'O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força', diz Mauro Vieira
Em abertura da reunião do G20, o chanceler citou ainda a 'paralisia do Conselho de Segurança da ONU' na mediação de conflitos
Internacional|Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta quarta-feira (21), em discurso de abertura da reunião do G20, que as instituições multilaterais não estão equipadas para lidar com os desafios atuais. O chanceler disse que isso ficou demonstrado "pela inaceitável paralisia" do Conselho de Segurança na mediação de conflitos recentes. Segundo Vieira, "o Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar".
A reunião do G20 – que reúne as 19 maiores economias do mundo, a União Europeia e a União Africana – ocorre na Marina da Glória, no Rio de Janeiro.
Não é a primeira vez que Vieira usa o termo "paralisia" para se referir ao Conselho de Segurança. Em outubro, durante a Cúpula Internacional da Paz no Cairo, capital do Egito, o chanceler brasileiro disse que "a paralisia do Conselho de Segurança está tendo consequências prejudiciais para a segurança e as vidas de milhões."
Na reunião desta quarta-feira, o ministro afirmou ainda que a governança global precisa de profunda reformulação. Segundo o chanceler, as diferenças devem ser resolvidas sob o multilateralismo. "À medida que o G20 avança nas discussões sobre seu papel diante das tensões internacionais em curso, encorajo todos os países a iniciarem o diálogo reiterando seus compromissos sob a carta das Nações Unidas, e rejeitando publicamente o uso da força, da intimidação, as sanções unilaterais, a espionagem, a manipulação em massa das mídias sociais e quaisquer outras medidas incompatíveis com o espírito e as regras do multilateralismo como meio de lidar com as relações internacionais," afirmou.
No encontro, que ocorre nesta quarta e quinta-feira (22), o Brasil tem o objetivo de discutir meios de reformar e fortalecer a Organização das Nações Unidas (ONU). É a primeira reunião de nível ministerial durante a presidência brasileira do G20.
Em nota, o Itamaraty informou que a presidência brasileira no grupo terá como prioridades, entre outros temas, a inclusão social, o desenvolvimento sustentável e as transições energéticas; e a reforma das instituições de governança global, incluindo as Nações Unidas e os bancos multilaterais de desenvolvimento.
O Brasil preside o G20 desde 1º de dezembro de 2023 até 30 de novembro de 2024. Estão previstas cerca de 130 reuniões em15 cidades do país. A mais importante será a Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do G20, marcada para 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.
Crise diplomática
Vieira disse nesta terça-feira (20) que as manifestações do chanceler israelense, Israel Katz, são inaceitáveis na forma, e mentirosas no conteúdo. A declaração do chefe da diplomacia brasileira veio na esteira da crise diplomática causada pelo comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou a ação do exército de Israel contra o grupo terrorista Hamas ao Holocausto dos judeus pela Alemanha nazista.
A declaração de Lula foi dada durante entrevista coletiva realizada no último domingo (18), depois da participação do presidente na 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, em Adis Abeba, capital da Etiópia. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler decidiu matar os judeus”, afirmou o petista na ocasião.
Segundo Vieira, a chancelaria israelense recorre "sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras". Para o chanceler brasileiro, "a atitude do governo Netanyahu e sua anti diplomacia não refletem o sentimento da sua população".
O ministro de Lula concluiu afirmando que o embaixador de Israel em Brasília e o governo Netanyahu foram informados de que o Brasil reagirá com diplomacia, mas com toda a firmeza, a qualquer ataque que receber.
Após as declarações de Lula, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou o presidente e descreveu suas palavras como vergonhosas e graves. Lula passou a ser considerado "persona non grata" em Israel até se desculpar pelo comentário. Isso quer dizer que o presidente brasileiro não é bem-vindo em Israel até se retratar.