Trump pode ganhar o Nobel da Paz? Veja as chances reais e quem são os concorrentes

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acredita que merece o Prêmio Nobel da Paz. As casas de apostas, porém, discordam. Às vésperas do anúncio do vencedor, marcado para sexta-feira (10) em Oslo, as chances do republicano são de apenas 2,7%, segundo o site de apostas Polymarket. O índice chegou a 14,5% em agosto, mas vem caindo desde então.

Trump foi o sexto nome mais cotado na plataforma, atrás de organizações e personalidades ligadas a causas humanitárias. A lista é liderada pelas Salas de Resposta a Emergências do Sudão, uma rede de voluntários que atua em zonas de guerra e fome, com 26% das apostas. Em seguida aparecem Yulia Navalnaya, viúva do ativista russo Alexei Navalny, com 10%, o Tribunal Internacional de Justiça e Médicos Sem Fronteiras, ambos com 8%, e a agência da ONU para refugiados palestinos, a UNRWA, com 7%.

Mesmo com as probabilidades em baixa, Trump tem feito campanha pública pelo prêmio. Desde o primeiro mandato na Casa Branca, o republicano repete que “muitas pessoas” acreditam que ele merece ser reconhecido. Em fevereiro, durante encontro com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, declarou que “eles nunca me darão um Prêmio Nobel da Paz. Eu o mereço, mas eles nunca o darão a mim”.

Quando elenca razões para merecer o prêmio, Trump afirma que encerrou “seis ou sete guerras”, embora especialistas questionem esses números.

Na noite de quarta-feira (8), Trump afirmou que o governo de Israel e o grupo terrorista Hamas assinaram a primeira fase do plano de paz para colocar fim ao conflito em Gaza e que todos os reféns serão libertados em breve.

Segundo Trump, o exército de Israel vai retirar ‘suas tropas para uma linha acordada’. O presidente dos Estados Unidos afirmou que o acordo é o primeiro passo ‘em direção a uma paz forte e duradoura’.

A possível conquista de Trump foi endossada mais de dez vezes por aliados como Netanyahu, o premiê do Camboja Hun Manet e legisladores de países como EUA, Suécia e Noruega. O israelense chegou a afirmar que Trump estava “forjando a paz enquanto falamos”. Ainda assim, analistas descartam sua vitória neste ano.

A diretora do Instituto de Pesquisa da Paz de Oslo, Nina Graeger, diz que as ações do republicano vão na contramão do espírito do prêmio. “Vimos políticas que, na verdade, vão contra o testamento de Alfred Nobel, especialmente no que diz respeito à promoção da cooperação internacional, da fraternidade entre as nações e do desarmamento”, afirmou.

Durante seu governo, Trump retirou os Estados Unidos de acordos multilaterais, lançou guerras comerciais contra aliados e rivais, atacou a Organização Mundial da Saúde, rompeu o Acordo de Paris e mobilizou tropas dentro dos EUA para conter protestos. Também ameaçou cortar verbas de universidades como Harvard e Columbia, após críticas políticas das instituições.

A vice-presidente da Real Academia Sueca de Ciências, Ylva Engström, afirmou à Reuters que as medidas do republicano representam “riscos crescentes à liberdade acadêmica” e podem ter “efeitos devastadores” sobre a pesquisa científica.

O comitê do Nobel, formado por cinco especialistas indicados pelo Parlamento da Noruega, analisa anualmente centenas de nomes. Em 2025, foram 338 indicados, entre indivíduos e organizações. A lista completa é mantida em sigilo por 50 anos.

Segundo o presidente do comitê, Jorgen Watne Frydnes, o principal critério é o impacto concreto das ações em prol da paz. “Toda a organização ou personalidade é importante, mas o primeiro e principal aspecto que observamos é o que estão fazendo pela paz”, disse.

Analistas afirmam que o comitê tende a valorizar esforços sustentados de cooperação, em vez de vitórias diplomáticas rápidas. “Há uma enorme diferença entre acabar com conflitos no curto prazo e resolver as causas profundas”, destacou Theo Zenou, pesquisador da Henry Jackson Society.

Zenou acrescenta que a postura de Trump sobre as mudanças climáticas também pesa contra ele. “Não creio que concederiam o prêmio mais prestigioso do mundo a alguém que não acredita nas mudanças climáticas”, afirmou.

Em 2009, o comitê foi criticado por premiar Barack Obama poucos meses após o início de seu mandato como presidente dos EUA, o que reforça a cautela atual com líderes políticos em exercício.

O Prêmio Nobel da Paz será anunciado na sexta-feira, às 11h em Oslo, 6h no horário de Brasília.

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