"Critica até o que eu falo", escreveu Lorenza sobre o marido promotor
Em diário escrito antes de morrer em BH, a mulher relatou o desgaste na relação e distanciamento do companheiro
Minas Gerais|Vanda Sampaio, da Record TV Minas
Cartas e diários escritos por Lorenza Maria Silva de Pinho nos últimos anos relatam os momentos conturbados que ela viveu com o marido, o promotor André Luís Garcia de Pinho, acusado de matá-la no último dia 2 de abril em Belo Horizonte.
A Record TV Minas teve acesso a trechos do material recolhido pela força-tarefa que investigou as circunstâncias da morte. Os documentos indicam que o casal passava por uma fase difícil no relacionamento.
Em uma das primeiras páginas de um diário, Lorenza deixou um aviso pedindo que o bloco não fosse lido e justifica. "Aqui tem guardadas informações particulares, pensamentos, sonhos, desabafos, assuntos delicados relativos à minha vida e minha rotina".
Em outro trecho endereçado ao marido, ela se dedicou a destacar a instisfação com algumas situações do relacionamento: "Queria muito que você entendesse que o quão penoso vem sendo este tempo para mim. Me sinto sozinha... Você está corrigindo meu jeito de falar a todo momento. Você critica até o que eu falo".
De acordo com a os membros da investigação, Lorenza desconfiou da fidelidade de André Pinho. "Acabou, né? Apenas dormir na mesma cama... Peço que você seja honesto como se tivesse falando com Deus", escreveu em uma das páginas da agenda.
Depressão
Segundo relatos da família, Lorenza enfretou um quadro de depressão profunda desde 2013, que se agravou com a morte da mãe dela.
Problemas financeiros teriam abalado ainda mais o quadro de saúde e a relação do casal Pinho. Apesar do promotor ter um salário de quase R$ 30 mil, conforme mostrou a reportagem em primeira mão, eles foram despejados de um apartamento que o André comprou por R$ 2,7 milhões e não pagou o financiamento.
"Não está fácil. Nem um pouco fácil. Essa questão financeira está literalmente me matando, dia após dia, segundo após segundo. Perdeu a graça o estresse venceu a vontade de ser feliz", relatou Lorenza.
Lorenza chegou a relatar os dramas vividos durante a pandemia de covid-19: "Vida Restrita. Não tenho amigos. Não tenho com quem conversar, desabafar. Autoextermínio. Problemas familiares atuais devido à pandemia".
O material das cartas e diários foi periciado e os investigadores confirmaram a autenticidade da caligrafia de Lorenza.
Investigação
A força-tarefa formada pelo Ministério Público de Minas Gerais e pela Polícia Civil concluiu que Lorenza foi intoxicada e asfixiada pelo marido.
A motivação seria o desgaste no relacionamento. "O casal tem cinco filhos. A Lorenza quase não saía do quarto e não conseguia mais exercer o papel de mãe e esposa que ele esperava. Ela acabou se tornando uma espécie de peso na vida dele", afirmou a promotora Gislaine Testi Colet ao fim das investigações.
A defesa de André Pinho afirma que o cliente é inocente e que não há indícios que comprovem o assassinato de Lorenza. O promotor está preso preventivamente em Belo Horizonte .