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Checamos: Amazônia queima mesmo sendo úmida

Dados e pesquisas comprovam o que o presidente da República insiste em negar

MonitoR7|Diego Alejandro, do R7*

Área desmatada da floresta amazônica na região de Porto Velho (RO)
Área desmatada da floresta amazônica na região de Porto Velho (RO)

“Você pode jogar um galão de gasolina lá na mata que não pega fogo. A floresta é úmida." Assim foi descrita a Amazônia pelo atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), em live nas redes sociais. A declaração já é recorrente nos discursos do presidente, que a usa para responder a críticas sobre a política ambiental do governo e o combate, ou a omissão, às queimadas na região.

Em comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente, o MonitoR7 conversou com Carlos Nobre, pesquisador aposentado do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e membro da RECN (Rede de Especialistas em Conservação da Natureza), que explicou que a Amazônia, mesmo sendo úmida, queima — e vem queimando mais que o normal.

De acordo com Nobre, a floresta amazônica é, de fato, mais resistente ao fogo, principalmente comparada a biomas mais secos (como o cerrado, onde incêndios originados por fatores naturais são importantes e contribuem para a germinação de sementes). Poucos raios solares passam pela vegetação densa da região, o que diminui a evaporação da água e torna o interior da mata muito úmido.

Esse é um projeto de adaptação de milhões de anos. "Raízes de até 15 metros puxam água das profundezas, umidificam o ar e baixam a temperatura, fazendo até chover em estações típicamente secas. Portanto, em queimadas naturais, o fogo não se propaga", explica.


O problema é que essa regra vale para matas primárias, ou seja, intocadas. "Infelizmente, é algo que mudou muito. Na ditadura militar, iniciou-se esse modelo de desenvolvimento da Amazônia, que via as árvores como obstáculos ao desenvolvimento. Elas tinham que ser cortadas, eliminadas, queimadas, porque as cinzas da queima das árvores traziam os fertilizantes para as pastagens da pecuária", diz.

"Hoje, 21% da Amazônia já sofreu remoção da vegetação nativa e mais uns 17%, quase 800 mil quilômetros quadrados, já sofreram vários estágios de degradação", acrescenta Carlos Nobre.


Esses dados vão ao encontro da devastação anunciada pelo Inpe no ano passado e, mais uma vez, vão contra as declarações do presidente. Na mesma época em que saiu a pesquisa, Bolsonaro disse que mais de 90% da Amazônia estava preservada e "exatamente igual a quando o Brasil foi descoberto".

Em pesquisas mais recentes, o Inpe identificou 2.308 focos de incêndio no bioma amazônico, um aumento de 96% em relação ao mesmo mês do ano passado (1.116 focos) e o maior índice desde maio de 2004 (3.131).


O Inpe também mostrou que os alertas de desmatamento na Amazônia em abril atingiram 1.012,5 km² da floresta. Foi a primeira vez que o desmatamento ultrapassou a casa de 1.000 quilômetros quadrados em um dos primeiros quatro meses do ano.

Já o Greenpeace calcula que, nos últimos três anos, sob a gestão Bolsonaro, o Brasil teve um aumento de 52,9% no desmatamento em comparação com os registros dos três anos anteriores (2016-2018).

“Esses números não são uma exceção, fazem parte de uma tendência de destruição ambiental nos últimos três anos que é resultado de uma política deliberada do governo”, disse Maurício Voivodic, do WWF-Brasil, ao portal Deutsche Welle.

Enquanto a floresta amazônica sofre, segundo Voivodic, o governo federal segue em seu esforço para “fingir que está fazendo alguma coisa”.

A novidade é a criação de uma “Câmara Consultiva Temática” para “qualificar os dados de desmatamento e incêndios, a fim de diferenciar crimes ambientais de outras atividades”.

De acordo com resolução publicada na última quinta-feira (2) no Diário Oficial da União, o órgão será coordenado conjuntamente com o Ministério de Ciência e Tecnologia e terá representantes dos ministérios da Agricultura, Defesa, Economia e Justiça. O grupo deixa o Inpe de fora, que também foi excluído da divulgação de dados sobre queimadas no país pelo governo.

Em nota, o Ministério do Meio Ambiente declarou que a resolução “prevê a qualificação dos dados publicados e já fornecidos pelo Inpe” e que “por isso a Câmara Consultiva é composta por órgãos que possuem outras bases de dados”.

Ficou em dúvida sobre uma mensagem de aplicativo ou postagem em rede social? Encaminhe-a ao MonitoR7. Nós a checamos para você: (11) 9 9240-7777.

*Estagiário do R7, com edição de Raphael Hakime

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