Tortura e condições terríveis: como é a prisão de dissidentes no Irã atacada por Israel
Ataque a complexo prisional em Teerã reacende denúncias sobre abusos e tratamentos cruéis de presos políticos
Internacional|Do R7

Um ataque aéreo israelense realizado nesta segunda-feira (23) atingiu a prisão de Evin, localizada no norte de Teerã, uma instalação notória por abrigar presos políticos e dissidentes iranianos.
Considerada um símbolo da repressão, a cadeia é conhecida mundialmente pelas condições degradantes e pelos métodos brutais empregados em seu interior.
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O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, confirmou a ofensiva, inserida num contexto de escalada de tensões entre os dois países.
Vídeos verificados pelo jornal The New York Times mostram uma grande explosão na entrada principal da prisão, além de danos significativos em uma segunda entrada do complexo, localizada próxima a um centro de visitação. Autoridades iranianas reconheceram danos estruturais, mas afirmaram que a prisão permanece sob controle.
Como é a prisão de Evin
Situada em uma colina no norte da capital iraniana, a prisão é cercada por cercas eletrificadas e até campos minados, o que evidencia seu caráter estratégico e sua importância para o regime. A ofensiva israelense destruiu partes do complexo, incluindo entradas principais e áreas próximas a centros de visitação, mas as autoridades iranianas afirmam que o controle do local permanece firme.
Desde sua inauguração em 1971, sob o governo do Xá Mohammed Reza Pahlavi, Evin já tinha fama internacional devido às condições “horríveis” enfrentadas pelos presos, como apontou a Human Rights Watch. Após a Revolução Islâmica de 1979, o regime de Khomeini utilizou o espaço para prender seus opositores, intensificando práticas como execuções sumárias em 1988, quando milhares foram mortos após julgamentos rápidos e arbitrários.
Atualmente, além de dissidentes iranianos, a prisão abriga detentos estrangeiros e cidadãos com dupla nacionalidade, muitos acusados de espionagem. Entre eles estão Cécile Kohler e Jacques Paris, cidadãos franceses que permanecem presos há anos em condições consideradas próximas da tortura pelas autoridades francesas, que chegaram a denunciar o caso na Corte Internacional de Justiça.
Ex-presos relatam torturas
Os relatos de ex-presos e organizações de direitos humanos pintam um quadro sombrio: longas sessões de interrogatório, tortura física e psicológica, humilhações constantes, confinamento solitário e até mesmo casos de estupro. A negação de atendimento médico adequado é rotina, especialmente para mulheres que sofreram abusos.
A jornalista italiana Cecilia Sala, presa e mantida em Evin em dezembro do ano passado, contou que ficou sem colchão, travesseiro e até seus óculos, o que dificultou sua visão. As luzes permaneciam acesas 24 horas, e durante os interrogatórios, que podiam durar horas, era vendada e obrigada a encarar a parede.
Uma característica cruel das prisões iranianas, Evin incluída, é o uso da chamada “tortura branca”, ou confinamento solitário extremo e prolongado. Em cela isolada, com luz artificial constante e ausência total de contato humano, presos são submetidos a intenso desgaste psicológico, muitas vezes levando à quebra da sanidade mental.
Este confinamento ocorre em alas controladas por diferentes órgãos do governo iraniano, como o Ministério da Inteligência, a Guarda Revolucionária e o judiciário. Cada setor utiliza táticas específicas de intimidação, com prisões que funcionam como verdadeiros “presídios secretos” sem qualquer supervisão oficial.
Irã tem outras prisões clandestinas
Além de Evin, existem inúmeros centros de detenção clandestinos, onde presos políticos são mantidos sob custódia de agentes de inteligência em locais não registrados oficialmente. Nestes, as violações de direitos são ainda mais severas e as torturas mais frequentes.
Os interrogatórios são ferramentas essenciais para o regime perseguir e intimidar ativistas, obrigando-os a assinarem confissões falsas, renunciarem publicamente às suas opiniões e delatarem colegas. A pressão inclui ameaças contra familiares e prolongamento indefinido da prisão.
O padrão de interrogatório evoluiu, saindo de questionamentos superficiais sobre a vida pessoal para uma investigação aprofundada das convicções políticas, laços com a imprensa e grupos de oposição. Muitas vezes, as sessões duram horas, ocorrem com os presos vendados e envolvem insultos, agressões e isolamento.
Organizações internacionais alertam que tais práticas violam tratados e convenções sobre direitos humanos, caracterizando tortura e tratamento desumano. A persistência dessas condições reforça o clima de medo dentro e fora das prisões, desestimulando qualquer forma de contestação ao governo.
O recente ataque israelense, embora tenha provocado danos materiais e gerado repercussão global, não modifica o quadro interno de violações sistemáticas dentro de Evin e das demais unidades de detenção. As histórias dos que sobreviveram continuam a denunciar um cenário de extremo sofrimento e opressão.
Embora Israel não tenha especificado as razões exatas para a ofensiva contra Evin, analistas especulam que o ataque possa ter motivações simbólicas, visando enfraquecer a imagem do governo iraniano, especialmente num contexto de tensão crescente entre Teerã e países ocidentais.
A prisão de Evin permanece operacional apesar dos ataques, com suas atividades continuando sob forte vigilância internacional e pressão de grupos de direitos humanos, que reiteram apelos para o fim das graves violações cometidas no local.
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