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Sanções dos EUA à Venezuela podem virar bloqueio total, dizem analistas

Especialistas ouvidos pelo R7 falam sobre consequências de novas sanções. Embargo total não significaria, necessariamente, isolamento de Maduro

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Novo bloqueio de Trump é consideração a ação mais dura dos EUA contra Maduro
Novo bloqueio de Trump é consideração a ação mais dura dos EUA contra Maduro

O bloqueio total dos bens do governo da Venezuela em território americano, anunciado por Donald Trump nesta segunda-feira (5), já é considerado a ação mais dura dos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro até agora.

As restrições atingem em cheio as autoridades chavistas, mas, entre os especialistas ouvidos pelo R7, é consenso que os novos bloqueios anunciados pelos Estados Unidos podem caminhar para um embargo total — a exemplo daquele imposto pelo governo norte-americano contra Cuba desde 1962.

Nesse caso, todas as trocas comerciais, financeiras e econômicas com a Venezuela seriam proibidas.

“O objetivo seria levar à falência do mercado privado venezuelano. Mas a que custo? Rússia, China, Cuba, Irã, Turquia iriam se contrapor ao embargo. A chegada de ajuda humanitária seria comprometida. E os Estados Unidos teriam que arcar, sozinhos, com as consequências dessa estrutura coercitiva que é muito maior”, pondera Guilherme Frizzera, mestre em integração da América Latina pela USP (Universidade de São Paulo) e professor de Relações Internacionais na Unità Faculdade.


Alberto do Amaral Junior, livre-docente do Departamento de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP, reforça que o embargo total não necessariamente garantiria resultados aos Estados Unidos. “No caso de Cuba, por exemplo, muitas das companhias furaram o embargo e continuaram negociando com governo e empresas da ilha.”

Efeitos não serão imediatos para venezuelano comum


Na opinião de Frizzera, a medida anunciada esta semana não deve — imediatamente — afetar o venezuelano comum.

“A ação de Trump proíbe empresas norte-americanas de negociarem com o governo da Venezuela. Mas é possível que essas empresas ainda façam negócios com as companhias venezuelanas sem laços com o regime de Nicolás Maduro. Além disso, as sanções não se aplicam a organizações não-governamentais para serviços como alimentos e remédios, então a ajuda humanitária deve continuar chegando ao país”, aponta.


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Por outro lado, Frizzera pontua que, no médio prazo, pequenos empresários venezuelanos podem sofrer consequências por causa da instabilidade política em seu país.

“Hoje, eles estão fora das sanções, mas o cenário fica incerto para quem tem negócios com eles. Ninguém garante que, amanhã, o governo dos Estados Unidos não vá vetar todas as negociações.”

Medida para ‘isolar Maduro’

Em pronunciamento durante cúpula sobre a Venezuela realizada em Lima, capital do Peru, nesta terça-feira (6), o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, afirmou que o objetivo do bloqueio é “isolar Maduro financeiramente e acelerar uma transição democrática pacífica”.

Anteriormente, a maior parte das medidas restritivas do governo americano visavam a estatal petroleira PDVSA e o setor financeiro venezuelano. Dirigentes e familiares — caso dos três enteados de Nicolás Maduro — também haviam sofrido sanções.

Para Alberto do Amaral Junior, o novo bloqueio — que, na prática, impede o governo de Maduro de movimentar boa parte de seus recursos no exterior — afeta o venezuelano comum à medida que o país não poderá repatriar seus bens para atender às necessidades da população.

“Quando um governo não pode trazer recursos de volta para seu país, a consequência é a impossibilidade de construir obras, comprar alimentos, desempenhar atividades sociais, etc.”

Economia decadente

Após o anúncio do governo dos Estados Unidos, Nicolás Maduro enfatizou que a medida de Trump se trata de “terrorismo econômico” e completou que as sanções aplicadas já causaram “severas feridas na sociedade venezuelana durante os últimos anos” e buscam “asfixiar o povo” para “forçar uma mudança de governo inconstitucional”.

Clayton Pegoraro, especialista em relações internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie, lembra que a Venezuela já vive, desde 2014, um processo de decadência da economia.

“O efeito do novo bloqueio para o cidadão comum deve ser, no médio prazo, uma maior deterioração econômica e comercial em seu país. A inflação pode subir, mas não em decorrência exclusivamente das sanções mais recentes — e sim porque na Venezuela faltam cada vez mais produtos”, aponta.

Pegoraro também recorda que, enquanto isso, China e Rússia continuam comercializando petróleo com Caracas. “Nesse sentido, se houver algum valor da Venezuela a ser recebido por meio de bancos norte-americanos, os pagamentos podem, sim, ser comprometidos”, acrescenta.

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