Ucrânia espera nova ofensiva da Rússia, que volta a criticar Suécia e Finlândia por adesão à Otan
Tropas de Kharkiv (noroeste) são transferidas para o leste do país, região de controle estratégico para os russos
Internacional|Do R7
A Ucrânia se prepara nesta segunda-feira (16) para novos ataques na região leste do Donbass. A região estratégica é objetivo prioritário da Rússia, que voltou a alertar que a adesão da Suécia e da Finlândia à Otan pode gerar uma reação.
"Estamos nos preparando para novas ofensivas da Rússia no Donbass", afirmou o presidente ucraniano Volodmir Zelenski em um vídeo. Ele disse ainda que Moscou deseja "intensificar o avanço para o sul da Ucrânia".
De acordo com um conselheiro da presidência ucraniana, os russos estão transferindo tropas da região de Kharkiv, mais ao norte, para Lugansk, que ao lado de Donetsk forma o Donbass.
Após três semanas de tentativas frustradas, as tropas russas almejam completar o cerco de Severodonetsk, que virou a capital regional ucraniana desde que as forças separatistas respaldadas por Moscou tomaram o controle de uma parte do Donbass em 2014.
Apesar dos apelos reiterados das autoridades ucranianas para os moradores abandonem Lysychansk, separada de Severodonetsk pelo rio Siversky Donets e bombardeada com frequência, mais de 20.000 civis, de uma população de 100.000 antes da guerra, permanecem na localidade, de acordo com os voluntários que distribuem ajuda.
"Acho que as pessoas não entendem a situação completa", afirma à AFP Viktor Levchenko, policial que tenta convencer os moradores a deixar a cidade. "Temos que evitar os bombardeios e abrir passagem em condições muito difíceis para chegar a estas pessoas, alimentá-las e tentar retirá-las de suas casas", explica.
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A transferência das forças russas para o Donbass teria ajudado as tropas ucranianas a retomar a área ao norte de Kharkiv, a segunda maior cidade do país.
O ministério ucraniano da Defesa celebrou nesta segunda-feira que suas tropas "expulsaram os russos" da região de fronteira e publicou um vídeo que mostra soldados armados diante de um posto de fronteira pintado de azul e amarelo, as cores da bandeira da Ucrânia.
Enquanto isso, o ministério russo da Defesa anunciou o início de uma trégua na siderúrgica Azovstal, último reduto de resistência ucraniana na cidade de Mariupol, para retirar os feridos.
"Grave erro"
Ao mesmo tempo, a invasão da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, levou a uma aproximação de Finlândia e Suécia da Otan. Os dois países permaneceram afastados da Organização do Tratado do Atlântico Norte inclusive durante a Guerra Fria.
O presidente russo Vladimir Putin disse nesta segunda-feira não considera a decisão de Finlândia e Suécia de aderir à Otan como uma ameaça, mas que a presença de infraestrutura militar nestes países pode provocar uma resposta de Moscou.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Riabkov, disse que as candidaturas dos dois países à Aliança são um "grave erro" e terão consequências "consideráveis".
"Não estamos convencidos de que a adesão de Finlândia e Suécia à Otan vai reforçar ou melhorar a arquitetura de segurança no nosso continente", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
A Rússia justificou, entre outras alegações, a ofensiva contra a Ucrânia por sua aproximação da Otan e pelo apoio político, diplomático e militar da organização ao governo ucraniano. Moscou pretendia, desta maneira, afastar os ocidentais de suas fronteiras.
O governo da Finlândia anunciou oficialmente no domingo o desejo aderir à Aliança, enquanto a Suécia informou nesta segunda-feira que solicitará a entrada na organização.
Os pedidos demonstram que "uma agressão não se paga", afirmou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, antes de assegurar que a organização está pronta para reforçar as "garantias de segurança" para os dois países.
Também disse acreditar em um compromisso com a Turquia, que se pronunciou contra a adesão de Suécia e Finlândia.
Após uma reunião de ministros das Relações Exteriores dos países da Otan em Berlim, a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, afirmou que os países da Aliança não pouparão esforços, "especialmente em termos de ajuda militar" para a Ucrânia.
O chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, elogiou a mudança de postura de Berlim, que agora está disposta a fornecer armas pesadas a Kiev.
McDonald's e Renault
As sanções levaram diversas empresas estrangeiras a abandonar a Rússia.
A montadora francesa Renault anunciou nesta segunda-feira que vendeu seus ativos na Rússia ao governo do país, enquanto o grupo americano de 'fast food' McDonald's anunciou a saída total do território russo.
A Comissão Europeia reduziu drasticamente a previsão de crescimento econômico para a Eurozona este ano, de 4,0% para 2,7%, ao mesmo tempo que elevou a expectativa de inflação para 6,1%, uma consequência do impacto da guerra na Ucrânia.
De acordo com a Comissão, o "principal golpe" para o desempenho econômico "vem dos preços das matérias-primas energéticas".