Queda de barragem em minas

Minas Gerais MPF apura demora para indenizar pescadores por tragédia de Mariana

MPF apura demora para indenizar pescadores por tragédia de Mariana

Inquérito aponta que, cinco anos após o rompimento da barragem da Samarco, pescadores sem registro ainda não conseguiram ter acesso a auxílio

  • Minas Gerais | Pablo Nascimento, do R7

Barragem da Samarco rompeu em novembro de 2015

Barragem da Samarco rompeu em novembro de 2015

Antônio Cruz/ Agência Brasil

O MPF (Ministério Público Federal) informou, nesta quarta-feira (1º), que abriu um inquérito para investigar a “demora excessiva” para que pescadores informais que perderam a renda no rompimento da barragem de Mariana, em 2015, recebam o auxílio financeiro que têm direito.

No centro das investigações está a Fundação Renova, instituição criada para controlar todas as ações de reparação dos danos causados pela tragédia que matou 19 pessoas, despejou lama de rejeitos no Rio Doce e deixou centenas de famílias desabrigadas.

De acordo com o MPF, os problemas analisados são referentes a pescadores que não possuem documentos de pesca profissional, mas que exerciam a atividade como fonte de renda ou para se alimentar. Como o Rio Doce foi poluído, eles ficaram sem ter onde pegar os peixes.

A investigação foi iniciada após um morador da cidade de Belo Oriente, a 253 km de Belo Horizonte, denunciar, em 2018, que havia procurado a fundação por diversas vezes e, ainda assim, não estava recebendo a ajuda de custo.

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Na época, segundo o MPF, a Renova alegou que o atingido pela barragem chegou a ser atendido por um dos programas de indenização, mas foi excluído por não apresentar provas sobre o dano sofrido. A instituição também informou que o projeto era destinado a pescadores com registro de pesca profissional, enquanto o do morador era de “pesca amadora”.

Ainda de acordo com os responsáveis pelo inquérito, na época, a Fundação informou que estava revendo as políticas de ressarcimento para conseguir atender aos pescadores informais, que não conseguiam comprovar o impacto que o rompimento da barragem da Samarco teve na vida deles. Passados cinco anos da tragédia, segundo o MPF, a situação segue sem solução.

“Na verdade, toda essa demora é inconcebível diante do tempo transcorrido desde o rompimento da barragem”, alegou o procurador da República Helder Magno da Silva.

De acordo com o MPF, o órgão já pediu à Renova uma lista com o número de atingidos pelo rompimento que não têm o registro de pesca profissional.

Outro lado

A Fundação Renova, em nota, confirmou que recebeu um ofício do MPF nesta terça-feira (30). Disse, ainda, que desenvolveu uma metodologia, chamada Pescador de Fato, para conseguir reconhecer os pescadores que não conseguem comprovar o exercício da profissão. Esse método foi adotado como projetos-piloto em algumas comunidades e deve ser estendido por toda a calha do rio Doce. 

Segundo a Fundação Renova, o projeto demanda reuniões presenciais e que, diante da pandemia, "adotou medidas de isolamento nos territórios onde atua. Somente após o fim desse período, será possível dar início às etapas do Pescador de Fato nas comunidades".

O projeto piloto do Pescador de Fato permitiu o reconhecimento de 150 pescadores, que estão aptos a receber indenização.

Confira a íntegra da nota da Fundação Renova:

"A Fundação Renova confirma que recebeu ontem (30/06) um ofício do Ministério Público Federal (MPF) sobre a instauração do inquérito civil que vai investigar o atendimento aos pedidos de auxílio financeiro feitos por pescadores informais ou autodeclarados pescadores “de barranco” ou de subsistência e que vai responder o órgão dentro do prazo estipulado.

A Fundação reitera que, para identificar pescadores comerciais artesanais que não conseguem comprovar o exercício da profissão, desenvolveu a metodologia do Pescador de Fato que foi aplicada como projeto piloto em algumas comunidades e irá se estender para a calha.

A execução desse projeto demanda reuniões presenciais logo na sua primeira etapa, chamada de Cartografia. Essa etapa visa a traçar um retrato da atividade no local, por meio de mapas, desenhos e narrativas coletivas dos pescadores que contam como funciona a rotina em cada comunidade pesqueira artesanal em reuniões presenciais.   

Diante da pandemia do coronavírus e de acordo com as recomendações dos órgãos de saúde na esfera municipal, estadual e federal, a Fundação Renova adotou medidas de isolamento nos territórios onde atua. Somente após o fim desse período, será possível dar início às etapas do Pescador de Fato nas comunidades

A aplicação de um projeto piloto do Pescador de Fato, concluído em dezembro de 2019, possibilitou o reconhecimento de 150 pescadores – sendo 14 mulheres – que atuavam sem o documento de ofício ativo e que estão aptos a receber indenização pelos danos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG).

Uma vez finalizado o projeto piloto, a Fundação Renova decidiu expandir a aplicação da metodologia do Pescador de Fato para atendimento nos municípios atingidos localizados na calha e foz do rio Doce.

Até abril de 2020, a Fundação pagou a 6,3 mil pescadores do Espírito Santo um total de R$ 598 milhões em Auxílio Financeiro Emergencial (AFE) e R$ 442 milhões em indenização. Um total de 5,4 mil pescadores de Minas Gerais receberam R$ 518 milhões em Auxílio Financeiro Emergencial (AFE) e R$ 127 milhões em indenizações."

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