Assessor que repassava salário para vereador mora em casa sem reboco
Idoso de 79 anos recebia R$ 11 mil por mês, mas ficava apenas com R$ 1.000, devolvendo R$ 10 mil para político do PSL; suspeito foi preso nesta terça-feira
Minas Gerais|Ezequiel Fagundes, da Record TV Minas
A Polícia Civil em Belo Horizonte descobriu que um dos assessores que repassava 90% do salário para o vereador Cláudio Duarte (PSL), preso nesta terça-feira(2), mora em uma casa sem reboco em um local simples no bairro Céu Azul, na Pampulha, em Belo Horizonte.
A região também é considerada um reduto eleitoral do parlamentar. Cláudio Duarte teve a prisão temporária decretada pela Justiça suspeito da prática conhecida como "rachadinha", quando o assessor repassa parte ou quase todo o salário para o político.
Com 79 anos de idade, o aposentado ficou registrado como funcionário do gabinete de Duarte na Câmara Municipal entre o dia 1º de janeiro de 2017 até 1º de maio de 2018. Teoricamente, durante esse período, o idoso recebeu R$ 11 mil por mês. Entretanto, segundo a investigação, o susposto assessor só ficava com R$ 1.000 e repassava R$ 10 mil para o vereador. No total, o vereador embolsou R$ 140 mil em 14 meses.
Para ter o domínio do suposto esquema, Duarte ficava com o cartão do banco e a senha do idoso. Nesta terça-feira, dia (2), a reportagem foi até a casa do ex-assessor, mas ele mudou de endereço há dois meses. Conforme relato de um vizinho, que preferiu não se identificar, o aposentado seria uma pessoa humilde.
— Ele pagava R$ 600 por mês de aluguel
O delegado Domiciano Monteiro, responsável pelo inquérito, afirma que a moradia do suposto assessor é incompatível com o salário que ele recebia.
— Esse funcionário foi contratado com salário de R$ 11 mil mensais. Desse valor, ele ficava somente com R$ 1 .000. Foi feito o levantamento de um senhor de idade. A casa dele nem reboco tem. É situada num beco, totalmente incompatível com o salário que ele oficialmente recebia. Isso é mais um indício. Nas investigações foram obtidos diversos elementos de prova. Além de provas testemunhais, há várias provas objetivas também.
Segundo o delegado, a estimativa é que o parlamentar embolsou pelo menos R$ 1 milhão com o esquema da "rachadinha" desde que ele tomou posse em 1º de janeiro de 2017. O vereador prestou depoimento e depois ele seria encaminhado para o presídio para cumprir, inicialmente, prisão temporária de cinco dias.
Endereços ligados ao político, incluindo a casa e o gabinete na Câmara Municipal, foram alvos de busca e apreensão de documentos e equipamentos eletrônicos. Além da prisão, ele foi afastado do mandato por 60 dias. Em entrevista, o advogado do parlamentar classificou a prisão de absurda e que comentaria mais sobre o assunto quando tiver acesso ao inquérito.