Chacina de Unaí: após 18 anos, 4 dos 7 réus respondem em liberdade
Os três presos já conseguiram progressão de regime, mas dois voltaram a cometer crimes; um está foragido
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
Passados 18 anos do assassinato de três fiscais do trabalho e do motorista deles, em Unaí, a 590 km de Belo Horizonte, quatro dos sete réus respondem em liberdade.
Um deles, Antério Mânica, ex-prefeito da cidade, apontado como mandante do crime, voltou ao banco dos réus nesta terça-feira (24). A reportagem procurou o TRF1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) para saber sobre o futuro dos outros três que respondem em liberdade, e aguarda retorno.
Três condenados foram presos. Todos eles já conseguiram progressão de regime, mas dois voltaram a cometer crimes e tiveram a prisão em regime fechado decretada novamente – um deles está foragido, segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Outras duas pessoas também estariam envolvidas na chacina, mas uma delas morreu e a outra teve o crime prescrito.
O assassinato aconteceu enquanto os funcionários da Delegacia do Trabalho de Minas Gerais faziam uma fiscalização rotineira. Havia relatos de exploração de trabalhadores na região. A reportagem tenta contato com a defesa dos acusados.
Veja abaixo a situação de cada um dos réus e a possível participação deles, conforme denúncia do MPF:
Mandantes:
1 - Antério Mânica: solto
Fazendeiro, irmão de Norberto Mânico, cujas propriedades rurais eram alvo frequente de fiscalizações, a maioria delas realizada pelo auditor-fiscal do trabalho Nelson José da Silva, lotado na gerência de Paracatu. Foi condenado a cem anos de prisão, mas o júri foi anulado. Três dias antes da anulação, Nelson juntou ao processo um documento registrado em cartório assumindo ser o mandante e inocentando Antério.
2 - Norberto Mânica: condenado e solto. Recorre em liberdade
Fazendeiro, irmão de Antério Mânica, também sofria fiscalizações frequentes em suas propriedades rurais. Condenado inicialmente a 98 anos de prisão, teve a pena reduzida para 65 anos de reclusão.
Executores:
3 - Erinaldo de Vasconcelos Silva: condenado, preso em regime domiciliar com tornozeleira eletrônica
Condenado como responsável por fazer os disparos, a convite do comparsa Rogério Alan Rocha Rios. Confessou que foi procurado por Francisco Elder Pinheiro, com quem combinou o pagamento de R$ 17 mil para cometer o crime. Condenado a 76 anos e 20 dias de prisão.
4 - Rogério Alan Rocha Rios: condenado. Conseguiu progressão de regime, mas cometeu outro crime. Hoje está foragido
Condenado como responsável por fazer os disparos. Assumiu o crime. Teria recolhido os celulares das vítimas e os jogado em um rio. Disse que recebeu R$ 6.000. Condenado a 94 anos de prisão.
5 - William Gomes de Miranda: condenado. Conseguiu progressão de regime, mas cometeu outro crime e voltou para o regime fechado
Acusado de ter sido contratado para atuar como motorista dos pistoleiros durante a chacina, além de fazer o levantamento dos passos dos auditores-fiscais do trabalho depois que estes deixassem o hotel em que estavam hospedados em Unaí. O pneu do carro de Miranda furou, portanto ele não esteve na cena do crime. Confessou ter recebido R$ 11 mil pela participação. Condenado inicialmente a 56 anos de prisão, teve a pena reduzida para 46 anos e 8 meses.
Intermediários do crime:
6 - Hugo Alves Pimenta: condenado. Solto, recorre em liberdade
Empresário. Acusado de ser intermediário da execução das vítimas, mediante o pagamento de R$ 45 mil pelas quatro mortes. Condenado a 31 anos de reclusão. Recorre em liberdade.
7 - José Alberto de Castro: condenado. Solto, recorre em liberdade
Empresário. Foi acusado de ter sido intermediário na contratação dos executores, a pedido do amigo Hugo Alves Pimenta. Para tanto, mantivera contato com o sitiante Francisco Elder Pinheiro, o qual arregimentara o grupo. Condenado a 58 anos de reclusão. Recorre em liberdade.
Contratante dos matadores:
8 - Francisco Elder Pinheiro: morreu
Foi apontado como o encarregado de montar a estrutura logística para os crimes e de também ter acompanhado a execução do plano pessoalmente. Confessou haver sido o responsável pela contratação dos executores, bem como pelo recebimento do dinheiro das mãos de José Alberto de Castro. Morreu, vítima de um AVC, em janeiro de 2013.
Contratado para apagar provas:
9 - Humberto Ribeiro dos Santos: crime prescrito
Contratado por Erinaldo de Vasconcelos Silva para arrancar a folha do livro de registros do Hotel Athos, em Unaí, onde os executores estiveram hospedados, pois Rogério Alan Rocha Rios lembrou-se de haver fornecido seus dados verdadeiros ao registrar-se no estabelecimento. Não estabeleceu preço pelo serviço.