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Número 3 da Saúde teria driblado investigação sobre fura-filas em MG

Áudio vazado indica que chefe de gabinete teria sugerido tirar servidores vacinados do teletrabalho para "evitar exposição"

Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7

Governo de MG diz que vai investigar gravação
Governo de MG diz que vai investigar gravação

Um áudio vazado de uma reunião entre membros da SES (Secretaria de Saúde de Minas Gerais) indica que o chefe de gabinete da pasta, João Pinho, teria tentado driblar as investigações que apuram um possível fura-filas da vacina da covid-19 dentro da secretaria.

A tentativa foi revelada pela rádio Itatiaia e confirmada pelo R7, que teve acesso à gravação do encontro, com duração de 43 minutos.

No áudio, um homem que se apresenta como o chefe de gabinete, sugere que dois servidores vacinados contra a covid-19 pela Secretaria de Saúde deixem o trabalho remoto e voltem ao presencial para "evitar exposição". Ele ainda relata que iria avaliar a mudança de um resolução da pasta que trata sobre o regime de trabalho para evitar questionamentos.

O homem explica que a preocupação surgiu enquanto respondia um ofício sobre as investigações do possível caso de fura-filas, revelado pelo R7, em fevereiro deste ano. Não fica claro na gravação se a resposta seria enviada à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Assembleia de Minas ou ao Ministério Público Estadual, que apuram as denúncias.


"Estamos recebendo vários pedidos de informação sobre a vacinação e eu estou muito atento às respostas que estão saindo para tentar proteger um pouquinho todo mundo. Na manifestação que temos que responder hoje, me chamou a atenção a forma como ficou escrito", diz o homem durante a reunião.

Explicações


No documento, a Secretaria de Saúde deveria indicar o nome dos servidores vacinados e apontar quais deles estavam em regime remoto de trabalho antes da imunização e quais ainda permanecem.

[A resposta] "fala que dois trabalhadores mantêm regime de teletrabalho. Ela tenta explicar que é de forma escalonada, por vezes presencial, mas a minha opinião, quando leio isso no cenário que vivemos, acho que tem uma chance muito grande de vocês dois serem expostos por causa da forma como está colocado aqui", diz a voz atribuida ao chefe de gabinete.


Como solução, ele sugere colocar no texto que os dois trabalhadores deixaram o sistema remoto devido ao aumento de demandas com a troca na gestão da secretaria. Os trabalhadores concordam e se comprometem a passar trabalhar presencialmente.

"Eu não vejo muito problema, na minha opinião particular, em alguma pessoa ter mais dias de teletrabalho no passado e se organizou de acordo com a necessidade de trabalho, a pandemia deu uma apertada, as pessoas passaram a vir mais [presencialmente], principalmente nas atividades dentro do gabinete. Trocou o secretário, trocou tudo", explica o homem que seria Pinho.

Em outro trecho ele completa: "eu acho que vocês não mudarem o regime para presencial, por mais que tenha o Memorando 7 e a Resolução 7229 não ajuda vocês. Acho que a Josely [promotora Josely Ramos Pontes] e a Controladoria [Geral do Estado] podem pegar para falar ainda mais que a gente estava desorganizado".

"Eu anotei aqui, inclusive, para tentar despachar com o Fábio a possibilidade da gente alterar a resolução. Eu estou com esse receio das pessoas utilizarem isto para nos exporem, contra a gente", conclui.

Em determinado momento da reunião, o homem que se diz ser o chefe de gabinete comenta sobre um episódio que, segundo ele, o governador Romeu Zema teria dito publicamente que a Controladoria Geral do Estado tinha observado a vacinação de trabalhadores em home office. Ele afirma, no entanto, que a CGE não teria repassado esta informação ao governador e que a equipe de Zema teria conversado com ele "para não fazer este tipo de fala".

A resolução 7229, citada durante a reunião, estabelece regras para o retorno das atividades presenciais na secretaria durante a pandemia. O texto indica que apenas 50% dos servidores podem trabalhar presencialmente.

Outro lado

Procurado, o Governo de Minas informou que "tomou conhecimento nesta tarde de áudio de possível reunião realizada entre servidores da Secretaria de Estado de Saúde".

Segundo a equipe do governador Romeu Zema (NOVO), "a veracidade e o conteúdo do áudio serão apurados". "O Governo de Minas reitera seu compromisso com a transparência e reafirma que todas as denúncias relativas ao processo de vacinação de servidores são apuradas por órgãos de controle, com colaboração do governo estadual", conclui a nota.

Procurada a CPI dos Fura-Filas, que investiga o caso na Assembleia de Minas, informou que vai convocar os envolvidos na reunião para prestarem esclarecimentos na condição de investigados.

A reportagem perguntou à Secretaria de Saúde se o chefe de gabinete gostaria de se manifestar sobre os relatos, mas a pasta manteve a resposta enviada pelo Governo de Minas.

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