‘Chernobyl voador’: saiba onde míssil nuclear russo Burevestnik foi testado
Arquipélago no Ártico tem população minúscula e temperatura gelada o ano inteiro
Internacional|Do R7
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A inteligência militar da Noruega confirmou que a Rússia lançou, na semana passada, o míssil de cruzeiro nuclear Burevestnik, também chamado de “Chernobyl voador” a partir do arquipélago de Novaya Zemlya, no Ártico.
Moscou havia anunciado no domingo (26) o “sucesso” do teste do Burevestnik — batizado pela Otan de SSC-X-9 Skyfall —, mas sem revelar o local de lançamento. O equipamento é descrito por autoridades russas como capaz de furar qualquer escudo de defesa, por usar uma unidade de propulsão com fonte de energia nuclear a bordo.
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Segundo relatório apresentado pelo chefe do Estado-Maior russo, Valeri Gerasimov, ao presidente Vladimir Putin em 21 de outubro, o protótipo teria voado cerca de 14 mil quilômetros e permanecido no ar por aproximadamente 15 horas. Não foi a primeira tentativa: pelo menos 15 lançamentos já foram feitos, com apenas dois avaliados por inteligência dos EUA como parcialmente bem-sucedidos. O teste anterior ocorreu em 2023.
O lançamento ocorreu em Novaya Zemlya, arquipélago entre os mares de Barents (a oeste) e de Kara (a leste), no Oceano Ártico. A região é um dos principais campos de provas nucleares da antiga União Soviética e da Rússia desde 1955 e ficou marcada pela explosão da Tsar Bomba, o mais potente artefato nuclear já detonado, em 30 de outubro de 1961.
Apesar da vasta área e da infraestrutura militar, Novaya Zemlya tem baixíssima densidade populacional. O centro administrativo é Belushya Guba, com cerca de 1.972 moradores, majoritariamente militares e trabalhadores da construção. O clima é do tipo tundra, com invernos muito longos, temperaturas frequentemente negativas e mar gelado durante boa parte do ano.
O principal ponto associado aos testes do Burevestnik no arquipélago é o campo de provas de Pan’kovo, na Ilha Yuzhny, a cerca de 170 km ao norte da Base Aérea de Rogachevo. O acesso de pessoal costuma ocorrer por helicópteros, e a logística depende de cais flutuante no verão. Cargas já foram levadas por embarcações como o cargueiro nuclear Sevmorput.
Em novembro de 2017, um lançamento do Burevestnik em Pan’kovo fracassou. Após dois minutos de voo e aproximadamente 35 km percorridos, o míssil caiu no Mar de Barents. Navios, incluindo um preparado para lidar com material radioativo, foram mobilizados para a recuperação de destroços. Imagens de satélite de 2018 mostraram um abrigo ambiental sobre trilhos típico das operações do sistema. Análises posteriores indicaram fechamento temporário do local e transferência de atividades para Nyonoksa, seguida de reconstrução e reorientação do conjunto entre 2018 e 2020. Novos registros de 2022 e de agosto de 2025 apontaram retomada de preparativos.
A ligação do programa ao acidente de Nyonoksa, em agosto de 2019, marcou um dos episódios mais graves do período recente. Após uma explosão em área de testes próxima a Severodvinsk, houve pico de radiação, relatos de tremor e fumaça, e sete especialistas morreram. O governo falou em explosão de motor de foguete com fonte radioisotópica. Pesquisadores independentes associaram o episódio ao Burevestnik, o que levou a uma pausa temporária nas operações.
O teste agora confirmado pela Noruega reacende a pauta estratégica. Enquanto o Kremlin divulga avanços em um míssil de cruzeiro de alcance global e propulsão nuclear, autoridades ocidentais acompanham sinais em campo, como a atividade em Pan’kovo, para avaliar a real maturidade do projeto. Em paralelo, o presidente dos EUA, Donald Trump, comentou que Putin deveria priorizar o fim da guerra na Ucrânia em vez de testar armamentos.
A geografia extrema de Novaya Zemlya também sofre o impacto do aquecimento global. Em 2019, a Rússia confirmou o aparecimento de cinco novas ilhas na baía de Vize, reveladas pelo recuo acelerado de geleiras. Na última década, registros de novos acidentes costeiros e a presença crescente de ursos polares em áreas habitadas ilustram como o ambiente ártico, já inóspito, está mudando rapidamente.
Com histórico nuclear, bases ativas, clima severo e populações diminutas, Novaya Zemlya reúne as condições logísticas e de isolamento que ajudam a explicar por que o teste do Burevestnik ocorreu ali.
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