Logo R7.com
Logo do PlayPlus

Reconhecer os separatistas da Ucrânia, uma possível aposta explosiva da Rússia

Legisladores russos apoiam a independência de Donetsk e Luhansk, mas o presidente Vladimir Putin resiste e afirma que seguirá com os acordos de Minsk

Internacional|Do R7

Putin afirma que não reconhecerá a independência de Donetsk e Luhansk e respeitará acordos
Putin afirma que não reconhecerá a independência de Donetsk e Luhansk e respeitará acordos

A ameaça da Rússia de reconhecer os territórios separatistas no leste da Ucrânia constitui uma faca de dois gumes, capaz de forçar a retomada do processo de paz ou destruí-lo para sempre. 

Na terça-feira (15), em meio a tensões com os países ocidentais, os legisladores russos pediram ao presidente Vladimir Putin que reconhecesse a independência dos territórios pró-Rússia do Donbas ucraniano, uma bacia mineradora e industrial na fronteira com a Rússia que inclui as autoproclamadas "repúblicas" de Donetsk e Luhansk.

Putin, Biden, Macron e Zelensky devem sair fortalecidos da crise no Leste Europeu, diz especialista

Em oito anos, a guerra entre Kiev e os separatistas apoiados por Moscou deixou mais de 14 mil mortos. A violência dos confrontos, no entanto, diminuiu quando os acordos de Minsk foram assinados, em 2015, entre a Rússia e a Ucrânia, mediados pela França e pela Alemanha. 


Mas o acordo político que permitiria o fim do conflito está em um impasse. Cada lado acusa o outro de bloquear o processo de paz. 

Um reconhecimento russo dos separatistas significaria o fim desse processo, já que os acordos de Minsk visam devolver essas áreas à soberania da Ucrânia.


"Moscou seria totalmente responsável pela destruição dos acordos de Minsk", afirmou à AFP a diplomacia ucraniana.

Essa "seria uma situação impossível, uma forma de agressão sem armas e de desmantelamento sem armas da unidade e integridade da Ucrânia", resumiu o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian. 


O cenário tem um precedente: em 2008, o Kremlin reconheceu a independência de duas "repúblicas" separatistas pró-Rússia na Geórgia, Abkházia e Ossétia do Sul, após uma guerra-relâmpago contra Tbilisi, ex-república soviética que, como a Ucrânia, aspira a aderir à Otan.

Vladimir Putin, no entanto, reagiu ao apelo de seus deputados dizendo que deseja manter os acordos de Minsk "até o fim".

Leia também

Mas, ao mesmo tempo, enfatizou que "a grande maioria" dos russos simpatizava com os habitantes de língua russa do Donbas, que, segundo ele, são vítimas de um "genocídio" orquestrado por Kiev.

A Rússia também distribuiu 600 mil passaportes russos nas duas autoproclamadas "repúblicas".

Segundo especialistas, ao ameaçar reconhecer os territórios separatistas, Moscou quer enviar um sinal a Kiev de que chegou o fim das concessões.

"É uma maneira de dizer 'nossa paciência tem limites', e que, se os acordos de Minsk forem boicotados, se não forem aplicados, outros métodos terão que ser usados", disse à AFP Fyodor Lukianov, cientista político próximo aos círculos de poder russos.

O que está em jogo é a relutância da Ucrânia em adotar um status especial e organizar eleições no Donbas. Kiev argumenta que as forças separatistas devem primeiro deixar a região. 

Para a Ucrânia, Moscou tenta fortalecer sua influência nessa área e bloqueia a aplicação dos acordos de Minsk ao querer impor um diálogo direto entre Kiev e os separatistas. 

Mas as autoridades ucranianas rejeitam um diálogo nessas circunstâncias, alegando que Moscou é o instigador do conflito, e não um mediador.

Nesta semana, o chanceler alemão Olaf Scholz insistiu que a Ucrânia deve elaborar os projetos de lei necessários o mais rápido possível, lembrando que o presidente Volodymyr Zelensky havia prometido fazê-lo.

"Mais cedo ou mais tarde, a Ucrânia apresentará os projetos de lei", declarou à AFP o negociador ucraniano Sergei Garmash, "mas, devido ao bloqueio criado pelas exigências russas, seu exame levará anos".

Embora o Kremlin esteja aumentando a pressão, ainda não chegou a ponto de assinar o atestado de óbito do processo de paz, diz o especialista Fyodor Lukianov.

Na sua opinião, a Rússia não deve se privar de um "instrumento de influência sobre o futuro da Ucrânia e, mais amplamente, sobre a questão da segurança europeia". 

O objetivo final de Moscou é forçar a mão do Ocidente para impedir a expansão da Otan com a adesão da Ucrânia.

Num contexto de tensões e temores de uma invasão russa, os esforços diplomáticos aumentaram nas últimas semanas para a retomada das negociações de paz, com reuniões em Paris e Berlim. Mas, de acordo com todas as partes do conflito, ainda não houve resultados.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.