Carro elétrico polui mais do que os veículos convencionais?
Descarte da bateria dos eletrificados não seria prejudicial, porque há "incentivo econômico" para a reutilização em outras produções
MonitoR7|Johnny Negreiros, do R7*
É possível dizer que há consenso entre a maioria dos cientistas de que o carro elétrico (EV, na sigla em inglês) emite menos gases poluentes que o veículo a combustão.
Mas circula na internet a afirmação de que o EV polui mais que o veículo com motor a combustão. Isso se daria por causa do descarte das baterias dos eletrificados, o que prejudicaria o meio ambiente. No entanto, isso é falso.
O impacto na natureza de baterias de celulares e computadores ou pilhas de controle remoto, por exemplo, é, sim, negativo. Quando jogadas fora de maneira inadequada, podem contaminar o solo e águas subterrâneas.
Esse processo ocorre porque esses materiais possuem toxinas, como chumbo e mercúrio. São substâncias que podem causar danos à saúde do ser humano e resultar em doenças.
Porém, o mesmo não ocorre com as baterias dos carros elétricos. Adalberto Maluf é presidente da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico). Para ele, é “importante desmistificar” esse assunto.
Isso porque, segundo o especialista, há “incentivo econômico” para reutilizar as baterias de carros elétricos em outras produções. Porém, esse fênomeno não ocorre nas baterias convencionais, já que seu processo de reciclagem é caro.
“O preço do lítio não para de subir, do níquel… todos esses insumos estão subindo. Então, isso permite que o material seja reciclado”, disse.
De forma semelhante, David Ricardo, sócio-fundador da Elev, empresa especializada no setor da eletromobilidade, explica:
“Quando [a bateria] chega nesse estágio de que não é possível mais ser usada no carro elétrico, ela já pode ter um segundo uso na própria geração de energia. Então, pode-se aproveitar uma bateria do carro elétrico para que se use de maneira estacionária, em sistemas energéticos, de uma forma geral.”
Por sua vez, Maluf cita dois exemplos de iniciativas que contam com baterias reutilizadas. A primeira é a CPFL Energia, que tem parceria com a faculdade Unicamp.
A outra foi o evento Salão do Automóvel, tradicional na cidade de São Paulo. “Tivemos estandes de afiliadas nossas que foram abastecidas só com bateria de segunda vida.”
Além disso, Adalberto Maluf lembra que as baterias do veículos elétricos duram mais. Nessa estimativa de tempo, contando com sua reutilização.
"A gente está falando de 20, 30 anos de vida útil da bateria, normalmente. Ela vai ficar dez anos, 15 anos no veículo, depois ela será reaproveitada pelo sistema estacionário de energia. É uma bateria que dura ali mais dez a 15 anos junto com o painel solar”, explica ele.
Polêmica sobre o etanol
No mês passado, houve uma polêmica sobre o assunto. Carlos Tavares, presidente da Fiat, disse que “o brasileiro não precisa do carro elétrico”.
O executivo argumentou que o país tem forte produção de etanol, que é menos poluente que os combustíveis fósseis. Assim, o óleo seria mais viável que os EVs.
Já para Ricardo David, o modelo híbrido, que junta elétrico com combustão, “parece o parceiro perfeito para conduzir o Brasil para a transição energética”.
“Os carros elétricos possuem, em média, apenas 35% dos componentes dos veículos a combustão, o que já nos sugere que, para produzir um carro, mesmo movido a etanol, precisaremos emitir mais poluentes do que o equivalente elétrico”, diz.
“Na sua operação, um veículo elétrico não emite poluentes, enquanto que veículos a etanol normalmente admitem a versão Flex, o que permite o uso da gasolina, acarretando geração de gases de efeito estufa”, complementa ele.
Ele acredita, ainda, que o EV é “muito mais econômico”.
“Considerando um percurso de 400 km, em uma estrada bem pavimentada, um carro elétrico consumirá uma energia aproximada de 40 kWh, que custará aproximadamente R$ 32,00”, finaliza.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Vinhas.