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Resgate ajuda Portugal e empobrece Grécia: "gregos não estão acostumados a pagar impostos", diz especialista

Política de austeridade foi melhor assimilada por portugueses, enquanto Grécia resiste

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Antônio Costa recebe Tsipras em evento na capital portuguesa
Antônio Costa recebe Tsipras em evento na capital portuguesa

Passados sete anos desde o resgate enviado pela chamada Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) aos países em crise na zona do euro, duas realidades distintas começam a se delinear para Portugal e Grécia.

Enquanto Portugal já dá sinais de recuperação econômica, após um longo período de recessão, a Grécia continua afundando no endividamento e no empobrecimento de sua população. Além deles, Irlanda e Chipre também receberam o resgate financeiro.

Segundo Miguel Castro, português, professor de Relações Internacionais, formado pela Universidade Lusíada de Lisboa, Portugal está colhendo alguns frutos gerados pelos cortes profundos do governo anterior, do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho (PSD), que estão emergindo na atual gestão. Para ele, Portugal fez a lição de casa, até de forma exagerada, durante este período da centro-direita no poder. 

— Os cortes em Portugal foram de tal intensidade que permitiram que esse governo atual saneasse alguns problemas, podendo repor salários e direitos. É irônico, já que houve oposição a isto e hoje eles estão no poder. Não vejo como contraditório porque na política a verdade de hoje é a mentira de amanhã e a mentira de ontem é a verdade de hoje.


A Grécia, no entanto, também optou por uma política de austeridade, mas de menor intensidade do que a portuguesa, segundo ele, após a entrada do governo esquerdista, em 2015. Após um período de austeridade, a política do atual governo, que necessita de aportes mas é contra cortes intensos, deixou a política do país no meio do caminho.

Para Castro, a redução de programas sociais ocorreram (ao estilo Bolsa Família), aumentando o empobrecimento da população, mas, por outro lado, não sendo suficiente para sanear a economia, ainda vinculada ao endividamento público.


— Na Grécia, não quiseram ir tão fundo na austeridade e, além disso, o governo de esquerda veio se mantendo (comandados pelo atual primeiro-ministro Alexis Tsipras, líder do Syriza e coligado ao Anel). A diferença entre governos de centro-direita e centro-esquerda e esquerda radical é que a esquerda, por convicção, não aceita a austeridade.

Já o economista Braíma Injai, português, nascido em Guiné-Bissau, considera os fatores educacionais e culturais importantes para analisar essas questões. Segundo ele, formado pelo Iseg (Instituto Superior de Economia e Gestão) e membro da Ordem dos Economistas de Portugal, a austeridade foi melhor assimilada pelos portugueses.


— Há vários fatores, que passam pelas questões educacionais e culturais. Tem-se investido muito em educação em Portugal e isso ajuda a formar uma população mais esclarecida.

Morador de Lisboa, Injai, ressalta que a informalidade da economia grega também pesa, pois a arrecadação do governo acaba sendo afetada.

— Na questão cultural, o cidadão português tem mais incutido em sua mente a importância de se pagar impostos para ajudar a economia. Os gregos não têm costume de pagar impostos. Por isso, a política de austeridade foi melhor assimilada em Portugal, cujo povo obedece mais as diretrizes do governo.

Taxa de pobreza

Nos últimos meses, Portugal começou a exportar mais e a reaquecer seu mercado interno. Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística) o país cresceu 1,6% no terceiro trimestre de 2016. Vem mantendo essa tendência até agora.

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Até mesmo reposições salariais e de direitos trabalhistas começaram a ser retomados, após um período de austeridade implementado pelo governo de centro-direita que antecedeu o atual, do primeiro-ministro Antônio Costa, hoje amparado no bloco formado pelo PS (Partido Socialista), BE (Bloco de Esquerda), PCP (Partido Comunista Português) e Partido Ecologista.

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Já a taxa de pobreza na Grécia, segundo a agência de estatística da União Europeia, Eurostat, quase dobrou desde 2008, ano em que a crise global emergiu. Com isso, programas de bancos de alimentos se tornaram urgentes no país. Cerca de 11.000 famílias - ou 26.000 pessoas - estão registradas, número bem acima das 2.500 famílias em 2012 e de 6.000 em 2014. Cerca de 5.000 pessoas incluídas no banco são crianças.

O governo grego, pressionado pelos credores, afirmou na última semana que um provável novo resgate não vai gerar uma nova espiral de austeridade, apesar das exigências da Troika por maiores sacrifícios sociais. A principal delas é que os países que recebam o dinheiro mantenham, em média, seu déficit público em no máximo 3% do PIB. Em 2015, o de Portugal estava em 4,4%. O da Grécia, em 7,2% do PIB, segundo a Eurostat.

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