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OMS afirma que doses de reforço são prejudiciais à saúde?

Comunicado da entidade tem sido usado em postagens como argumento para alegar ineficácia de vacinas e prejuízos ao sistema imunológico 

MonitoR7|Do R7

Postagens que circulam em redes sociais usam comunicado da OMS para alegar ineficácia de vacinas e prejuízos ao sistema imunológico
Postagens que circulam em redes sociais usam comunicado da OMS para alegar ineficácia de vacinas e prejuízos ao sistema imunológico

No dia 11 de janeiro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) publicou, em seu site oficial, um comunicado que aponta a estratégia de repetir doses de reforço de vacinas como algo "improvável" de ter sucesso no combate à Covid-19. Essa declaração da entidade passou a surgir em postagens e mensagens em grupos antivacina como uma comprovação de que a vacinação seria uma estratégia ineficaz contra a doença.

Além disso, declarações feitas durante uma entrevista coletiva da Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) sobre a evolução da pandemia também se somaram a essa argumentação contra a vacinação. O que é curioso, já que a OMS, a EMA, o FDA, a nossa Anvisa e outras agências sanitárias só costumam aparecer nesses grupos para receber críticas.

Um das publicações com esse conteúdo foi enviada ao MonitoR7, com o pedido de checagem de um leitor, por meio do número disponibilizado para contato. Na mensagem que recebemos, consta também um texto sobre o assunto publicado originalmente em um blog. O texto afirma que "a OMS atesta a ineficácia substancial do soro contra as mutações atuais, estimulando a produção de novos medicamentos".

A autora do texto também afirma que a EMA juntou-se à OMS e "alerta que o excesso de reforços deste 'imunizante' pode levar a 'problemas com a resposta imune'”. Já encontramos esse mesmo texto em postagens em várias redes sociais, como o Instagram.


O comunicado da OMS que iniciou essa polêmica é um documento do Grupo Técnico Consultivo sobre a Composição da Vacina contra a Covid-19, formado por pesquisadores independentes, convidados pela OMS. Em nenhum momento o documento afirma que as vacinas atuais são ineficazes nem que elas podem causar algum dano ao organismo.

O que o documento publicado pela OMS defende é que as novas vacinas em desenvolvimento consigam frear a circulação do Sars-CoV-2. O grupo defende ainda uma atualização das vacinas já disponíveis, para que elas garantam proteção contra novas variantes, inclusive a Ômicron. E o documento reforça a crítica já conhecida da OMS à má distribuição das vacinas pelo mundo, com excesso de doses disponíveis em países ricos e falta de doses em países pobres.


Em relação ao posicionamento da agência europeia, a polêmica surgiu com uma entrevista do chefe de Estratégias de Vacinas da EMA, Marco Cavaleri. Ele se manifestou, naquele momento, sobre uma segunda dose de reforço (equivalente à quarta dose da vacina), já prevista em alguns países. 

"Ainda não há dados para embasar essa abordagem", respondeu Cavaleri. Ele afirmou ainda que, embora um reforço adicional pudesse ser considerado uma estratégia de emergência temporária, "a vacinação repetida em um curto espaço de tempo não seria uma estratégia sustentável a longo prazo”.


Em outro momento da entrevista, Marco Cavaleri é questionado sobre o grande número de doses aplicadas em um curto período de tempo. Ele responde que existe a preocupação com o número de doses e uma possível sobrecarga do sistema imunológico, de forma que a resposta imune, depois de tantas doses, já não seria mais "tão boa quanto gostaríamos". Cavaleri aponta ainda uma possível "fadiga na população com a administração contínua de doses de reforço”.

As falas do chefe de estratégia da EMA foram usadas em publicações com discursos antivacina. Cavaleri, porém, não se referia ao enfraquecimento geral do sistema imunológico, mas sim à diminuição da resposta imune do organismo contra o Sars-CoV-2, o vírus causador da Covid. 

Em razão dessa repercussão, a agência divulgou um esclarecimento sobre as falas de Cavaleri. A entidade afirmou que o seu dirigente nunca disse ou insinuou que "doses de reforço repetidas poderiam 'enfraquecer o sistema imunológico'". O sentido das declarações dele é que a "administração repetida de doses de reforço poderia levar a uma diminuição da resposta imunológica (...), o que significa que as vacinas poderiam se tornar menos efetivas”.

Assim, a EMA também nunca atestou que doses de reforço poderiam "danificar o sistema imunológico". Na verdade, as respostas do chefe de estratégia de vacinas da agência foram distorcidas. 

Em relação à possível sobrecarga do sistema imunológico depois de várias doses de reforço, o MonitoR7 entrou em contato com um especialista para esclarecer a questão. Juarez Cunha, médico pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirma que é importante reforçar que os levantamentos ainda são "muito preliminares" e que não existe nenhum apontamento que confirme a hipótese de sobrecarga.

Sobre a quantidade de doses de reforço, Cunha faz uma analogia com outras vacinas para explicar o motivo de serem necessárias outras doses do imunizante para garantir proteção. "A vacina do tétano, por exemplo, a gente toma reforço de dez em dez anos. Já a da gripe é repetida anualmente. Então, elas não levam a uma fadiga do sistema imunológico", diz o pediatra.

O médico afirma também que as vacinas da gripe precisam ser modificadas e atualizadas para combater o vírus do momento e que com os imunizantes contra a Covid vai acontecer o mesmo. "A gente tem que ter vacinas com composições diferentes de acordo com as variantes que estiverem surgindo", afirma Cunha.

Sobre a diferença entre a terceira e a quarta dose, o especialista relembra que a primeira dose de reforço demonstrou resposta imune satisfatória e, de acordo com o estudo de Israel, não foi observado o mesmo sucesso na segunda dose de reforço. Cunha afirma que foi observado um aumento, porém ele não foi tão consistente quanto o da terceira dose. "Então, não é que não tenha elevado a proteção, mas não foi um aumento importante", diz o médico.

Por último, o especialista da SBIm diz que essa discussão — sobre uma eventual quarta dose — ainda nem chegou ao Brasil, já que muitas pessoas aqui não tomaram as primeiras doses e o ideal agora é pensar nelas. "Neste momento, o principal é aumentarmos as coberturas dessa situação, de primeira, segunda e terceiras doses", conclui o médico.

Portanto, são falsas as afirmações de que OMS e EMA consideram as vacinas ineficazes e que elas causam danos. Especialista nega a possibilidade de sobrecarga no sistema imunológico em razão das doses de reforço.

Ficou em dúvida sobre uma mensagem de aplicativo ou postagem em rede social? Encaminhe-a ao MonitoR7 que nós a checaremos para você: (11) 9 9240-7777.

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