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Supremacistas brancos e grupos de ódio usam técnicas jihadistas

Departamento de Estados dos EUA adverte para crescimento da ameaça terrorista de ultradireita e sociólogo avalia: 'Recrutamento é ainda mais perigoso'

Internacional|Giovanna Orlando, do R7

Neonazistas arrecadam dinheiro para aumentar audiência
Neonazistas arrecadam dinheiro para aumentar audiência

Discursos de intolerância e ódio contra minorias são comuns nas redes sociais. Não é difícil pesquisar e encontrar grupos que compactuam com uma ideologia xenófoba, homofóbica e racista pela internet — e isso sem precisar descobrir caminhos para acessar a deep web.

Nos Estados Unidos, esses grupos de ódio se organizam através de sites e chans, alguns até conseguem se reunir pessoalmente, como a Ku Klux Klan, em estados sulistas.

Mesmo com potencial para grandes massacres, como o tiroteio em um Walmart na cidade de El Paso, em que o atirador confessou ter mirado em imigrantes mexicanos, esses grupos não são considerados uma ameaça nacional ou internacional.

Na última sexta-feira (1), o Departamento de Segurança dos Estados Unidos publicou um relatório em que afirma que grupos de supremacistas brancos estão aprendendo técnicas de financiamento e expansão com grupos jihadistas, como o Estado Islâmico.


Em entrevista ao R7, o professor de Sociologia na Universidade La Salle, nos Estados Unidos, Charles A. Gallagher, explica que, apesar das semelhanças, a arrecadação de dinheiro pode ser usado para expansão desses grupos, e não uma guerra.

Já o processo de recrutamento em grupos de ódio é diferente do processo do Estado Islâmico. Enquanto os jihadistas buscam combatentes, os grupos de ódio compartilham informações.


Confira a íntegra da entrevista:

Como os supremacistas brancos disseminam sua ideologia?


Charles Gallagher: A internet permitiu que supremacistas brancos se tornassem transnacionais. Uma pessoa só precisa criar um site e um fórum de ódio que possa ser compartilhado com outras pessoas que pensam igual a ela pelo mundo. Os relacionamentos são formados além de fronteiras nacionais e servem a um número de propósitos.

"Eles disseminam sua propaganda de vitimização branca e acolhem outros brancos marginalizados."

São pessoa brancas suscetíveis à mensagem de que imigrantes estão 'invadindo', ideias antissemitas e que não-brancos vão 'substituir' a raça branca."

É uma questão de recrutamento...

Essas plataformas também servem como fonte de informação sobre como cometer um crime violento ou providenciar logística de como causar um ataque terrorista. Talvez, a coisa mais importante, é que essas plataformas permitem que uma comunidade de solitários marginalizados sintam uma sensação de pertencimento. Não é surpreendente descobrir que os indivíduos que saíram em matanças tenham um histórico de visita a vários grupos de ódio na internet.

Ghallager, da Universidade La Salle
Ghallager, da Universidade La Salle

Além de chans e sites, esses grupos se encontram em outros lugares também?

Comícios acontecem, mas as manifestações de grupos antifascistas progeralmente superam em número a presença dos nazistas. A internet é a forma eficiente de se comunicar, disseminar apaganda nacionalista branca e recrutar.

Você mencionou que grupos de ódio são piores que o Estado Islâmico porque não é apenas recrutamento, é compartilhamento de informações. Você pode explicar isso?

Informação pode ter diversas formas. Uma pessoa pode encontrar um site cheio de propaganda, pseudociência, memes de nacionalistas brancos, vídeos e testemunhos de outros nacionalistas brancos no Youtube. Isso atrai recutas e oferece pontos de conversa que as pessoas podem postar em outros sites.

Informação também pode ter uma natureza violenta. Uma pessoa pode aprender como montar uma bomba ou quais armas são as mais letais para usar quando invadir uma sinagoga ou que horas é melhor usar uma armadura durante um ataque. Esses sites providenciam planos para aqueles que querem se envolver em uma ação violenta. Eles também encorajam as pessoas a se envolverem nessas ações.

O Departamento de Segurança liberou um relatório na semana passando dizendo que supremacistas brancos estão aprendendo técnicas com jihadistas sobre financiamento e coordenação global. Quão perigoso isso pode ser? Para que propósitos eles precisam de dinheiro e como eles o usariam?

Eu duvido que supremacistas brancos tenham o mesmo tipo de poupança que o Estado Islâmico, mas mesmo assim eles arrecadam dinheiro. Como na política, dinheiro compra a habilidade de alcançar maiores audiências e recrutar.

"O maior problema é que os grupos estão cada vez mais descentralizados e os ataques podem ser cometidos por um indivíduo sozinho que%2C de fato%2C se rebelou."

O homem que matou 22 pessoas no mercado em El Paso é um exemplo. O “manifesto” dele foi uma cópia de tantos sites neonazistas, mas ainda assim ele parece ter agido sozinho.

Diferentemente do Estado Islâmico, existe muitos grupos de ódio espalhados pelos Estados Unidos e pela internet. Eles podem se unificar em algum momento?

Provavelmente não, porque cada um deles tem um tipo diferente de ódio que os conecta.

Por que existem tantos grupos de ódio?

O aumento do número de grupos de ódio nos últimos anos é diretamente atribuído a linguagem, retórica e políticas vindas do presidente Trump. O presidente atiçou os medos, raiva, estereótipos existentes e ansiedades raciais e econômicas de milhões de brancos americanos marginalizados. 

"O presidente Trump se engaja em uma linguagem racista%2C xenófoba%2C misógina e anti muçulmana."

Ele diz para essa fatia dos americanos brancos que, se sua situação econômica piorou, se a cultura americana não é mais a mesma da sua juventude ou se você sente que o governo presta mais atenção a pessoas de cor e imigrantes, você tem o direito de agir de uma maneira incivil e violenta.

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O governo dos EUA pode investigar e proibir esses grupos de ódio?

Nós temos lei de ódio, mas o presidente não está destinando recursos para combater o aumento de crimes de ódio.

Por que os grupos não são considerados ameaça nacional? O que pode ser feito para barrar esse aumento?

O que nós precisamos fazer é monitorar melhor esses grupos e ter programas que basicamente reprogramem aqueles que foram induzidos ao ódio.

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