É verdade que 6,5 mil trabalhadores morreram em obras para Copa no Catar? Duvidoso
Denúncias de abuso, especialmente de operários vindos de outros países, rondam a competição que começa já neste domingo (20)
MonitoR7|Do R7
![Obras para a Copa do Mundo do Catar são motivo de controvérsia no mundo](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/U66UMTFWAJLCXEKASQ7KLJ57OE.jpg?auth=e3d06f150dcbee6cf747141e5b5ee690d17e8d29d60cd19f20a0199bec38868c&width=1500&height=942)
A Copa do Mundo no Catar é motivo de controvérsia desde que o país venceu a concorrência para ser sede do torneio, em 2010. Denúncias relacionadas a violações de direitos humanos, especialmente de trabalhadores migrantes, surgiram na imprensa internacional, junto de um número assustador: 6,5 mil destes operários vindos de fora do país morreram durante as obras para o Mundial.
No entanto, não é bem assim. A fonte dessa "informação", que rapidamente se espalhou e foi replicada em muitos países, foi o conceituado jornal britânico "The Guardian", que publicou a seguinte matéria em fevereiro de 2021: "Revelado: 6.500 trabalhadores migrantes morreram no Catar enquanto o país se prepara para a Copa".
Depois, o título mudou para o atual: "Revelado: 6.500 trabalhadores migrantes morreram no Catar desde que o país recebeu o direito de sediar a Copa." A mudança parece pequena, mas representam coisas distintas.
O primeiro título usado pelo jornal britânica cravava que as 6,5 mil mortes se deram na construção de estádios e infraestrutura para a Copa do Mundo. O título alterado indica outra coisa: 6,5 mil pessoas morreram no Catar entre 2010 e 2020, período de 10 anos desde que o país foi escolhido com sede.
![](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/5Y3OEERYCJJ2JIW7I2UQM3HRYM.jpg?auth=f3850360c7fc169a87ec96f3eaccea8badf9f3a297a4e330103ff39f25888e0a&width=1500&height=1676)
Entre os problemas centrais na publicação do "The Guardian" está o fato de que o primeiro título faz uma conexão direta entre as mortes de migrantes e as obras para a Copa, mas, no texto em si, essa relação é frágil. "É provável que muitos trabalhadores que morreram tenham sido empregados nesses projetos de infraestrutura da Copa".
A única fonte citada é Nick McGeehan, diretor de um escritório de advocacia especializado em direitos trabalhistas no Golfo, que afirma: "Uma parcela significativa dos trabalhadores migrantes que morreram desde 2011 só estavam no país porque o Catar ganhou o direito de ser sede da Copa do Mundo". Na época, dados oficiais do governo do Catar indicavam cerca de 37 mortes ligadas à Copa, sendo que 34 eram 'não-relacionadas ao trabalho'.
Outro ponto fundamental é de que a matéria do jornal britânico não confronta esse número com taxas de mortalidade do país, logo não há como saber se esse número é excessivo ou não. Não há como saber se esse número é uma anomalia de fato. Isso não significa que as condições de trabalho para migrantes no Catar sejam exemplares, muito pelo contrário.
Leia mais: Copa no Catar: ONGs e embaixadas denunciam mortes suspeitas e exploração de trabalhadores
Organizações exigem que Fifa indenize famílias
A Anistia Internacional, a Human Rights Watch e outras oito organizações iniciaram em maio deste ano uma campanha para que a Fifa pague US$ 440 milhões (R$ 2,3 bilhões) a um fundo responsável por indenizar milhares de trabalhadores envolvidos nas obras da Copa do Mundo.
“Em 2010, quando a Fifa deu ao Catar o direito de sediar a Copa do Mundo, estavam bem documentados os abusos trabalhistas e a exploração abundante nesse país. Os direitos aos trabalhadores migrantes, que formam cerca de 95% da força de trabalho do Catar, eram severamente limitados pelo sistema kafala de patrocínio do país e minado pelos esforços pobres das leis trabalhistas”, destaca o grupo de organizações.
As instituições ainda ressaltam que a Fifa estima uma receita de US$ 6 bilhões (R$ 32 bilhões) com a Copa do Mundo de 2022, o que torna os US$ 440 milhões exigidos uma “pequena porcentagem”.
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O maior sonho de um jogador de futebol é, sem dúvidas, jogar uma Copa do Mundo. Não por acaso, os atletas que têm a expectativa de ser convocados têm uma preocupação ainda maior para não se machucarem. Mas já imaginou ser cortado de uma Copa por causa de um frasco de perfume? Entenda essa história!