Consumo de alimentos alcalinos traz imunidade contra a Covid-19?
Mensagem viral lista uma série de alimentos que tornariam as pessoas imunes à doença
MonitoR7|Do R7
Imagem viral em grupos de mensagens traz a afirmação de que a “Covid-19 é imune a organismos com um pH maior que 5,5”. Em seguida, há uma lista alguns alimentos, como limão e alho, que combateriam o vírus da Covid-19, por serem alcalinos. Ou seja, por terem um pH maior que esse índice. O pedido de checagem dessa informação foi feito por um leitor do Monitor7.
Na publicação, é dito que o consumo dos alimentos alcalinos seria necessário para que "nos ajudem a aumentar o nível de pH, para combater o vírus". E, na sequência, aparece uma lista de alimentos com os números que representariam o pH de cada um deles.
As informações são falsas e, além disso, estão apresentadas nessa imagem com uma série de erros científicos e até de sentido. A mensagem que recebemos é uma espécie de pequeno cartaz com as informações, fácil de compartilhar.
Aparentemente, trata-se de um resumo de outras publicações falsas com informações semelhantes, que já foram negadas por várias agências de checagem, pelas secretarias estaduais de Saúde de São Paulo, do Ceará e de Alagoas e até pelo Ministério da Saúde.
Em primeiro lugar, vamos explicar a teoria por trás dessa questão. O pH é uma sigla para potencial hidrogeniônico. Ou seja, a concentração de hidrogênio em alguma solução. O pH é medido numa escala de 0 a 14, com o meio da tabela (7) determinando um nível neutro. A solução é considerada mais ácida quanto mais o pH seja próximo de 0. E mais alcalina (ou básica) quanto mais próximo de 14.
Na tabela que consta na imagem, todos os alimentos mostrados estão com o número do pH errado. O limão, por exemplo, é apresentado como se tivesse um pH alto, de 9,9. No entanto, seu verdadeiro valor de pH é 2,17.
No caso do abacate, é ainda pior, pois é sinalizado que ele tem um pH de 15,6, sendo que a tabela de medição vai até 14. Na verdade, o pH da fruta é de 6,59. Segundo estudo apresentado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), todos os alimentos citados na mensagem têm pH ácido que varia entre 2 e próximo de 7.
Somado a isso, também não é verdadeira a informação de que a ingestão de alimentos é capaz de aumentar o pH do corpo humano. A médica infectologista Raquel Stucchi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que o pH do sangue no corpo humano é “levemente básico”, na faixa de cerca de 7,35 a 7,45.
A infectologista também explica que a ingestão de alimentos não consegue alterar o pH do sangue, pois as células não sobreviveriam em um ambiente que tivesse um pH diferente, já que o corpo humano possui mecanismos para manter seu equilíbrio interno.
Todos esses erros parecem ter sido copiados das publicações com o mesmo teor que, como dissemos assim, já foram várias vezes desmentidas. Mas a imagem que checamos, a pedido do leitor, tem alguns erros de sentido também, que parecem ser exclusivos.
Para começar, diz que a "Covid-19 é imune". Ou seja, usa o nome da doença (Covid-19) para se referir ao vírus (Sars-CoV-2). Além disso, diz que o vírus é "imune" a organismos com PH maior que 5,5. Imune significa "que não é afetado por". É o contrário do que todo o restante da mensagem afirma.
Ou seja, como boa parte do material produzido para desinformação, esse contém erros de português e apelos exagerados para o compartilhamento das informações. As outras publicações que também são divulgadas com o mesmo teor de informações ainda lançam mão de outra estratégia: usar um nome de uma instituição ou um estudo científico que dê credibilidade às informações.
Nos casos citados, uma das publicações afirma que as informações são de um "Virology Center de Moscou", cuja existência não pôde ser comprovada. Em outra, é citado um estudo do Journal of Virology, da American Society of Microbiology. Um estudo que realmente existe, mas que é de 1991, trata de outro tipo de coronavírus e que, mesmo assim, não afirma em nenhum momento que alimentos alcalinos combatem o vírus.
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