Riscos em barragens retiram 700 pessoas de casa em duas cidades
Mineradoras Vale e ArcelorMittal colocaram planos de emergência em prática, respectivamente, em Barão de Cocais e Itatiaiuçu
Minas Gerais|Paulo Henrique Lobato, do R7
Cerca de 700 moradores de comunidades rurais em duas cidades de Minas Gerais precisaram deixar suas casas às pressas, na madrugada desta sexta-feira (8), após as mineradoras Vale e ArcelorMittal não descartarem risco de colpaso de barragens.
Em Barão de Cocais, 500 pessoas foram acordadas, por volta de 1h, pela sirene de uma represa da Vale. O áudio do equipamento orientou a evacuação urgente nos povoados de Socorro, Tabuleiro e Piteiras.
Vídeo mostra momento em que barragem de Brumadinho rompeu
Praticamente no mesmo horário, em Itatiaiuçu, a 160 quilômetros de lá e a 35 quilômetros de Brumadinho, uma força-tarefa formada pela Defesa Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros bateu de porta em porta para acordar moradores e retirá-los da comunidade de Pinheiros.
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Barão de Cocais
A cidade colonial está a 100 quilômetros de Belo Horizonte e tem na mineração a principal atividade econômica. A Vale mantém no local a mina Gongo Soco, que tem como uma das represas Sul Superior.
A mineradora informou, em nota divulgada ainda na madrugada, que "a decisão (de acionar a sirene) é preventiva e aconteceu após a empresa de consultoria Walm negar a Declaração de Condição de Estabilidade à estrutura".
Moradores correram a pé ou seguiram em veículos para pontos altos do município.
Veja vídeo gravado por um vizinho à barragem:
Outros foram encaminhados por ônibus da própria empresa para o ginásio poliesportivo.
O chamado nível de risco da barragem, segundo divulgou a prefeitura local, foi de 1 para 2.
Itatiaiuçu
O nível de risco da represa Serra Azul, em Itatiaiuçu, cidade vizinha a Brumadinho, também foi de 1 para 2. Em razão disso, a Arcelor Mittal acionou a Defesa Civil, que pediu apoio da PM e dos bombeiros.
Os agentes foram então à comunidade rural Pinheiros, a cerca de 5 quilômetros da represa, e bateram de porta em porta.
A represa abriga 5,2 milhões de metros cúbicos de rejeitos e tem 90 metros de altura. Os cerca de 200 moradores foram levados para a praça da cidade e, de lá, para um hotel no município vizinho de Itaúna.
Abaixo, confira as notas das duas mineradoras:
Nota da Vale:
"A Agência Nacional de Mineração (ANM) determinou a evacuação de área à jusante da barragem Sul Superior da mina Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), depois de ser informada pela Vale que a empresa estaria dando início ao nível 1 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM).
A Vale ressalta que a decisão é preventiva e aconteceu após a empresa de consultoria Walm negar a Declaração de Condição de Estabilidade à estrutura.
A ação teve início na madrugada de hoje (8/2) e vai abranger cerca de 500 pessoas nas comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras, todas situadas na cidade de Barão de Cocais, distante 100 km de Belo Horizonte.
Como medida de segurança, a Vale está intensificando as inspeções da barragem Sul Superior. Também será implantado equipamento com capacidade de detectar movimentações milimétricas na estrutura.
A Vale está trazendo consultores internacionais para fazer nova avaliação da situação no próximo domingo (10/2)".
Nota da ArcelorMittal:
Após informar e discutir a situação com as autoridades locais, chegou-se ao entendimento de que a comunidade de cerca de 200 pessoas situada a jusante da barragem deveria ser evacuada como medida de precaução.
A ação decorre de uma inspeção e auditoria minuciosas da barragem de rejeitos, que foram realizadas após os recentes incidentes acontecidos no setor de mineração, no Brasil. Empregando uma metodologia mais conservadora, a auditoria independente responsável pela declaração de estabilidade revisou o último relatório e adotou para a barragem um Fator de Segurança (Factor of Safety ou FoS) mais restritivo.
A ação segue a atualização de uma avaliação feita no local, contratada pela ArcelorMittal Mineração e realizada por auditoria independente. A avaliação incluiu testes de stress feitos na barragem de Serra Azul, a partir de dados e aprendizado decorrentes dos eventos da barragem do Feijão, em Brumadinho. Baseado na variação do fator de segurança, a decisão tomada foi de evacuar todos os residentes enquanto testes adicionais estarão sendo tomados e qualquer medida de mitigação possa ser implementada. O trajeto histórico a ser seguido pelo fluxo, em caso de colapso, avaliado quando a barragem estava ativa, era de aproximadamente de quatro a cinco quilômetros.
Esta é uma medida puramente de precaução, visto que a comunidade se situa a 5 km de distância da barragem. A empresa concluiu que não se pode correr absolutamente nenhum risco, e que, apesar do transtorno para a comunidade, esta é a decisão correta.
A comunidade está sendo transferida para acomodações temporárias. Os membros da comunidade permanecerão acomodados no novo local enquanto testes adicionais estão em andamento e até que a segurança da barragem de rejeitos possa ser 100% garantida.
O senhor Benjamin Baptista, CEO (Presidente) da ArcelorMittal Brasil, declarou: 'Pedimos desculpas à comunidade local pelo transtorno; porém sabemos que esta é a decisão correta e sem dúvida a única decisão que poderíamos tomar. As autoridades locais concordaram. Procuraremos retornar as pessoas para suas casas o tão logo possível, embora à esta altura não seja possível dizer quando será. Especialistas continuam a inspecionar e analisar as condições da barragem de rejeitos e, no caso de terem que ser implementadas novas medidas para maior garantia da barragem, isso será feito o mais rapidamente possível. Agradecemos a compreensão dos empregados e da comunidade, neste momento difícil'.
Sebastiao Costa Filho, CEO da ArcelorMittal Mineração Brasil, disse: 'Nossa absoluta prioridade é assegurar que nosso pessoal e a comunidade estejam seguros. Manteremos constante contato com aqueles afetados para mantê-los atualizados sobre a situação. Tão logo tenhamos mais informações, faremos novos pronunciamentos. Gostaria de agradecer a todos os afetados – esta é claramente uma situação difícil e esperamos que ela seja resolvida o mais rapidamente possível.”