Sinal de rádio misterioso do espaço vinha de satélite desativado há quase 60 anos
Descoberta feita por astrônomos australianos levanta alerta sobre riscos invisíveis do lixo espacial e suas interferências tecnológicas
Internacional|Do R7

Um enigmático sinal de rádio detectado em junho do ano passado, inicialmente associado a fenômenos cósmicos distantes, acabou tendo uma origem muito mais próxima — e surpreendente.
Cientistas identificaram que a emissão não veio de uma galáxia remota, mas sim de um satélite da NASA desativado há mais de cinco décadas: o Relay 2.
O achado foi feito por uma equipe liderada pelo astrônomo Clancy James, da Curtin University, por meio do radiotelescópio Australian Square Kilometer Array Pathfinder (ASKAP). O sinal de alta frequência, que cobria uma faixa de 695,5 a 1031,5 megahertz, chamou atenção por sua intensidade e brevidade, características comuns em rajadas rápidas de rádio, fenômenos ainda pouco compreendidos pela ciência.
A diferença crucial, neste caso, foi a localização. Em vez de vir de milhões de anos-luz de distância, como é comum nesse tipo de emissão, a origem do sinal foi localizada a apenas 4.500 quilômetros da Terra. Usando dados orbitais e ferramentas computacionais como o módulo Skyfield, os pesquisadores conseguiram rastrear a emissão até o satélite Relay 2, lançado em 1964 e inoperante desde 1967.
Essa descoberta levanta preocupações sobre os perigos representados por satélites abandonados e o chamado lixo espacial. Segundo os cientistas, o sinal detectado não foi resultado de reflexo solar — como já ocorreu com pedaços de foguetes defuntos —, mas provavelmente causado por uma descarga eletrostática acumulada ao longo de anos em órbita.
A equipe considera duas hipóteses para o evento: uma descarga causada por acúmulo de carga eletrostática no satélite ou um impacto com um micrometeoroide, partículas minúsculas de poeira cósmica que circulam na órbita terrestre. Embora os dois cenários sejam possíveis, os pesquisadores apontam a descarga eletrostática como a explicação mais provável.
O fenômeno é raro, mas não inédito. Em 2017, observações feitas com o telescópio Arecibo identificaram sinais semelhantes vindos de um satélite GPS. À medida que os objetos se deslocam no ambiente geomagnético da Terra, acumulam elétrons que, eventualmente, são liberados em forma de descargas, o que pode gerar interferência nas medições de instrumentos astronômicos.
A implicação científica da descoberta vai além da simples identificação de mais um falso positivo nas pesquisas espaciais. Ela também revela o potencial de usar radiotelescópios para detectar e estudar descargas elétricas em equipamentos orbitais, abrindo caminho para novas formas de monitoramento remoto do ambiente espacial e seus riscos para naves e satélites ativos.
“Essa observação abre novas possibilidades para a detecção remota de descargas eletrostáticas, que representam uma séria ameaça para espaçonaves”, escreveram os autores do estudo, que foi aceito para publicação na revista The Astrophysical Journal Letters.
Além disso, o episódio ressalta a importância de distinguir sinais de origem humana daqueles que realmente vêm de fenômenos astrofísicos. Casos anteriores já haviam confundido pesquisadores, como a interferência causada por um forno de micro-ondas ou mesmo por caminhões em movimento.
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