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Veterana e determinada, presidente da Câmara nos EUA divide opiniões 

Nancy Pelosi é deputada há 30 anos e atual líder da oposição ao governo de Donald Trump. Sua trajetória é marcada por posturas firmes e pioneirismo

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Para muitos, palmas efusivas da deputada foram resposta sarcástica a Trump
Para muitos, palmas efusivas da deputada foram resposta sarcástica a Trump

“Ela é uma mulher que divide opiniões em seu entorno. Mesmo dentro de seu partido democrata, não é uma unanimidade — há quem admire e até quem odeie.”

É desta forma que Sidney Ferreira Leite, especialista em Relações Internacionais e Pró-reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, define a deputada americana Nancy Pelosi — que deu o que falar ao aplaudir Donald Trump durante seu discurso sobre o Estado da União, na última terça-feira (5).

Para muitos, as palmas efusivas da deputada foram uma resposta sarcástica ao pronunciamento do presidente — que falou sobre abraçar o potencial da “cooperação e do bem comum” após manter o governo fechado durante 35 dias por causa da discórdia entre democratas e republicanos a respeito de um muro na fronteira com o México. Leite acredita, por outro lado, que classificar a reação de Nancy como uma ironia é tirá-la de contexto.

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“Aquele foi o segundo discurso de Trump sobre o Estado da União e se deu em um contexto de dificuldade, logo após a paralisação do governo. Ele falava sobre a necessidade de cooperação entre partidos. A presidente da Câmara lia um texto. Ela abandonou o texto e começou a aplaudir a fala do presidente, que foi um aceno à importância das negociações entre democratas e republicanos. Julgar a simples imagem das palmas é uma descontextualização. Aquilo é um fragmento da realidade”, aponta o professor.


Trajetória de pioneirismo

Qualquer que tenha sido a intenção, o fato é que Nancy é presidente da Câmara dos Representantes — cargo semelhante à presidência da Câmara dos Deputados no Brasil — e a terceira maior autoridade dos Estados Unidos atualmente. Só fica atrás do próprio Trump e do vice Mike Pence.


A trajetória política da democrata, que tem 78 anos, é marcada pelo pioneirismo. Ela foi a primeira mulher a presidir a Câmara dos Representantes, no período de 2007 a 2011. Antes disso, entre 2003 e 2007, foi a primeira mulher líder dos democratas na Casa.

“Dentro do partido, é considerada mais liberal, com posicionamentos mais à esquerda. O consenso é que sua postura é sempre bastante firme. Ela entrou no partido Democrata nos anos 1960, se elegeu deputada em 1988 e, desde então, não só foi reeleita seguidas vezes como também liderou a bancada na Câmara”, lembra Leite.


Em diferentes momentos, Nancy Pelosi deu demonstrações bastante claras de ser fiel às suas convicções. Ela votou contra o uso de forças militares dos Estados Unidos no Iraque em 1991 e 2002 e já se mostrava a favor o casamento entre pessoas do mesmo sexo na década de 1990 — muito antes que as uniões fossem legalizadas em território americano, no ano de 2015. Durante o governo de Barack Obama, ainda foi uma das árduas defensoras da polêmica reforma do sistema de saúde nos Estados Unidos.

Alvo de críticas

Entre os americanos, 38% veem Nancy Pelosi de maneira favorável, de acordo com um levantamento divulgado no último mês pela Gallup Poll, empresa de pesquisa de opinião dos Estados Unidos. Outros 48% a encaram de forma desfavorável. “Ela costuma ser criticada e apontada como uma líder isolada em Washington. Por estar há muito tempo no Congresso, dizem que Nancy Pelosi é distante dos problemas reais de seus eleitores e da sociedade”, comenta o professor Sidney Leite.

“Mas o próprio fato de ter sido reeleita em um cenário de renovação do perfil da Câmara dos Representantes [assumiram cadeiras, pela primeira vez, mulheres muçulmanas e americanas de origem indígena, além de uma ex-refugiada] evidencia suas qualidades como política e estrategista”, pondera.

Determinação e firmeza

A última das amostras da determinação da deputada se deu, de fato, durante o mais recente shutdown — ou paralisação — do governo americano. Trump queria a aprovação de um orçamento de 5,7 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 20 bi) para o financiamento parcial de um muro na fronteira com o México, mas os democratas sob a liderança de Pelosi se mantiveram firmes em sua oposição ao fornecimento de dinheiro para a barreira.

O imbróglio foi suspenso temporariamente no dia 26 de fevereiro, com um acordo de gastos para três semanas. No próximo dia 15 de fevereiro, o presidente americano prometeu retomar a paralisação se não vir avanços nas negociações sobre segurança fronteiriça no Congresso. Em relação a Nancy Pelosi, entretanto, a tendência é que Trump se mostre mais aberto ao diálogo. Ao menos é o que avalia Sidney Leite.

“Em um primeiro momento, o presidente tentou desqualificar Nancy Pelosi. Mas diante do recuo em relação ao orçamento para o muro — que foi uma vitória para os democratas —, é possível acreditar que, daqui para frente, em vez de procurar embates, Donald Trump tente negociar com ela”, finaliza o especialista.

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