O Primeiro Tribunal do Júri de Belo Horizonte condenou a 21 anos e 8 meses de prisão, nesta terça-feira (19), o médico Álvaro Ianhez, de 77 anos, pela morte de Paulo Pavesi. O caso aconteceu em Poços de Caldas, a 420 km de Belo Horizonte, em 2000, quando a vítima tinha 10 anos. De acordo com a denúncia, o menino, que estava internado em um hospital da cidade, teve a morte cerebral confirmada indevidamente para a retirada de quatro órgãos, que foram encaminhados para doação. O médico foi condenado por homicídio qualificado por motivo torpe e devido à menoridade da vítima na época do caso. Cabe recurso à decisão, mas o juiz Daniel Chaves não autorizou ao sentenciado responder em liberdade. "A conduta praticada pelo acusado se mostra extremamente censurável na medida em que o réu praticou o delito se valendo de sua condição de médico, inclusive com atuação na Central de Transplantes da localidade, com grave repercussão social. Neste último ponto, deverá haver uma individualização no tocante ao presente condenado para agravamento da censurabilidade em relação aos corréus já sentenciados. Ademais, ele se valeu em concurso com outros profissionais para concorrer à extração de quatro órgãos da vítima", comentou o juiz ao proferir a sentença.A acusação Na denúncia, o MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) alegou que os médicos envolvidos no caso seriam legalmente proibidos de atestar a morte de Paulo, já que tinham interesse no transplante de órgãos. "Ele é o dono da quadrilha, dono da quadrilha que faz o implante do rim retirado de maneira irregular na Santa Casa de onde era o diretor. Ele fazia coleta dos rins, fazia a retirada das córneas sem ter a autorização para isso", disse o assistente de acusação. Após a condenação, os promotores de Justiça que atuaram no caso afirmaram que o resultado traz uma gota de alento e esperança à família de Pavesi. "De tanta dor diante da morte que o Paulinho causou, o sentimento não é de felicidade. É uma gota de alívio, de alento e de esperança na justiça que a gente tem diante de um mar de tanta tristeza e tanta impunidade", concluiu o promotor de Justiça Giovani Avelar. O membro do MPMG afirma que a acusação não vai recorrer para tentar aumentar a sentença, já que, para o MPMG, a pena foi condizente com o que deveria ser. "Ele tentou um salvo-conduto no Tribunal de Justiça de Minas Gerais a fim de que não fosse expedido esse mandado de prisão em caso de condenação. Pedido que foi negado. Também tentou uma liminar no STJ, que foi negada, também em publicação do dia 13 de abril. Agora, há contra ele um mandado de prisão expedido. Independentemente de recurso, o mandado de prisão será cumprido. O Ministério Público vai tomar as providências necessárias para que a prisão seja cumprida", afirmou a promotora Ana Cláudia Lopes.Resposta Ianhez participou da audiência via chamada de vídeo, diretamente de São Paulo. O juiz determinou a expedição de uma mandado de prisão contra ele. O advogado Luiz Chimicatti, que defende o médico, disse que já recorreu da decisão. "Vamos tentar evitar que esse mandado se cumpra, utilizando os meios legais, até porque os outros acusados conseguiram liberdade para aguardar o julgamento", afirmou o advogado. Chimicatti diz que vai tentar reverter a condenação. Ele não detalhou os argumentos que vai apresentar à Justiça, mas pensa que a sentença é ilegal. "O meu cliente está sendo acusado juntamente com os outros acusados. O que o Ministério Público trouxe para a discussão foi justamente a situação que envolve os outros acusados. Se o meu cliente fosse julgado objetivamente e sozinho, não teria prova objetiva nenhuma contra ele", disse. Paulo Pavesi foi internado na Santa Casa de Poços de Caldas após cair de uma altura de 10 metros, enquanto brincava com amigos no prédio em que morava com a família. Dois dias depois, ele foi dado como morto. A denúncia do MPMG alega que o grupo de médicos forjou o óbito, por meio de ações e omissões voluntárias, no intuito de destinar os órgãos do menino a doação. Em janeiro de 2021, José Luis Gomes da Silva e José Luis Bonfitto foram condenados a 25 anos de prisão. Eles ganharam o direito de recorrer em liberdade. O anestesista Marcos Alexandre Pacheco foi inocentado. Paulo Airton Pavesi prestou depoimento remotamente, já que está morando na Itália. As audiências foram suspensas no fim da noite e retomadas na manhã seguinte. A sentença saiu no início da tarde. Segundo os advogados da família Pavesi, o pai da vítima passou mal durante o dia e precisou ser levado para o hospital.