Governo planeja vacinação em massa contra a varíola do macaco? Falso
Diferentemente do que aconteceu em relação à Covid, especialistas declaram que, por ora, imunização será direcionada a grupos específicos
MonitoR7|Yasmim Santos*, do R7
Desde que a varíola do macaco (monkeypox) começou a apresentar um aumento exponencial de casos, chegando a ser responsável por um óbito no Brasil (um dos primeiros fora do continente africano, onde a infecção é endêmica), diversas pessoas questionaram sobre a necessidade de vacinação da população contra a doença.
As primeiras vacinas contra o vírus monkeypox devem chegar ao país em setembro, de acordo com o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros. Ele afirma que serão, inicialmente, cerca de 21 mil doses, mais 29 mil em novembro, "ou vice-versa", o que significa um estoque extremamente limitado.
Nas redes sociais, muitas pessoas ironizam e levantam dúvidas sobre uma nova campanha de vacinação em massa contra a doença, como ocorreu com a Covid-19. Porém, as situações são completamente diferentes.
O vírus monkeypox é disseminado, principalmente, pelo toque direto em pessoas infectadas, diferentemente do vírus causador da Covid.
O coronavírus é transmitido por gotículas e aerossóis – produzidos quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala – que ficam suspensos no ar. Essas partículas cheias de vírus podem pousar na boca ou nariz ou, possivelmente, ser inaladas para os pulmões.
Sendo assim, a Covid-19 é transmitida, sobretudo, em ambientes fechados (sem o uso de máscara) ou por meio de uma conversa mais próxima com um infectado. A varíola do macaco não se espalha tão facilmente, pois a disseminação depende de contato prolongado.
"O vírus [monkeypox] se transmite, principalmente, pelo contato pele com pele de pessoas que estão com lesões. Pode haver transmissão por gotículas, mas é menos importante que o contato com a pele, e também pode haver transmissão aérea, mas é menos importante que o contato por gotículas, que é menos importante que o contato de lesão pele com pele", observa o infectologista Alexandre Naime Barbosa, coordenador da infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Como o contato direto com as lesões é a principal forma de infecção pela varíola do macaco, neste momento, a vacinação vai contemplar os grupos que estão mais suscetíveis a essa situação.
Pessoas que receberão a vacina
A OMS (Organização Mundial da Saúde) orienta que os profissionais da saúde que cuidam dos casos da doença e os pesquisadores laboratoriais devem ser vacinados neste primeiro momento.
Os demais grupos populacionais devem receber o imunizante apenas em caso de exposição ao vírus.
A chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e assessora da OMS (Organização Mundial da Saúde), Clarissa Damaso, explicou em entrevista à Agência Brasil que isso ocorre pois a estratégia utilizada é a vacinação em anel – as pessoas que vivem e/ou tiveram contato com um paciente positivo são vacinadas para tentar bloquear a disseminação do vírus, pois a "vacina funciona muito bem até quatro dias pós-infecção".
A especialista complementa que não há, agora, vacina para todos e a produção mundial ainda vai levar tempo.
"Os fabricantes não tinham previsão de produção para uma doença que afetasse o mundo todo. A produção era exclusivamente para estoque estratégico de países que têm programas de biodefesa. O Brasil, como várias outras nações, não tem isso", explicou a assessora.
Neste momento, a doença se concentra entre HSH (homens que fazem sexo com homens), embora possa afetar qualquer pessoa – já há casos de crianças e grávidas infectadas, por exemplo.
Alexandre Barbosa, entretanto, considera que o grupo HSH poderia ser imunizado, a exemplo do que já está sendo feito em países como os Estados Unidos, onde há mais vacinas disponíveis.
"No primeiro momento, as populações mais vulneráveis, como os homens que fazem sexo com homens e pessoas imunossuprimidas devem ser imunizados", informa.
O infectologista orienta que as pessoas mais velhas não estão inseridas nesse percentual "porque [elas] já se vacinaram com a vacina da varíola humana, então têm algum grau de proteção. Cerca de 85% das pessoas que já foram vacinadas com a varíola humana estão protegidas contra a monkeypox".
Diante disso, em setembro, a vacinação contemplará, provavelmente, os profissionais de saúde, pesquisadores laboratoriais e pessoas expostas ao vírus monkeypox.
Os demais grupos podem ser imunizados depois, mas ainda não há nada definido, portanto os cuidados dessa parcela, neste momento, tendem a continuar preventivos.
* Estagiária do R7 sob supervisão de Fernando Mellis
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