Vale não informou que funcionários teriam 1 minuto para fugir de lama
Declaração foi feita pelo técnico em elétrica da Vale, Moisés Clemente, durante depoimento na CPI da Assembleia Legislativa de Minas Gerias
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
Um funcionário da Vale afirmou, na manhã desta quinta-feira (1°), que trabalhadores da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, não sabiam que, caso a barragem de rejeitos rompesse, a área administrativa da empresa seria atingida em menos de um minuto.
Em junho, Sérgio Freitas, funcionário da empresa Walm, responsável por elaborar o PAEBM (Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração), confirmou que o tempo de fuga era previsto no documento.
Moisés Clemente, técnico em elétrica da empresa, contou que ele e outros colegas não sabiam da informação. Ele prestou depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que investiga a tragédia. Durante a reunião, o homem se emocionou ao lembrar dos amigos que morreram no colapso. Entre eles, uma pessoa com deficiência que trabalhava no local.
De acordo com o relator da comissão, deputado André Quintão (PT), o depoimento também indica que a mineradora Vale tinha outras opções de local para instalar o refeitório da empresa, que ficava logo abaixo da barragem 1, levada pelo lamaçal.
— A fala dele revela que, em outro período, havia outro refeitório alternativo naquele complexo. Então havia alternativa para que os trabalhadores não ficassem submetidos ao risco da lama em um prazo tão curto.
Procurada pela reportagem, a Vale disse que não comenta investigações em andamento.
A comissão já ouviu mais de 100 pessoas e teve acesso a mais de 1.000 páginas de documentos durante as investigações. Mais funcionários da mineradora serão convocados para prestar novos depoimentos na próxima semana. Segundo Quintão, a expectativa é de que o relatório final do grupo seja apresentado até o dia 12 de setembro.
— Temos convicção de que a Vale tinha condições de verificar as condições de instabilidade da barragem e não adotou o princípio da precaução.