Cervejarias artesanais mineiras investem em equipamento de ponta
Caso de contaminação de cervejas da Backer não impactou as vendas, mas setor se mexe para mostrar aos clientes segurança na produção da bebida
Minas Gerais|Lucas Pavanelli, do R7
Abalado com a repercussão dos mais de 30 casos de intoxicação por cerveja da Backer, o setor da cerveja artesanal de Minas Gerais investiu R$ 80 mil na compra de um cromatógrafo. O equipamento, que foi importado e chega no fim do mês, é utilizado para identificar a presença de dietilenoglicol e monoetilenoglicol na bebida.
Embora os representantes das cervejarias artesanais digam que as vendas não foram afetadas pelo caso da Backer, o setor se movimenta para dar mais credibilidade a seus produtos e sensação de segurança ao consumidor.
A aquisação do cromatógrafo é mais um passo, acredita o vice-presidente do Sindbebidas (Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais), Marco Falcone.
— Acreditamos que essas são atitudes pontuais que vão dar mais respaldo e confiabilidade.
Segundo o professor do Departamento de Química da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Bruno Botelho, que tem feito análises na fábrica da cervejaria Backer, a técnica é considerada "padrão ouro" para a determinação de mono e dietilenoglicol.
— É a mais recomendada pelo meio cientifico para a determinação destes compostos em diversas matrizes. O FDA, órgão americano que regula alimentos e fármacos, sugere esta mesma técnica para a determinação de mono e dietilenoglicol em pasta de dente, por exemplo.
No entanto, o professor diz que a substância encontrada pelas análises periciais da Polícia Civil em amostras da cerveja Belorizontina e outros nove rótulos da Backer, "não é comum nas cervejas".
Por isso, em geral, as análises realizadas por órgãos como a ASBC (American Society of Brewing Chemists), associação norte-americana responsável pelo controle de qualidade da cerveja não utilizam o cromatógrafo, mas equipamentos mais simples em suas análises.
Durante as investigações do caso Backer, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) analisou, em segredo, mais de 100 rótulos de cervejas nacionais e importadas e não encontrou traços de mono e dietilenoglicol nas amostras.
Falcone garante que das 89 cervejarias artesanais afiliadas ao Sindbebidas, nenhuma utiliza o mono ou o dietilenoglicol em seus processos de produção. A técnica mais comum é a utilização de uma mistura entre etanol potável e água. Nesse caso, se houvesse uma contaminação da cerveja com a mistura, o máximo que aconteceria é o aumento do teor alcoólico da bebida.
— Fizemos um termo documental com todos os associados, que afirmaram não utilizar produtos tóxicos, somente alimentícios, no processo de resfriamento da cerveja. Eles se comprometeram, também, a jamais usar.
Mercado
Minas Gerais tem o terceiro maior mercado produtor e consumidor de cerveja artesanal do país e vem registrando crescimento sólido nos últimos anos. Em 2018, o setor anunciou crescimento de 32% em relação ao ano anterior, superior à média nacional, que foi de 23%. Até 2018, eram 241 microcervejarias no Estado, 51 delas somente na região metropolitana de Belo Horizonte.
Donos de cervejaria em Minas não temem impacto sobre as vendas por causa da repercussão do caso Backer. Um argumento unânime é o de que o público que consome a cerveja artesanal é fiel e veio sendo conquistado nos últimos anos.
É o que diz Bruno Parreiras, dono da cervejaria Küd, que possui 32 rótulos entre permanentes e sazonais em 10 anos de mercado. Assim como a maior parte das cervejarias no país, o processo de refrigeração da bebida é feito a partir da mistura de etanol e água.
— A gente ficou muito preocupado com o impacto dessa crise mas, ao mesmo tempo, como fazemos um trabalho de formiguinha, a gente tem certeza que a visão do nosso público está bem alinhada com processo de produção.
Números do setor:
1757 empregos gerados entre janeiro e outubro de 2018
13% do total de cervejarias independentes está em Minas
20% crescimento médio anual do setor
2019 é o ano da inauguração da 1000ª cervejaria no Brasil
6.800 rótulos de cervejas registrados somente em 2018
4% do faturamento de cerveja no país vem das artesanais
3ºmaior produtor de cerveja artesanal no mundo, atrás de EUA e China