Rússia ameaça suspender acordo de exportação de cereais ucranianos
Acordo, negociado em julho do ano passado com a mediação da Turquia e da ONU, é crucial para a segurança alimentar mundial
Internacional|Do R7
O chefe da diplomacia da Rússia, Serguei Lavrov, ameaçou nesta sexta-feira (7) em Ancara suspender o acordo de exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro, caso prossigam os obstáculos à venda de produtos agrícolas russos.
O acordo, negociado em julho do ano passado com a mediação da Turquia e das Nações Unidas, é crucial para a segurança alimentar mundial.
"Se não acontecer nenhum avanço na retirada dos obstáculos às exportações de fertilizantes e cereais russos, então perguntaremos se este acordo é necessário", ameaçou Lavrov após uma reunião com o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu.
O pacto, que permitiu exportar mais de 25 milhões de toneladas de cereais, foi prorrogado em 19 de março.
Moscou, no entanto, propôs que o texto fosse prorrogado por 60 dias e não por 120, como foi inicialmente estabelecido.
O Kremlin considera que a parte do acordo que deve permitir a exportação dos alimentos e fertilizantes não é respeitada.
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Em tese, os produtos essenciais para a agricultura mundial não podem ser objeto das sanções ocidentais impostas a Moscou pela invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, mas na prática as exportações enfrentam uma série de obstáculos por parte dos bancos.
De acordo com o ministro turco, "Estados Unidos e Reino Unido adotaram medidas relacionadas a pagamentos e seguros, mas ainda há problemas. Alguns bancos não fizeram o suficiente".
Além disso, "medidas foram adotadas para reenviar amônia e fertilizantes russos dos países ocidentais para os países africanos, mas o problema não está resolvido", acrescentou.
Lavrov também denunciou a desigualdade das exportações ucranianas entre países ricos e pobres.
De acordo com o Centro de Coordenação Conjunto, responsável por monitorar o acordo, 56% das exportações foram destinadas aos países em desenvolvimento e 5,7% aos países menos avançados, que têm mais de 12% da população mundial.
Durante a visita à Turquia, Lavrov também se reunirá com o presidente Recep Tayyip Erdogan, que está em campanha para tentar a reeleição na votação de 14 de maio.
"Nova ordem mundial"
Rússia e Turquia atuam em conjunto em vários temas internacionais. Antes da viagem de Lavrov a Ancara, Moscou destacou a importância de "sincronizar os relógios" entre os países.
A Turquia mantém relações com a Rússia e com a Ucrânia desde o início do conflito.
O ministro turco das Relações Exteriores expressou nesta sexta-feira "preocupação com uma possível escalada do conflito na primavera" (hemisfério norte, outono no Brasil).
Lavrov advertiu que negociar a paz na Ucrânia será possível apenas com o estabelecimento de uma "nova ordem mundial", livre do domínio dos Estados Unidos.
"As negociações só podem acontecer se os interesses russos forem levados em consideração", declarou o chanceler russo, antes de destacar que estes serão "os princípios sobre os quais uma nova ordem mundial será fundada".
Ao mesmo tempo, a Rússia espera estimular uma reconciliação entre a Turquia e a sua aliada Síria. O país convocou várias reuniões sobre o tema, mas até agora sem qualquer resultado concreto.
O presidente sírio, Bashar al Assad, condiciona uma reunião com Erdogan à retirada das forças turcas do norte da Síria, região sob influência dos curdos.
Mas o porta-voz e conselheiro para assuntos internacionais de Erdogan, Ibrahim Kalin, anunciou na última quarta-feira (5) uma reunião "nos próximos dias" em Moscou entre os ministros das Relações Exteriores e da Defesa dos dois países, assim como da Rússia e do Irã.
O encontro também incluirá os chefes dos serviços de inteligência dos quatro países, de acordo com Kalin, que se reuniu na quinta-feira (6) com Putin na capital da Rússia.