidente.

E nos anos seguintes, com a inestimável ajuda de seus antigos companheiros da KGB, Putin erigiu uma vertical de comando onde todo o poder emanava do Kremlin com a desculpa de pôr ordem ao caos pós-soviético, acabar com a ameaça terrorista e acabar com os excessos dos oligarcas.

'Aniquilamento' do sistema Putin

Vinte anos depois, Gudkov acredita que o sistema criado por Putin está "anquilado", em pleno processo de degradação e não suportará nem uma nova crise econômica e nem uma drástica queda dos preços dos hidrocarbonetos.

"A indignação popular se centra no primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, no Governo e na Duma, mas o regime é tão personalista que Putin também começa a sofrer a deterioração de sua figura", assegura.

Esgotado já o fervor patriótico que trouxe consigo a anexação da Crimeia (2014), a popularidade de Putin não para de cair e no último ano, aumentou em 11 pontos a porcentagem de russos que não querem que siga no Kremlin, segundo o Levada.

Segundo o sociólogo, os atuais protestos opositores, os maiores desde 2012, seriam consequência do descontentamento "popular crônico" que se instalou na sociedade russa porque as novas gerações não veem futuro na Rússia de Putin e os russos estão fartos da confronto com Ocidente.

O contrato social assinado entre Putin e os russos — estabilidade e crescimento em troca do corte das liberdades — expirou há muito, já que as receitas efetivas da população desabaram e os russos vivem cada vez pior, mas Putin se nega a abrir válvulas de escape em forma de reformas.

Seja como for, Gudkov não vê possível uma revolução como a ucraniana, já que considera que as cidades pequenas e o campo, onde vive grande parte da população, seguem convictos na nostalgia soviética e são reticentes às mudanças democráticas.

Aos 66 anos, Putin afirmou ao Financial Times que a ideologia liberal está "vencida", por isso ninguém descarta que tenta usar algum truque constitucional para permanecer no poder em 2024 depois de um quarto de século no Kremlin.

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