Militares tomaram o poder em 1º de abril de 64, não em 31 de março
A censura que se tornou comum na ditadura começou já na divulgação da data da derrubada de João Goulart, diz historiador
MonitoR7|Diego Alejandro*, do R7
O golpe militar ocorrido no Brasil em 1964 começa com uma fake news. A ditadura se consolidou, ao contrário do que foi propagandeado por muito tempo, no dia 1º de abril, e não em 31 de março. Cinquenta e oito anos após o fato, explicamos por que essa diferença.
Terça-feira, 31, por volta das 5 horas da manhã, em Juiz de Fora, o general de exército Olímpio Mourão Filho realizou diversos telefonemas anunciando a rebelião militar e o grito de marcha para o Rio de Janeiro, onde estava o governo da época, do presidente João Goulart.
"É um processo. Ele se inicia em 31 de março e se efetiva em 1º de abril", explica Sergio Augusto Queiroz Norte, professor de história da FGV (Fundação Getulio Vargas), doutor pela Unesp e pós-douturado na Universidade de Pittsburgh (EUA).
O historiador explica que o que marca a queda do poder por um golpe — no caso, a destituição do presidente constitucionalmente eleito — é a saída de João Goulart, e isso só ocorreu em 1º de abril, data confirmada pelos jornais da época.
Em sua edição de 1º de abril, o jornal O Estado de S. Paulo trazia a informação de que em 31 de março Mourão Filho lançou um manifesto à nação no qual dizia que "o sr. presidente da República há de ser afastado do poder de que abusa, para, de acordo com a lei, operar-se sua sucessão, mantida a ordem jurídica". Fica claro, portanto, que existia até aquele momento apenas a intenção de assumir o poder, mas o objetivo ainda não havia sido alcançado.
Queiroz Norte cita várias obras que ajudam a dar mais detalhes sobre o episódio e confirmam que a data em que as Forças Armadas assumiram o poder foi mesmo 1º de abril. Uma delas é 1964: a Conquista do Estado, de René Armand Dreifuss, e História do Brasil, uma Interpretação, da dupla Carlos Guilherme Mota e Adriana Lopez.
Goulart, para evitar a guerra civil, viajou do Rio de Janeiro para Brasília, depois passou por Porto Alegre, pelo interior gaúcho e finalmente foi para o Uruguai. Os militares controlaram a maioria do país no fim de 1º de abril, e o Rio Grande do Sul no dia 2.
O fato de militares e defensores do movimento comemorarem o dia 31 de março como data da “revolução” é uma tentativa de fugir de brincadeiras. "É óbvio que não cairia bem comemorar no Dia da Mentira", analisa Queiroz Norte.
Existem pontes, viadutos, avenidas, escolas, clubes e outros com o nome 31 de Março, construídos em comemoração ao suposto dia do golpe. Ao mesmo tempo, inúmeros posts todos anos inundam as redes sociais lembrando que os militares só passaram a controlar o país no Dia da Mentira.
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*Estágiario do R7, com edição de Marcos Rogério Lopes.