Indianos estão colocando fogo em antenas 5G?
Postagens usam vídeo com torre em chamas e afirmam que imagens são de protestos na Índia contra a rede de telefonia 5G
MonitoR7|Do R7

Imagens de uma torre de telefonia em chamas se tornaram recorrente nas redes sociais e em mensagens, principalmente nos aplicativos Telegram e Twitter. As publicações, em sua maioria, informam que os indianos estariam "tacando fogo" nas antenas 5G da Índia. O motivo seria a rejeição ao novo tipo de sinal de internet móvel.
Outras mensagens dão mais detalhes. Uma delas, que foi amplamente divulgada no ano passado, aponta que, na Índia, "antenas 5G estão sendo destruídas em diversos lugares, devido a radiação". Somando-se as visualizações dessas postagens, o número ultrapassa os 14 mil.
O vídeo usado nestas mensagens, no entanto, não tem nenhuma relação com a rede de telefonia com tecnologia chamada de 5G. Trata-se de uma ocorrência de 2018. O vídeo foi originalmente publicado em 27 de janeiro daquele ano, no YouTube, pelo canal de notícias HindiXpress. E ele não poderia retratar o incêndio de uma torre de 5G pelo simples motivo de que não há nenhuma torre com essa tecnologia instalada na Índia.
"Atualmente não há testes 5G em andamento no país e nenhuma torre 5G foi instalada", esclarece a Associação de Operadores de Celular da Índia (COAI, na sigla em inglês), entidade representa os provedores privados de serviços de telecomunicações naquele país. A informação é do jornal local, The New Indian Express.
O incêndio mostrado no vídeo foi em uma torre no bairro de Ribandar, na cidade de Goa Velha, localizada ao Sul de Nova Delhi, capital da Índia. A torre era compartilhada por duas empresas de telefonia (Airtel e Vodafone). E segundo o Corpo de Bombeiros, não se sabe a origem do fogo, que pode ter começado, inclusive, na grama que circunda a torre.
O sinal de tecnologia 5G ainda não foi lançado para o público, na Índia. Em 2018, uma das empresas de telecomunicações que opera no país (Bharti Airtel) iniciou experimentos, sob uma configuração de testes. Em maio do ano passado, o governo indiano concedeu autorização para testes de uso e aplicações da tecnologia, desde que esses testes fossem isolados e não conectados às redes existentes.
A COAI, associação das operadoras, deu esses esclarecimentos à imprensa em razão da circulação de informações, na Índia, de que o início da operação do 5G no país teria relação com uma alta no número de casos de Covid-19 no país. A entidade desmentiu a conexão, por não haver operação comercial de 5G e também porque não há nenhum estudo que ligue esse tipo de tecnologia com a Covid-19.
A COAI reforça que vários países do mundo já implantaram redes 5G e as pessoas estão usando esses serviços com segurança. "Até a Organização Mundial da Saúde (OMS) esclareceu que não há correlação entre a tecnologia 5G e o COVID-19", disse o diretor-geral do COAI, SP Kochhar, em comunicado oficial.
As desconfianças e posições contrárias à instalação do novo sinal de internet não são exclusividade da Índia. Aqui no Brasil também é possível encontrar postagens e mensagens que relacionam a tecnologia a algum tipo de perigo. Há até uma estranha teoria da conspiração que relaciona as vacinas contra covid e a tecnologia 5G. Algumas pessoas chegam a publicar, de forma séria, que o sinal de 5G transformaria as pessoas vacinadas contra covid em zumbis.
Por isso, o MonitoR7 entrou em contato com a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (ABRINT) para esclarecer as questões que envolvem esse tipo de tecnologia.
Primeiramente, a Associação explica que o 5G nada mais é que um novo padrão de tecnologia para equipamentos de telecomunicações das redes móveis (celular) e banda larga. Dentre os benefícios, estão "conexões a internet com maior velocidade, maior capacidade de tráfego de dados e menor tempo de resposta".
Em relação aos prejuízos à saúde, a ABRINT garante que o sinal não oferece nenhum risco à sociedade. "A exposição geral das pessoas fica em níveis muito abaixo daqueles considerados prejudiciais pela Comissão Internacional de Proteção contra Radiação Não Ionizante (ICNIRP, na sigla em inglês)" alega a nota.
Além disso, a Associação afirma que, apesar do número de antenas necessário para o funcionamento do 5G ser maior do que na tecnologia 4G, "o nível de radiação de cada antena será menor, já que vai operar com níveis mais baixos de energia". Assim, as diretrizes internacionais para os equipamentos de 5G prevêem níveis de exposição muito inferiores ao considerado prejudicial à saúde.
A ABRINT até mesmo fala sobre as fake news mais comuns que envolvem o sinal de internet. No caso, uma delas é a de que o 5G utiliza ondas classificadas na faixa de microondas (a mesma do forno de cozinha, por exemplo). Porém, de acordo com a nota da Associação, "os níveis máximos de exposição das redes celulares (5G ou anteriores) são tão pequenos que são incapazes de gerar aumento de temperatura ou efeitos negativos na saúde das pessoas".
No Brasil, a previsão para o sinal começar a funcionar nas capitais e no Distrito Federal é para julho de 2022, segundo a ABRINT. Porém, a entidade confessa que serão necessários "fortes investimentos na infraestrutura de redes das empresas de telecomunicações", já que para um bom funcionamento da redes 5G móveis (sem fio) é necessária uma extensa rede de fibra óptica conectando as antenas.
Por último, a ABRINT aponta que o 5G estreou, comercialmente, no mundo em 2019, com lançamentos de redes nos EUA e Coréia do Sul, seguidos por Reino Unido, Espanha, Alemanha e China. A associação setorial ‘5G Americas’ identifica 207 redes 5G ativas no mundo até o fim de janeiro de 2022, sendo 19 delas na América Latina (incluindo o Brasil, que já tem regiões operando a rede 5G DSS).
Portanto, são falsas as alegações de que as pessoas estão colocando fogo nas antenas de sinal 5G na Índia. O vídeo que circula na internet foi gravado em 2018 e não tem nenhuma relação com o novo sinal de internet móvel. Principalmente porque as torres de sinal 5G ainda nem foram instaladas naquele país. Além disso, o órgão indiano responsável pela regulamentação de telecomunicações já declarou que ali ainda não estão acontecendo testes comerciais de operação da rede 5G.
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