É tudo mentira: cinco distorções da realidade que o cinema nos mostra há anos e nem tínhamos percebido
Para prender a audiência e dar mais impacto às cenas, indústria do entretenimento passa por cima das descobertas científicas
MonitoR7|Letícia Dauer, do R7
Para conquistar o público, é comum que a indústria cinematográfica use diferentes recursos narrativos e audiovisuais, chegando até mesmo a contar pequenas mentiras e a distorcer fatos científicos. Tudo em prol da audiência.
Pensando nisso, o MonitoR7 identificou cenas que só são possíveis graças à criatividade dos profissionais de cinema e os desmistificou com a ajuda da ciência. Confira a lista abaixo.
Tem som no espaço?
Além das lutas com sabre de luzes, a franquia Star Wars, de George Lucas, é famosa pelas homéricas batalhas intergaláticas. Desde o lançamento do primeiro filme, em 1977, essas cenas se consolidaram no imaginário popular, inclusive com as explosões de naves e estações espaciais como a Estrela da Morte, do vilão Darth Vader.
Contudo, se as batalhas acontecessem fora do universo ficcional, não seriam tão emocionantes, pois, no espaço, reina o silêncio.
De acordo com o Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo, o som é uma onda mecânica que precisa de um meio para se propagar. Esse tipo de vibração é transmitida através do ar e de outros materiais líquidos ou sólidos.
Como no espaço tem vácuo, que significa a ausência de matéria, nenhum tipo de som consegue se propagar. Os combates de Star Wars, portanto, teriam menos graça em nossa realidade.
Tiroteio na água
Outra mentira contada pelo cinema é sobre as pessoas que são atingidas por tiros embaixo d’água, como em piscinas ou no mar. Em O Resgate do Soldado Ryan (1998), o capitão Miller recebe a missão de comandar um batalhão, durante o final da 2ª Guerra Mundial, para resgatar o soldado James Ryan.
Os primeiros minutos do filme são dedicados a mostrar o desembarque do grupo em uma praia na Normandia, região litorânea francesa. No combate contra os alemães, alguns militares tentam fugir dos tiros, mergulhando no mar, e mesmo assim são baleados. Na realidade, dificilmente uma pessoa seria ferida por um projétil dentro da água.
O ex-diretor do Instituto de Criminalística de São Paulo, Adilson Pereira, conta que a água é 800 vezes mais densa do que o ar, por isso quando o projétil muda de ambiente, sofre uma intensa desaceleração.
O projétil de uma arma de calibre .50, por exemplo, de uso restrito das Forças Armadas, tem a velocidade de 850 m/s no ar. Quando o tiro atinge a água, a velocidade é reduzida em 10 vezes, para 85 m/s.
Pereira explica que uma pessoa só poderia ser atingida se estivesse na superfície da água.
Segundo o perito criminal, outra dificuldade para o atirador é a refração da luz na água, que provoca distorções da imagem. Ao observar alguém dentro do mar, como é no caso do filme do diretor Steven Spielberg, o soldado parece estar no raso, porém, na realidade, está posicionado mais profundamente.
Não é possível desmaiar tão rápido
Uma cena clássica do cinema, inclusive em novelas brasileiras, é o sequestro de vítimas com o uso de clorofórmio. Geralmente, o vilão derrama a substância em um pedaço de pano e obriga o personagem a inalá-la, provocando o desmaio em alguns segundos.
Em As Aventuras de Tintim (2011), também de Steven Spielberg, não é diferente. Durante a busca por um tesouro perdido, o jovem repórter Tintim é sequestrado em uma ação rápida pelos cúmplices do doutor Ivan Ivanovitch Sakharine, que tentam impedir seus planos.
Segundo a perita criminal aposentada e professora da Academia de Polícia do Estado de São Paulo, Celia Maria Castro Corrigliano, não é tão fácil desmaiar com o clorofórmio como acontece nas grandes telonas.
A substância é um anestésico que provoca a depressão do sistema nervoso central, ou seja, os nervos sensitivos deixam de exercer suas funções e a sensação de dor é reduzida.
Dependendo da quantidade e do tempo de exposição, a substância pode levar à morte por arritmia cardíaca e insuficiência respiratória, ainda alerta a perita criminal.
Além dos efeitos provocados pelo produto, Celia Corrigliano explica que ao coagir a vítima a cheirar o pano embebido pela substância tóxica, as vias nasal e oral são obstruídas. Por consequência, o fornecimento de oxigênio do sangue é cortado, levando a hipóxia cerebral. Nessas condições, uma pessoa pode morrer em 3 a 5 minutos.
Silenciadores emitem som
Em filmes de ação, como John Wick, De Volta ao Jogo (2014), é comum os personagens usarem silenciadores em armas de fogo para pegar de surpresa seus alvos. No mundo cinematográfico, o dispositivo é responsável por neutralizar o som.
O ex-diretor do Instituto de Criminalística de São Paulo, Adilson Pereira, explica que o equipamento acoplado no final do cano da arma funciona como um abafador de ruídos e não é tão eficaz como aparece nos filmes.
Além de haver barulho, o dispositivo ainda prejudica a eficiência do tiro.
De acordo com informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública, as armas de fogo utilizam a força dos gases gerada pela queima da pólvora para lançar um projétil. Elas são máquinas térmicas e funcionam como motores dos carros e caldeiras.
Durante o disparo, a bala é lançada pelo orifício da arma e parte do gás ejetado em expansão atrás dela é retida pelo silenciador. Isso desacelera o gás e dissipa sua energia cinética, reduzindo a intensidade da explosão e, por consequência, o barulho.
O perito criminal ainda diz que o uso desse dispositivo diminui a eficiência do disparo em relação à velocidade e distância. Por isso, é comum que os atiradores optem por armas de maior potência nas ocasiões em que usam o silenciador.
Ovo cru não é recomendado por especialistas
Dirigido por Breno Silveira, o filme brasileiro Dois Filhos de Francisco (2005) conta a história dos irmãos Mirosmar José de Camargo e Welson David de Camargo, mais conhecidos como a dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano.
Durante a infância, o pai dos meninos, de Pirenópolis, no interior de Goiás, se desdobrava para torná-los famosos. Em uma das cenas marcantes do longa-metragem, ele obriga os filhos a tomarem ovo cru com intuito de melhorar suas vozes.
A fonoaudióloga Vanessa Pedrosa explica que não existe nenhum estudo científico que comprove a eficácia do ovo para quem deseja cantar bem. O consumo desse alimento não passa de um mito e está relacionado ao canto do galo.
“O ovo, nessa obra, foi uma boa representação da cultura popular e da falta de preparo que o Zezé teve no começo da vida de cantor. Devido à situação de extrema pobreza, o pai dele recorreu ao que tinha na mão, inclusive a crença popular.”
A fonoaudióloga ainda alerta que o ovo cru pode trazer riscos para a saúde como a salmonella, um tipo de bactéria que contamina alimentos mal cozidos. Caso ingerida, pode causar intoxicação alimentar. Diarreia, cólicas fortes e febre são alguns dos sintomas da doença.
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