Lavrador escapa da tragédia da Vale ao parar para conversar com amigo
Morador de Córrego do Feijão, povoado parcialmente devastado pelos rejeitos da barragem, iria entregar currículo no complexo de minas
Minas Gerais|Paulo Henrique Lobato, enviado do R7 a Brumadinho (MG)
O lavrador Alcir Carlos dos Santos, de 40 anos, acredita que só não engrossou a estatística de mortes causadas pelo estouro da barragem da Vale, em Brumadinho, em 25 de janeiro passado, por que gosta de prosear.
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Ele estava levando um currículo para ser entregue no escritório de uma terceirizada da mineradora, que fica no próprio complexo de barragens, quando encontrou um amigo no meio do caminho, a cerca de 1 quilômetro do local da tragédia:
— Daí eu parei para conversar com o Douglas, um colega. Era pouco depois do meio-dia. Conversamos por muitos minutos, aqui mesmo, na praça de Córrego do Feijão.
Córrego do Feijão é um dos dois lugarejos de Brumadinho devastados parcialmente pela avalanche de lama de minério de ferro da Vale. O outro povoado é Parque da Cachoeira.
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— Durante a conversa com o Douglas, eu vi uma nuvem grande de poeira. Naquele momento, eu não imaginei que a represa havia estourado. Se eu não tivesse parado para conversar com ele, certamente estaria lá, no escritório, que fica próximo ao restaurante levado pela lama. Eu estaria morto. Era para eu estar debaixo da lama também.
O lavrador queria tentar a sorte para trabalhar na área de instalação de equipamentos ou em serviços gerais. Após entender o que havia ocorrido, ele se desesperou.
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Santos não está desempregado. Ele ganha a vida como funcionário numa granja de porcos, a 1 quilômetro de Córrego do Feijão, onde travalha na lida com os animais e na lavoura. Como todos os moradores do lugarejo, ele também perdeu muitos amigos:
— Dezenas. Vários mesmo. Quando tudo isso vai terminar?