Escalada da dengue em MG pode ter relação com o El Niño, apontam especialistas
Fenômeno que aquece as águas do Pacífico eleva a temperatura no sudeste brasileiro, tornando ambiente propício ao Aedes aegypti
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
O aquecimento das águas do oceano Pacífico, fenômeno conhecido como El Niño, pode ser uma das causas da escalada de casos de dengue em Minas Gerais em 2024, conforme explicam especialistas ouvidos pelo R7. Segundo a SES-MG (Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais), o estado deve enfrentar a maior epidemia da doença da história.
O próprio Governo Estadual levanta a possível relação dos casos com o fenômeno. "O número de casos [de dengue] começou a subir cedo neste ano. Geralmente ocorre entre fevereiro e março, mas desta vez já aconteceu um aumento expressivo no mês de janeiro, muito ocasionado pelo El Niño, que traz altas temperaturas associadas às chuvas - tudo que o Aedes aegypti precisa para se reproduzir mais e em menor tempo", comenta Eduardo Prosdocimi, subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG.
De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o fenômeno está ativo desde junho de 2023 e deve ser prolongar até abril deste ano. "Aqui no sudeste brasileiro, a influência do El Niño está mais ligada ao aumento da temperatura. Em termos de chuva, ela acontece dentro da média esperada, mas muda o comportamento. As chuvas ficam com distribuição irregular, ou seja, pode chover em grande quantidade em um curto espaço de tempo", detalha o meteorologista Claudemir de Azevedo, do Inmet.
Os dados do Instituto apontam que, em 2023, apenas o mês de janeiro registrou temperatura abaixo da média em Belo Horizonte. Os demais ficaram acima do esperado. A partir de junho, quando o El Niño passou a operar sobre o clima, os termômetros subiram ainda mais, chegando a quase 5º C além da média esperada.
O médico Mauro Teixeira, também professor e pesquisador que trabalha com a dengue na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), destaque que a atual epidemia na capital mineira tem um perfil parecido com a registrada em 2016, ano também de El Niño, quando Minas Gerais registrou um dos recordes de casos.
O especialista ressalta que outros fatores também podem ter contribuído para o cenário. Um deles é a ocorrência cíclica da doença, que costuma ter surtos a cada três ou quatro anos. "A gente esperava uma epidemia em 2022. Ela não aconteceu e nem ocorreu em 2023. Estamos há cinco anos sem epidemia. Com isto, muitas pessoas estão mais suscetíveis ao vírus. Tudo isso com a relação climática nos deixa com uma probabilidade alta do vírus se espalhar", exemplifica.
Raio-x da dengue
Até esta quarta-feira (21), Minas Gerais tinha 28 mortes causadas por dengue e 86.184 moradores infectados, segundos dados da SES-MG. O boletim do Ministério da Saúde coloca o estado em segundo lugar no ranking de incidência. São 1.132,9 casos a cada 100 mil habitantes. Minas só perde para o Distrito Federal, que tem 2.874,6 registros a cada 100 mil habitantes.
"Quando olhamos os dados, observamos que não estamos nem perto de chegar ao pico da doença. Isso deve acontecer daqui a mais ou menos duas semanas e durar por mais cinco semanas. Depois disso, as infecções devem cair - o que ocorre, geralmente, por questões meteorológicas, com a redução da temperatura", avalia Mauro Teixeira sobre o cenário em Minas Gerais.