Abusos em consulta: médico teria praticado crimes sexuais contra pacientes de cinco cidades em MG
Após o caso mais recente, em Santa Luzia, polícia descobriu mandado de prisão contra o suspeito; profissional já foi preso pelo mesmo delito
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
O médico de 37 anos suspeito de abusar de um paciente durante atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Santa Luzia, na Grande BH, também é apontado como autor de uma série de crimes sexuais em ao menos outras quatro cidades mineiras.
Jânio Cândido Rosa Júnior chegou a ser preso entre os meses de outubro e dezembro do ano passado, em uma das investigações que corre na cidade de Nova Serrana, a 127 km de Belo Horizonte.
De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), desde janeiro deste ano há outro mandado de prisão em aberto contra ele, que ainda não foi cumprido. A determinação é feita com base nas denúncias feitas em Nova Serrana. A reportagem tenta contato com a defesa do médico, que é procurado pela polícia.
O R7 teve acesso a trechos do processo. O documento aponta que, em Nova Serrana, ao menos três homens foram vítimas de Jânio Cândido Rosa Júnior. O documento do TJMG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) também mostra a existência de supostas vítimas nas cidades de Divinópolis, São Sebastião do Oeste e Carmo do Cajuru, todas da região centro-oeste de Minas Gerais.
Um dos denunciantes é um carpinteiro, de 39 anos. Em entrevista ao R7, o morador de Nova Serrana contou que foi abusado durante consulta na noite de um plantão de sábado na UPA da cidade, no início de 2023. Ele procurou atendimento relatando dores na coluna. O paciente lembra que, durante a avaliação clínica, o médico tocou os órgãos genitais dele.
“Eu achei estranho. Quando eu saí do consultório, falei com os funcionários da UPA. Eles me orientaram a retornar na segunda-feira para denunciar ao coordenador. Retornei e eles acionaram a Polícia Militar para registrar o boletim de ocorrência”, relata o homem sobre o início da investigação do caso dele.
O investigado é apontado como sendo autor de crimes de acentuada gravidade, uma vez que os policiais identificaram uma similitude muito grande no modus operandi para praticar os abusos, por ser bem parecida a maneira como expõe as vítimas, e o método de fazer as vítimas crerem que estavam sendo submetidas a um procedimento adequado, enquanto estavam sendo tocados os seus órgãos genitais de forma libidinosa.
A reportagem procurou o CRM-MG (Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais) e as prefeituras das quatro primeiras cidades em que os abusos teriam sido cometidos. A Prefeitura de Nova Serrana informou que ele foi desligado assim que a denúncia surgiu. Na cidade, o médico fazia plantões esporádicos contratado por meio de uma empresa terceirizada, informou a Secretaria Municipal de Saúde. O contrato dele durou de outubro de 2022 a abril de 2023.
Os demais procurados não responderam a demanda até o momento.
“O inquérito instaurado em Nova Serrana foi relatado à justiça em 6 de novembro de 2023, com o indiciamento do suspeito pelo crime de violação sexual mediante fraude”, informou a Polícia Civil, que também investiga o caso de Santa Luzia.
Abuso em Santa Luzia
O abuso sexual em Santa Luzia aconteceu na Upa do bairro Santo Expedito, na última sexta-feira (12). A suposta vítima é um jovem de 22 anos.
O homem relatou à PM (Polícia Militar) que foi à unidade com fortes dores nas pernas. Durante a consulta, com a porta fechada, o médico tocou a perna e a virilha do jovem, indica o boletim de ocorrência.
O denunciante conta que o médico o levou para outra sala e disse que iria aplicar uma pomada para aliviar as dores. Neste momento, o especialista teria apalpado os órgãos genitais do paciente e pedido para ele ficar tranquilo, já que aquele seria um procedimento comum, segundo o médico.
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O paciente conta que questionou a postura do profissional. Uma faxineira estava no banheiro da sala e ouviu a conversa dos dois e confirmou a versão do paciente.
“Após o acionamento da polícia, o médico se retirou do local, inclusive deixando o veículo dele no estacionamento”, detalhou a tenente Cássia Souza, da Polícia Militar. O suspeito ainda não havia sido localizado até a noite deste domingo (14).
Em Santa Luzia, o médico era funcionário terceirizado na UPA. A companhia responsável pela contratação informou que suspendeu o contrato assim que foi informada sobre o ocorrido. “É com surpresa e repúdio que a Medplus recebe a notícia sobre o médico suspeito de importunação sexual. Quando o profissional se cadastrou para prestar serviços, em outubro de 2023, não havia restrição ao seu nome ou à sua conduta junto aos órgãos judiciais e Conselhos de Classe”, declarou a empresa.
A Prefeitura de Santa Luzia informou que o secretário de Saúde foi para a unidade assim que foi informado sobre o ocorrido.
“Se em janeiro de 2024 um mandado de prisão foi emitido contra ele, isso não foi informado à MedPlus e, consequentemente, tampouco chegou ao conhecimento da Secretaria Municipal de Saúde de Santa Luzia. A prestação de serviço dessa empresa à Prefeitura, a qual teve início há mais de 4 anos, desde outubro de 2019, sempre foi exemplar, não tendo jamais dado ensejo à desconfiança de qualquer incompetência”, ressaltou sobre a contratação do médico investigado.