Faculdade de medicina de BH ensaia volta às aulas e assusta alunos
A Ciências Médicas contactou a prefeitura para voltar com as práticas em laboratório, mas ainda não tem data de retorno; decisão surpreendeu alunos
Minas Gerais|Luíza Lanza*, do R7
A Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais solicitou à Prefeitura de Belo Horizonte autorização para retomar as aulas práticas presenciais durante a pandemia do novo coronavírus.
Na quinta-feira (4), a instituição publicou nas redes sociais um comunicado em que afirmava ter feito contato direto com a secretaria municipal de Saúde para "oficializar e garantir de forma segura e dentro da legalidade esse retorno, respeitando as diretrizes e as normas sanitárias para a segurança dos alunos, professores e colaboradores".
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De acordo com a Faculdade Ciências Médicas, em um possível retorno, as turmas seriam reduzidas, limitando a permanência de pessoas no prédio e em cada laboratório, mantendo o distanciamento entre os alunos e o uso de equipamentos de proteção individual.
As aulas teóricas permaneceriam em regime remoto, como estão desde março, quando a Prefeitura de BH proibiu o funcionamento de serviços não essenciais para conter a aglomeração de pessoas e, assim, diminuir a propação do vírus.
Para o diretor geral da instituição, José Celso Cunha Guerra Pinto Coelho, "existe o entendimento da secretaria municipal de Saúde que é possível o retorno das atividades práticas assistenciais, respeitando a legislação, protocolos específicos e distanciamento social".
Em seu perfil pessoal em redes sociais, o diretor já havia publicado que, após negociação, havia conseguido autorização para "retornar as atividades práticas dos alunos do 1° ao 4° ano dos cursos de graduação".
A insituição, porém, não confirmou se recebeu a autorização da Prefeitura de BH e informou que "quaisquer outras informações que estejam divergentes do conteúdo publicado nos nossos canais oficiais, não podem ser consideradas como procedentes". Ainda não há uma data de retorno das atividades.
Alunos
As duas publicações da Ciências Médicas referentes ao assunto somam mais de 700 comentários, entre alunos que apoiam a volta das atividades e aqueles que se indignaram com o comunicado.
Uma aluna de 19 anos, que cursa o 2° período do curso de medicina, conta que ficou sabendo da decisão através da publicação no perfil pessoal do diretor. Para ela, a decisão pegou todo mundo de surpresa.
— Eles mandaram apenas um aviso por email informando que estavam vendo algumas possibilidades. Mas, quando a gente viu esse post do diretor, a gente ficou bem confuso porque ninguém estava esperando por isso.
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Ela é contra a volta das atividades por se tratar de uma questão de "empatia". Para a estudante, os funcionários e colaboradores que dependem do transporte público, além dos estudantes de outras cidades que teriam que enfrentar os ônibus intermunicipais para voltar para as aulas, estariam mais expostos à contaminação com a retomada das práticas.
— A princípio, todo mundo ficou revoltado, porque tem muita gente no interior, muita gente que tem pais ou avós no grupo de risco, então foi um repúdio total. Eu não acho que seja o momento de se arriscar. Neste momento atual do Brasil, não estávamos esperando esse posicionamento, tendo em vista as milhares de mortes por dia que estão acontecendo.
De acordo com os alunos, a faculdade ofereceu duas opções para quem, por motivos pessoais, opte por não retomar as aulas junto com a turma: fazer a matéria posteriormente em um outro período ou trancar a matrícula e suspender o semestre letivo.
Um estudante do 11° período, de 25 anos, se questiona se a volta das atividades presenciais é um prioridade coletiva neste momento de enfrentamento à pandemia em BH.
— Todos nós, que escolhemos medicina ao fazer o vestibular, gostaríamos de estar ajudando as pessoas, mas até que ponto nós estaremos ajudando voltando às aulas agora? Entendo que a faculdade quer minimizar o prejuízo na nossa formação com essas medidas, mas me questiono até que ponto esse esforço para viabilizar um calendário acadêmico é mais relevante do que o esforço em reduzir o risco de infecção pelo coronavírus, esforço que está sendo priorizado no mundo todo.
Em contato com a reportagem, alguns alunos preferiram não se manifestar temendo retaliações. Por causa disso, os nomes dos entrevistados não foram divulgados.
*Estagiária do R7 sob a supervisão de Lucas Pavanelli