Filha de promotor de BH relata depressão profunda da mãe morta
Em entrevista exclusiva, jovem relatou que Lorenza Maria Silva de Pinho "potencializava" efeitos de remédios com bebidas alcoólicas
Minas Gerais|Shirley Barroso, da Record TV Minas
Uma das cinco filhas do promotor preso em Belo Horizonte suspeito de assassinar a esposa relatou, nesta sexta-feira (9), um quadro de depressão profundo sofrido pela mãe morta no último dia 2 de abril.
Em entrevista exclusiva à Record TV Minas, a jovem de 15 anos e o irmão mais velho, de 16 anos, afirmaram que acreditam na inocência do pai, o promotor André Luís Garcia de Pinho. Os adolescentes tiveram a identidade preservada.
A jovem relatou que Lorenza Maria Silva de Pinho começou a desenvolver o quadro depressivo em 2012, após a morte de sua mãe. A adolescente afirma que a situação se agravou com os constantes ataques dos quais a família foi vítima enquanto o pai atuou na 11ª Promotoria de Combate ao Crime Organizado e Investigação Criminal. O casal já foi atacado na rua e criminosos atiraram contra a fachada do prédio onde moravam.
— Nas últimas duas semanas, ela [a mãe] praticamente não saía do quarto. Estava inchada, evitava a realidade, dormia com a ajuda de medicamentos e, quando não eram suficientes, ela os potencializava com bebida alcoólica.
Um aborto sofrido em uma gestação de 6 meses teria abalado ainda mais Lorenza. A filha adolescente lembra que a mãe se sentia fraca e caía com frequência. A família teve que improvisar uma estrutura dentro do quarto para ela se mover com segurança. Os filhos também relatam que Lorenza já tentou tirar a própria vida.
A jovem citou o afastamento de Pinho da Promotoria de Combate ao Crime Organizado por baixa produtividade, em 2018. Na época, o Ministério Público alegou que ele deixou de comparecer ao trabalho por 195 dias no período de três anos.
— Ele [o pai] abriu mão da carreira de promotor para cuidar da minha mãe.
O filho mais velho de Lorenza e Pinho, de 16 anos, deu mais detalhes sobre o episódio.
— A minha mãe tinha sofrido um abordo pesado na época. Não tinha como ele cuidar de nós, da minha mãe e trabalhar ao mesmo tempo.
Dia da morte
O jovem lembra que todos os irmãos estavam em casa no dia da morte da mãe. Ele relata que acordou com a movimentação na casa, entre o fim da magrudada e o início da manhã do último dia 2 de abril.
— Quando eu acordei escutei o barulho da sirene e meu pai veio, muito triste, falar que a mamãe havia falecido. Eu não acreditei na hora.
A irmã do rapaz relatou como foi a noite e o dia anterior à morte. Segundo ela, Pinho passou toda a quinta-feira (1º) com a esposa no quarto. Segundo a filha, Lorenza não queria sair do local por não se sentir bem, em função da depressão.
Durante a noite, ele assistiu a um programa de TV com ela e o irmão caçula, na sala, mas depois voltou para o quarto. Durante a magrudada, ela foi acordada pelo pai.
— Ele me disse que a minha mãe estava passando mal e pediu para eu ficar com o meu irmão caçula. Eu não saí do quarto porque não era novidade para mim a minha mãe passar mal. Ouvi o barulho da ambulância e um entra e sai da casa. Depois o silêncio. Eu liguei para o meu pai e ele chegou chorando falando que ela havia falecido.
Os adolescentes lamentam que não puderam "viver o luto" da morte da mãe. A menina desabafa que mesmo quando as investigações acabarem, o trauma vai permanecer, afirmando que "perder a mãe e o pai em quatro dias é difícil".
— Só espero que a gente consiga dar um ponto final nesta história, que meu pai volte para casa, que a gente consiga se reerguer como família e que minha mãe consiga descansar. Ela nao conseguiu descansar.