Minas Gerais Caso Backer: após dois anos, vítimas ainda relatam sequelas

Caso Backer: após dois anos, vítimas ainda relatam sequelas

Justiça começou a ouvir testemunhas do caso nesta segunda-feira (23) sobre as intoxicações causadas por cervejas da marca

  • Minas Gerais | Bruno Menezes, da Record TV Minas

Ao menos 10 pessoas morreram vítimas da intoxicação

Ao menos 10 pessoas morreram vítimas da intoxicação

Reprodução Record TV Minas

Foi realizada na tarde desta segunda-feira (23), no Fórum Laffayete, em Belo Horizonte, a primeira audiência para ouvir vítimas e testemunhas do caso de intoxicação causada por cervejas Belorizontinas, da marca Backer, contaminadas. 

Ao todo, seis pessoas foram ouvidas no primeiro dia de depoimentos, sendo quatro vítimas e duas testemunhas de acusação. Até a próxima quinta-feira (26), 28 pessoas devem depor no Fórum Laffayete. 

Giani Cláudia Setto Vieira, moradora de Viçosa, no Sul de Minas, foi a primeira vítima a depor na audiência. Durante os trabalhos, ela afirmou que comprou cervejas da marca Belorizontina no final de 2019 e as ingeriu até janeiro de 2020.

Após o consumo, a vítima afirmou que começou a ter episódios de vômito, dores lombares e na região dos rins. Ao procurar um médico, Giani Cláudia realizou exames de sangue e descobriu alterações. Ela foi encaminhada para passar por atendimento de um nefrologista. Emocionada, ela contou no depoimento que foi internada e passou a fazer homodiálise.

A segunda vítima ouvida é Josias Moreira de Mattos. Com dificuldades de fala e problemas de saúde, as perguntas direcionada a ele precisaram ser feitas de forma que ele respondesse apenas sim ou não. No depoimento, ele confirmou ter ingerido as bebidas. 

A terceira vítima ouvida foi o professor Cristiano Mauro Assis Gomes. No depoimento, a vítima relatou que passou por um transplante de rim em setembro de 2020. O órgão foi doado pela própria esposa. Devido a isso, ele não precisa mais fazer hemodiálise, mas faz uso de imunossupressores que resultam em efeitos colaterais. Cristiano está de licença médica do trabalho, ainda faz tratamento e apresenta restrições de movimento no rosto.  

O professor contou ainda que após ingerir cervejas contaminadas foi internado com insuficiência renal e apresentou distúrbios neurológicos como paralisia e alucinações auditivas. Cristiano ficou 44 dias internado no CTI (Centro de Tratamento Intensivo).

A quarta vítima a depor na audiência é Vanderlei de Paula Oliveira. Ele revelou ter sofrido sequelas após consumir a cerveja Belorizontina. Disse que, na época, não teve condições de saber o que estava acontecendo com ele. Afirma que o que sabe foi relatado pela família, já que ficou sem condições físicas e psicológicas. A vítima disse que na época teve parada respiratória, paralisia em todos os nervos periféricos do corpo e ficou três meses no CTI, além de mais 2 meses na enfermaria.

Vanderlei apontou que após receber alta, voltou para casa de maca e até hoje utiliza muletas para se locomover. A vítima relatou que ainda está em processo de recuperação e faz hemodiálise quatro vezes por semana.

Testemunhas

Após o depoimento das quatro vítimas, foi a vez da primeira testemunha depor. Tratava-se de um funcionário do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Na audiência ele relatou que técnicos do Ministério da Agricultura constataram uma substância estranha no processo de produção da cerveja. Resultados preliminares comprovaram a contaminação dentro da fábrica por dietilenoglicol e laudos de compras da substância também foram encontrados. Fatos esses que, segundo ele, levaram a notar uma situação suspeita no processo de produção da cerveja.

O funcionário do Mapa destacou que a investigação do ministério concluiu que a contaminação ocorria dentro da cervejaria e que nenhuma contaminação de produtos ocorreu fora da empresa. Os trabalhos também apontaram que lotes da cerveja sem qualquer relação entre si estavam contaminado e não havia uma padronização em relação às contaminações. Ao ser questionado pela defesa dos réus, Muller explicou que a utilização de dietilenoglicol e etilenoglicol não era proibida na indústria alimentícia.

A segunda testemunha do caso a depor, também funcionária do Mapa, afirmou na audiência que o consumo das substâncias de resfriamento estava atípico na fábrica, uma vez que trata-se de um sistema fechado, que não deveria ter necessidade de reabastecimentos, como estava ocorrendo. Ela ressaltou ainda que após o corrido na Backer, todas as indústrias de bebidas foram comunicadas para não utilizarem mais monoetilenoglicol e dietilenoglicol no sistema de resfriamento. 

Uma das vítimas que estava prevista para prestar depoimento nesta segunda-feira foi dispensada. Os depoimentos terminaram por volta de 16h40 com quatro vítimas e duas testemunhas ouvidas.

Veja abaixo o posicionamento da Backer: 

Entre os dias 23 e 26 de maio, ocorrerão audiências de instrução do processo conhecido como Caso Backer.
Nas referidas audiências, as testemunhas de acusação farão seus depoimentos. Dentre outros, serão ouvidos vítimas, fiscais e delegados.

Essa será a primeira etapa da coleta de provas. Nenhuma testemunha de defesa ou réus serão ouvidos nesse momento. E não há possibilidade, nessa fase, de conclusão do processo.

“Temos total interesse na apuração dos fatos associados às cervejas produzidas anteriormente à 2020 e, por isso, seguimos contribuindo ativamente com as investigações e com o trabalho dos órgãos de controle e fiscalização”, destaca Munir Lebbos, fundador da Backer.

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